A rã que se salvou






















A RÃ QUE SE SALVOU

Morei por muito tempo em uma pequena cidade.O quintal de minha casa
tinha ligação direta com o campo.Apareciam por lá muitos sapos, rãs,
cobras e lagartos. Em noites de verão os sapos da redondeza caminhavam
até o poste de luz em frente a minha casa, para comer insetos atraídos
pela luminosidade. Não eram muitos.Apenas dois batráquios no máximo.

As aranhas aproveitavam também a situação.Se a gente queria ver sapos
e aranhas era só ir observar em baixo do poste. Vinha cada aranha feia e
certamente venenosa. Próximo a porta de entrada da casa de meu
pai( a minha casa ficava ao lado, distante dez metros) morava um sapo em
baixo de uma pedra. Depois que a noite chegava ele saia devagar pulando
desajeitadamente rumo a luz da rua.

Depois que se dava por satisfeito, lá pelas onze da noite ele retornava pelo
mesmo caminho. Em casa sempre encontrava pererecas escondidas atras da
talha de agua, lugar fresco e úmido.Certo dia de uma tarde quente, saí até
o quintal para olhar o céu e ver a possibilidade de vir chuva.Naquele
tempo a tv era preto e branco para os pobres e não havia previsão como
hoje com fotografias de satélite.

De repente ,ouvi guinchos desesperados vindos da frente da casa. Tempos
atrás eu tinha plantado no pequeno jardim um pé de feijão Guandú. Esse
tipo de feijão dá em uma pequena árvore. Já estava a arvorezinha bem
formada então.Corri até a frente para ver de onde partia os gritos de
socorro.Enroscada nos galhos do feijãoeiro estava uma cobra verde que
tinha pego uma perereca também verde, pela perna traseira. A partir
dali iria engolir a rã , pouco a pouco. Os gritos tinham razão de ser , frente
a morte implacável e lenta.

Corri rapidamente para dentro de casa e apanhei meu estilingue que
sempre servia como uma pequena arma de segurança especialmente
para répteis ,ratos etc. Voltei a frente e na segunda pelotada acertei o
meio da cobra. Ela soltou imediatamente a rã que saiu rápida da área.A
cobra ferida também achou o seu rumo.

Eu não gostava de interferir no curso natural das coisas, mas naquele dia
fiquei penalizado com o desespero da rãzinha. A cobra que fosse procurar
outra vítima, em outro lugar. Mas, se a rã não gritasse desesperada ,talvez
o final fosse outro. Foi ela que se salvou.


A PERERECA GRITA,
NO MEIO DA RAMAGEM,
NO ALTO SÓ FOLHAGEM,
ONDE SOL NÃO IRRITA,
SOMBRA CAMARADAGEM.
DE SI, UMA CONQUISTA.

FIRME O INIMIGO,
NA PERNA BEM TRAVADA.
A MORTE SEM CHAMADA,
NO OLHO O VERTIGO.
DA VIDA MALFINDADA,
ALI NÃO TEM AMIGO.


NO ÚLTIMO INSTANTE
APROXIMA SALVADOR.
PONTARIA SEM CALOR,
PROJÉTIL FULMINANTE,
SALVA A RÃ DO TERROR.
VAI SEGUIR ADIANTE.

DO INIMIGO IRADO
A VITIMA INOCENTE,
LAPSO DO REPENTE
JAMAIS SERÁ BOCADO.
DO DESTINO INDOLENTE,
COM O DIA MARCADO.

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