A viagem. Parte 6
A VIAGEM
Abri o saco e tirei uma bolacha. Ia andando e comendo. Aquilo era para não dar fraqueza, na caminhada. Meus ouvidos eram bons como até hoje, e escutei um barulho ao longe que parecia um galopar de animal vindo por detrás. Tirei do saco o canivete coloquei-o no bolso da calça.
Voltei-me e confirmei que vinha um cavaleiro a toda, a quinhentos metros e diminuindo. Naquela altura da caminhada eu passava por um lugar onde a estreita estrada era ladeada por barrocas profundas e pedregosas Mesmo na estrada havia muitas espalhadas pelo chão amarelo..
Sozinho naquele fim de mundo fiquei com medo de ser algo hostil, mas nada fiz e continuei caminhando mais pelas beiradas, para dar espaço de passagem. O homem em cima do cavalo era o mesmo que me observava na pensão. Ele deu uma meia volta no animal quando me alcançou que chegou a bater em mim o rabo do eqüino. Ainda em cima do cavalo falou:
-----É você que pousou na pensão?
-----Acho que sim. ---- Respondi pensando ter esquecido algo por lá. O individuo desceu rapidamente do cavalo e tirou da cintura um punhal de trinta centímetros que brilhava ao sol. Sua ponta aguda evocava o perigo. Tentei um dialogo procurando saber:
-----O que houve?Porque está me ameaçando?
----- Você ficou com minha mulher esta noite e costumo matar quem faz isso. Já foram uns quatro.
----- Peraí. -----Disse eu me afastando e ficando no meio da estrada----- Eu não tenho culpa. Foi ela que entrou em meu quarto. E nem sabia que tinha marido.
-----Não interessa o que você pensa.
-----Dizendo isso veio para meu lado com uma velocidade incrível, mal dando tempo de um desvio, evitando a ponta do aço. Aquele tempo eu era jovem e também rápido. E atirava uma pedra, como ninguém. A cada investida, me desviava e me aproximava da beirada da barroca. Na próxima, tirei novamente o corpo e ele avançou com todo seu peso, se desequilibrando um pouco ao resvalar o pé em um calhau, a beira do buraco.
Enquanto ele se recompunha, rapidamente peguei uma pedra no chão duro e arremessei em direção a sua testa.
Acertei bem no centro do alvo, causando um baque surdo e desequilibrando o agressor de vez, que caiu com punhal e tudo na enorme barroca. Veio a seguir um silencio total. Até os passarinhos pararam de cantar. Fui até a beirada e constatei que o rapaz estava morto. Caiu com a cabeça sobre uma rocha enorme. Um filete de sangue corria sobre o granito.
Sua mão direita estava próxima do punhal que tinha fincado em uma perna, ao se chocar com o solo. Fiquei muito nervoso com a situação, mas ao mesmo tempo feliz em estar vivo. Minha consciência estava tranqüila, sem culpa de ter provocado a tragédia. Tive que me defender. Toquei o cavalo de volta, dando um tapa em seu dorso. Parece que entendeu e retornou a galope.
Agora minha jornada seria feita, pensando naquilo e nas conseqüências que poderiam advir. Caminhei o mais depressa que pude para me distanciar do local.
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