Literatura-38.O tálamo...

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Uma coisa ficou de dúvida em minha cabeça e ate hoje não consegui resolver: Que lugar era aquele de onde Isis viera. Seria outro planeta, ou apenas uma época futura remota em algum lugar aqui mesmo na Terra? Ela muito menos, sabia me responder ao certo,ou não queria me contar, tendo em conta a nossa comunicação precária. Pensava eu que estivesse sob controle dos alienígenas que voltaram uma vez resgatar a máquina. Veio um pensamento passageiro de que poderiam ter implantado algum chip em meu corpo, para me localizarem em todos os lugares. Será que estariam controlando minha vida?Alterando meu destino?Não dei muita importância às idéias e continuei com a vida como ela se me apresentava. Certa vez quando tomava banho junto com Isis, verifiquei que em suas costas no centro, na altura das espáduas tinha uma marca semelhante à letra de chinês, um sinal sobre outro, acompanhando a espinha dorsal. Poderiam ser números, em uma linguagem desconhecida. Ao tocar ali percebi que tinha algo duro sob a pele, semelhante a uma plaquinha de metal. Perguntando sobre aquilo, a moça me respondeu que era o resultado de uma cirurgia que fora feita quando criança, nos tempos do grande terremoto. Fora atingida por uma pedra, lesando sua coluna. Em minha desconfiança das coisas, não acreditei muito na história e na minha cabeça começou a nascer uma suspeita que a moça poderia ser um robô. Não havia outras evidências além da plaquinha? E a rapidez como lutou com as feras? E como me ergueu como se eu fosse um graveto?Seu corpo era perfeito e suave, sua pele macia como seda oriental e transmitia o calor aconchegante do sol de inverno. Mesmo que fosse um robô, deixaria muitas beldades humanas a desejar. Isso era a pior preocupação no contexto das coisas. Ainda continuava com a sensação de algum dia acontecer algo repentino e desagradável como aconteceu varias vezes. Não sei se era algum trauma do passado que me deixava nestas condições. Às vezes também ela fazia coisas estranhas que me deixava intrigado. Uma noite acordei e não a encontrei ao meu lado. Imaginando estar na cozinha ou no banheiro, sai a passo para ver onde ela estava. Encontrei-a nua no meio do quintal, olhando para as estrelas. 

Cheguei devagar para não assustá-la, mas ela a alguns metros me percebeu. Falei do perigo de se tomar friagem na madrugada. Toquei-a e estava gelada como um iceberg, embora não demonstrasse um mínimo de frio.----Pg, a formação das estrelas aqui é diferente das de lá. ----Disse ela, ignorando a minha advertência.----Bem... ----Tentei explicar. ----Conforme a Terra gira elas vão se deslocando do leste para o oeste. Assim modificam um pouco o nosso posicionamento em relação a elas.----Eu sei, ----Retrucou ela---Mas é totalmente diferente a disposição delas.---Bem. Vai ver que você veio de outro planeta. Dai teria que ser de outra forma mesmo. Essa aparência que vemos agora é somente daqui. É como se víssemos em duas dimensões. Sem a profundidade. E é baseado nessa visão que os antigos imaginaram os desenhos formados por elas e deram os nomes das constelações que até hoje permanecem.---Quando se referiam ao nosso lugar em geral, diziam que estávamos no sistema Arial. E outros diziam que morávamos em Arion. ----Esclareceu ela, encostando-se a mim, como se sentisse frio.---Caramba, onde é que eu fui parar. Não imaginava ter ido tão distante. ----Veio na hora um pensamento que nada tinha a ver com o assunto, mas eu aproveitava a conversa para tirar mais informações dela. Estava perplexo com a capacidade da tal cama ou de seu manipulador, já que o destino para lá não fui eu que escolhi.-Me responda uma curiosidade... Você pode engravidar?---Disse com a cara de mais serio que poderia arranjar.-Não... Eu e minhas colegas apenas éramos as receptoras. Depois o material ia para o laboratório e armazenado. Quando alguém da Maters estava predisposta para recebê-lo era  feita a aplicação. -Maters ? Isso é do latim. Puxa!!! cada vez fico mais confuso.Isso se chama inseminação artificial. ----Disse eu, esclarecendo.Mais e mais eu achava que tinha como parceira um robô. Por um lado não me preocupava. Por outro queria saber mais informações a respeito dela. Ocasionalmente gostávamos de tomar banho juntos e nessas oportunidades aproveitava a situação para examinar com mais meticulosidade o corpo da moça. Nada denunciava além da plaquinha na coluna que não era uma garota plenamente terrena. Mesmo a placa era normalmente aceitável em vista de ter muita gente com metais e parafusos nos ossos, pessoas vitimas de acidentes. O meu medo na realidade era ser passado para trás novamente, como aconteceu duas vezes. As duas humilhantemente. A última ainda foi pior, embora dentro da diplomacia, mas eu não admitia em minha cultura machista, um homem perder uma mulher para outra. Enfim seriam os fantasmas que me acompanhariam pelos caminhos da vida. Uma mulher robô (pensava eu) poderia a qualquer momento receber uma ordem não sei de onde, igual aconteceu com o tálamo e sumir de repente. Ou me matar. Estava vivendo num paraíso infernal. É quando a gente tem tudo de bom à mão, mais uma duvida nos corroe. Tentei contornar pensamentos ruins e levar a vida adiante. Meu negócio começava a funcionar satisfatoriamente e tinha mais tranquilidade que problemas. Até que um dia, arrumando caixas de sapato na prateleira em cima de uma pequena escada, ela falseou e cai de comprido sobre caixas e sapatos que estavam no chão. Senti uma dor aguda na perna e fui socorrido por um cliente que entrava na loja naquele momento. Levaram-me a um hospital e o medico nada encontrando de anormal, achou por bem tirar um raio-X da bacia para tirar duvidas. Nada tinha acontecido além das dores musculares da batida.


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