A viagem. Parte 8
A VIAGEM
Em um lugar daqueles, uma pessoa pode ser assassinada e se for uma hora encontrada, já será tarde demais. E a justiça dos homens, tão distante desses sítios, jamais chegaria, onde só prevalece a lei da selva.
Parece que meu pedido aos céus foi ouvido, que logo depois de meia hora eles retornaram no mesmo estilo. Esperei que se distanciassem bastante para poder sair à estrada novamente e reiniciar minha caminhada. Já era por volta de quatro horas e o sol começava a declinar pelos lados do oeste.
Daria para andar muito ainda e apertei o passo para compensar a hora parada. Eu caminhava apressado de um lado e o crepúsculo vinha implacável de outro. Dali duas horas já estaria um lusco-fusco. Aves já passavam em bandos voltando para seus lugares. No sombrio mais denso da floresta, os grilos começavam a cantar.
Em uma olhada no caminho percorrido, notei que uma enorme onça atravessou a estrada duzentos metros atrás. Minha angustia aumentou ao saber um pouco dos hábitos do bicho. Ela já tinha me visto e estava me seguindo por dentro do mato. Iria se aproximar devagar e sorrateiramente e no momento oportuno, daria o pulo letal.
Andei mais rápido, por entre as sombras compridas das arvores do entardecer. Um surto de desespero me atacou e comecei a chorar e pedir a Deus uma solução. Não era páreo para aquele enorme gato. O sol quase se punha por entre a verdejante paisagem, cuja beleza se tornara ameaçadora. Já no embaçado do crepúsculo vi a frente a distancia de duzentos metros uma mancha branca.
Parecia ser um homem das arábias. Estava parado a beira da estrada como se me esperasse.Fui me aproximando sabendo que dali viria uma solução.Minha intuição dizia isso. Quando estava a cinco metros, ele disse:
-----Boa noite, amigo. -----Tinha a voz grave e aparência fina.
-----Boa noite ----Respondi aliviado, pelo amigo.
-----Para onde está indo?
-----Acho que estou perdido por estas bandas. Procuro o sitio Gorocaia. -----Respondi com voz falseada. Tinha um nó na garganta que impedia de falar direito.
-----O amigo já passou por ele. Fica cerca de um quilometro atrás. Tem um frondoso Oiti-boi ao lado do portão. Volte, e vá com Deus.
-----È que tem uma pintada em meu encalço, esperando o momento de me atacar. -----Falei como que esperando uma solução.
-----Ela não o fará mal. Fique tranqüilo.
Tive um anseio de falar mais com o estranho que inspirava uma grande confiança, contar sobre o meu dia, mas não quis abusar da sorte e me virei confiante para trás. Ainda falei:
-----Fique o senhor com Deus, também. A noite avançava rapidamente e eu caminhava de volta, em meio a uma parafernália de sons, pelos dois lados da estrada.
Devia passar um rio por perto. Era coaxar de sapos misturados ao piado de corujas e o cricrilar áspero dos grilos. Andei seiscentos metros e fiquei frio ao ver que a onça me esperava adiante bem no meio da estrada.
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