Quando criança, morava frente minha casa, um velho chamado Diógenes. Bastava atravessar a rua de terra, subir um pequeno barranco e lá estava eu ouvindo as suas histórias. Ele morava com a Eliza, que era conhecida como “Eliza do Otávio”. O povo tinha por hábito chamar as pessoas desse jeito. Parecia que todo mundo era de alguém. Tinha o “Divanil do Germano” o “Joãodo Gusto” a “Mariazinha do Acácio” e assim por diante. A Eliza era uma viúva de três ou quatro maridos. Já tinha enterrado vários, inclusive o Otávio, seu primeiro marido. O companheiro Diógenes talvez fosse o quinto. Do velho eu gostava particularmente, porque ele tagarelava comigocomo se fosse adulto. A Eliza já era uma velha mal humorada e lançava em mim olhares nada amistosos, quando lá estava. Eu a ignorava em troco de poder ouvir as historias interessantes do ancião. A vida não trouxesorte em sua casa e como eu, vivia também na pobreza. Para ela restava somente a casinha com um bom quintal, de onde tirava algum provento, vendendo bananas e algumas verduras. O velho Diógenes funcionava mais como um companheiro, do que como um marido que trouxesse renda. A idade dele também já não permitia fazer algum trabalho, já que naquela época só tinha tarefas pesadas. Ele passava a maior parte do tempo sentado na salinha minúscula de frente para a porta da rua, conversando com as pessoas que às vezes chegavam para um papo mais demorado. As historias eram as mesmase de minha casa conseguia identificar cada uma. Criança gosta de coisa repetitiva e idoso gosta de repetir com o entusiasmo de coisa nova. Ali sentado deixava passar o tempo como uma goteira, pingando os minutos, as horas e os dias
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