O cinema em nossa vida



















O CINEMA EM NOSSA VIDA
Me lembro como se fosse ontem, da primeira vez que vi um filme
sonoro.Antes disso ja tinha assistido um arremedo , que era
instalado em um pobre parquinho de diversão.A tela se resumia
em um pano esticado entre duas estacas altas.A projeção só
começava quando as atividades do parque encerravam.

Era a chave de ouro.Com isso todo mundo esperava para ver.Na
verdade eram apenas fragmentos de peliculas onde um macaco
subia em uma torre com um vidro , que segundo os mais velhos,
era um frasco de remédio que deveria levar para alguém.Era a
tentativa de arranjar um enredo para o pedaço de filme.

Toda noite que o parquinho funcionava lá estava eu.Quando da
hora de ir embora, a gente ia discutindo (eu e meu primo)das
performances do ator chipanzé.Cinema de verdade só nas cidades
próximas.Como a gente tinha pouco mais de sete anos, ir até lá
e visitar o cinema,consistia nas mesmas dificuldades de ir a lua.

Certo dia, dois aventureiros tatuianos, resolveram montar um
cinema daqueles lados.Como para ser feito um reconhecimento
ou avaliação do povo alvo, ou mesmo para propagandear a
novidade , fizeram uma pré estréia no maior bar da cidade.Era
por volta de nove horas da noite, eu ja estava dormindo.

O pai chegou me acordando e anunciando as boas novas.Hoje
eu penso a respeito de meu pai, que essa sua atitude foi uma
das coisas que mais me deixaram feliz, na vida.Levantei rápido
e em um minuto estava pronto para irmos ver a segunda sessão.

Lembro que ele dizia:---"Tem uma negrada que canta que é uma
beleza."O bar estava amontoado de gente.Colocaram as crianças
mais a frente sentadas no chão, enquanto os adultos ficavam
mais atras, com os mais baixos tentando ver por entre as cabeças
a frente.

Aí começou a nossa revolução cultural.Tudo nesta vida tem o seu
lado bom e ruim. Se por um lado o cinema abria as portas do
mundo para olhos ávidos de curiosidade, por outro, incutia a
cultura norte americana. Não sei se isso foi bom ou mal. Nós
crianças, aceitávamos e a defendíamos, comparando com nossas
pobres vidas.

Atrás do cinema vinha também as historias em quadrinhos, que
era um complemento aos filmes e aos herois.Seria como a óstia
na missa.Os mocinhos não fumavam, e não bebiam. Raramente
matavam alguém e se isso acontecesse era porque o elemento
merecia.

Filmes do Roy Rogers, além de tudo isso, ainda tinha as canções
bonitas e bem embaladas.Foi assim que formamos a nossa
cabeça.Passado o tempo, com a prática, começamos a perceber
que os filmes eram pré-moldados em uma só fôrma .Igual a uma
fábrica de bolos, eles vinham de varios sabores mas o formato
era um só.

Muito semelhante as novelas de hoje em dia, que passam na
televisão.Daí que apareceu o nome "Clichê".Tem alguns filmes
da República ,com Randolph Scott, que no final, as cenas são as
mesmas, dele perseguindo um bandido entre os vãos dos prédios
de madeira. Mesmo criança eu percebia aquilo.

A gente perdoava e não criticava, como se fosse algo que
pertencesse ao coração.Imagino que muitos iguais a mim
tiveram essa mesma aventura.Hoje,vendo com olhos mais
criticos e realistas, notamos que a sociedade americana que o
cinema antigo queria impor, não passava de mera fantasia em
sua inocencia e simplicidade.

Os indios que eram tidos como inimigos nos filmes, na realidade
era um povo sendo vítima, perante o usurpador.Hoje , os filmes
são mais realistas e alguns até criticam o sistema.Mas, tirando
o joio do trigo,o cinema foi a porta para a cultura e conhecimento
do mundo e da sociedade em que vivemos.

Os norte americanos, apenas souberam como o explorar mais.
E mais cedo.

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