Conto : A viagem - Parte 1

A VIAGEM

Quando criança, morava frente minha casa, um velho chamado Diógenes. Bastava atravessar a rua de terra, subir um pequeno barranco e lá estava eu ouvindo as suas histórias. Ele morava com a Eliza, que era conhecida como “Eliza do Otávio”. O povo tinha por hábito chamar as pessoas desse jeito. Parecia que todo mundo era de alguém. Tinha o “Divanil do Germano” o “João do Gusto” a “Mariazinha do Acácio” e assim por diante. A Eliza era uma viúva de três ou quatro maridos. Já tinha enterrado vários, inclusive o Otávio, seu primeiro marido. O companheiro Diógenes talvez fosse o quinto. Do velho eu gostava particularmente, porque ele tagarelava comigo como se fosse adulto. A Eliza já era uma velha mal humorada e lançava em mim olhares nada amistosos, quando lá estava. Eu a ignorava em troco de poder ouvir as historias interessantes do ancião. A vida não trouxe sorte em sua casa e como eu, vivia também na pobreza. Para ela restava somente a casinha com um bom quintal, de onde tirava algum provento, vendendo bananas e algumas verduras. O velho Diógenes funcionava mais como um companheiro, do que como um marido que trouxesse renda. A idade dele também já não permitia fazer algum trabalho, já que naquela época só tinha tarefas pesadas. Ele passava a maior parte do tempo sentado na salinha minúscula de frente para a porta da rua, conversando com as pessoas que às vezes chegavam para um papo mais demorado. As historias eram as mesmas e de minha casa conseguia identificar cada uma. Criança gosta de coisa repetitiva e idoso gosta de repetir com o entusiasmo de coisa nova. Ali sentado deixava passar o tempo como uma goteira, pingando os minutos, as horas e os dias

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