ASSASSINA.

A cobertura feita pela Rede Record, RedeTV! e Rede Globo
prejudicou as negociações com Lindemberg Alves, na avaliação
do ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais
Especiais) e sociólogo Rodrigo Pimentel. Para ele, a postura das
emissoras foi "irresponsável e criminosa".
- O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande
que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das
reféns mais nervoso, como deixaram, poderiam atrapalhar a
negociação, como atrapalharam.
Lindemberg Alves, 22, manteve a ex-namorada Eloá e a amiga
Nayara, ambas de 15 anos, como reféns por cinco dias em um
apartamento na cidade de Santo André, em São Paulo. Na última
sexta-feira, 17, o Gate (Grupo de Operações Táticas Especiais)
invadiu o local. O incidente culminou na morte de Eloá.
Co-autor do livro "Elite da Tropa" e roteirista do filme "Tropa de
Elite", Pimentel faz uma crítica ainda mais incisiva à interferência
da apresentadora Sonia Abrão, da RedeTV!, nas negociações. Ela
entrevistou Lindemberg ao vivo na última quarta-feira, 15.
- Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez.
Essas emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis,
devem optar na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou
aumentar a sua audiência.
Leia a seguir a entrevista com Rodrigo Pimentel:
Terra Magazine - Qual a responsabilidade objetiva dos
governantes em incidentes como esse?Rodrigo Pimentel - O chefe
da polícia estadual é o governador do estado. Quem define as
políticas de segurança pública e suas prioridades é o governador,
através do secretário de segurança pública.
É lógico que ele não pode ser responsabilizado de forma isolada
pelo que aconteceu. Não é a primeira vez que uma ocorrência
com reféns termina em tragédia no país. Nem será a última.
Se você fizer uma análise histórica dos casos com reféns aqui,
o normal é que eles tenham sido conduzidos com pouca qualidade
técnica, muito amadorismo.
Há precedentes emblemáticos, como o caso do arcebispo mantido
refém num presídio em Fortaleza, quando o governador Ciro
Gomes determinou que se dessem armas e coletes aos
seqüestradores, tudo foi feito ao contrário do que determinam
as normas.
Que normas são essas?Veja bem: são normas rígidas? Não. São
protocolos internacionais que podem ser adaptados de acordo com
a necessidade, mas que se baseiam em dados históricos coletados
ao longo dos anos. (...) Nós sabemos, por exemplo, que a presença de
familiares em 80% dos casos deixa o seqüestrador mais nervoso e
arredio, menos propenso à negociação.
O jornalista, por exemplo, é bom ou ruim? Eu diria que na maioria
das vezes é ruim. Porém, em algumas ocasiões, não muito raras,
a presença do jornalista ajuda o tomador do refém a se entregar.
Ele percebe que o jornalista no local garante a preservação da
sua vida. Então tudo exige um conjunto de avaliações momentâneas.
Como o senhor escreveu em artigo na Folha de S.Paulo, a
responsabilidade está na medida em que há falta de investimentos,
como por exemplo a falta de câmeras...Nenhuma unidade tática no
Brasil dispõe desse equipamento. São equipamentos baratíssimos,
custam menos que uma viatura policial. E são muito necessários. Se
o Gate (Grupo de Operações Táticas Especiais) tivesse esse
equipamento, não teria feito a opção pela invasão.
Porque ia perceber que a porta tinha obstáculos. E aqueles 14
segundos que a equipe policial perdeu na porta foi o tempo
para acontecer a tragédia, foi o tempo que o Lindemberg
precisou para alvejar as meninas.Foi o erro crucial?É, exatamente.
Mas o erro mais fácil de ser sinalizado foi a reintrodução da
menina Nayara. Você não tem precedente disso na história
moderna da negociação.
Tem um caso em que o refém voltou ao cativeiro em Nova Iorque,
no ano de 1972, que até gerou o filme Um dia de cão, com
o Al Pacino. Mas veja bem: foi há quase 40 anos, não havia
uma técnica desenvolvida (para lidar com esse tipo de situação).
E esse fato foi transformador da doutrina da polícia de Nova Iorque.
O filme é maravilhoso: retrata marginais mentalmente perturbados
e economicamente motivados; eles queriam assaltar um
banco. Foi uma ocorrência dramática em que aconteceu algo igual ao
que resultou na morte da Eloá. Jornalistas ligavam para os
seqüestradores o tempo todo...
Como o senhor avalia a cobertura da mídia?A Sonia Abrão, da RedeTV!,
a Record e a Globo foram irresponsáveis e criminosas. O que eles
fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande que eles poderiam,
através dessa conduta, deixar o tomador das reféns mais nervoso,
como deixaram; poderiam atrapalhar a negociação, como atrapalharam...
O telefone do Lindemberg estava sempre ocupado, e o capitão
Adriano Giovaninni (NR: negociador da Polícia Militar) não conseguia
falar com ele porque a Sonia Abrão queria entrevistá-lo. Então essas
emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis, devem optar
na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou aumentar a sua
audiência.O Ministério Público de São Paulo deveria, inclusive, chamar
à responsabilidade, essas emissoras de TV.
A Record se orgulha de ter ligado 5 vezes para o Lindemberg. Ele
ficou visivelmente nervoso quando a Sonia Abrão ligou, e ela
colocou isso no ar. Impressionante! O Lindemberg ficou: "quem são
vocês, quem colocou isso no ar, como conseguiram meu telefone?".
Olha que loucura! Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos hoje,
jamais. Aconteceu há quase 40 anos, mas jamais aconteceria nos
dias de hoje.
Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez.
Eu lamento não ter falado isso na frente dela. Eu gostaria de
ter falado isso para ela e para os telespectadores da Record e
da RedeTV!.O que ela fez foi sem a menor avaliação. Tanto
que, num primeiro momento, ele (o repórter Luiz Guerra)
tentou enganar o Lindemberg, dizendo-se amigo da família.
E depois ele tentou ser negociador, convencer ele a se entregar
sem conhecer os argumentos técnicos usados para isso. O que o
capitão Giovaninni falava para o Lindemberg a todo momento
é que, até aquele momento, o crime que ele havia praticado
era muito pequeno. Esse é o argumento técnico, funciona quase
sempre.
"Olha meu amigo, até agora você não matou ninguém, até
agora só colocou essas pessoas sobre constrangimento,
sua pena vai ser muito pequena...". Isso funciona mesmo.
E a Sonia Abrão não tem esse argumento, a Record também não.
Podemos esperar mais casos com esse tipo de desfecho?Outras virão,
não vai ser a primeira nem a última vez. O que aconteceu ali, apesar de
ser uma ocorrência com refém, é algo comum no Brasil.
Ex-noivos,ex-maridos e ex-namorados matando suas ex-companheiras
ou suas companheiras atuais. Nós temos Estados no Brasil, como
Pernambuco, onde cerca de 20% dos homicídios são dessa
natureza, praticados por companheiros. Uma mulher morre por
dia em Pernambuco vítima do seu companheiro. Essa é outra
questão para a gente refletir.
Apesar de ser uma ocorrência com refém, o que chama a atenção
é a morte de uma ex-namorada, o que é absurdamente comum
no Brasil. Homens no Brasil matam suas companheiras com uma
freqüência muito grande.
Terra Magazine
Existe um outro filme que também trata do assunto em relação a
imprensa. É um filme antigo com Kirk Douglas e merece ser visto pelos
mais novos. O título é: "A MONTANHA DOS SETE ABUTRES".
Nesse filme um jornalista consegue montar um parque de diversões
a frente de uma caverna onde se encontra um homem preso por um
desmoronamento.
O capitalismo deixa as pessoas desvairadas pela ganância. Prevalece
em primeiro lugar o dinheiro. A vida das pessoas fica em segundo
plano. O ser humano é mau e se não procurar Deus vai ser exterminado.
Pior ainda para aqueles que usam da hipocrisia de usar a religião
para benefício próprio, como temos certas TVs.
Nenhum comentário:
Postar um comentário