Literatura - 24. O tálamo...

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Entramos e fizemos uma verificação. Não havia guardas e nenhum tipo de segurança. Era um prédio de tamanho médio. Chegamos em uma sala grande onde estavam dois caixas atendendo. Eliza virou para mim e disse qualquer coisa sobre o banco estar aberto em um domingo. Expliquei rapidamente que os dias mudavam quando se saia do presente. Uma fila de aproximadamente vinte pessoas andava lentamente. Falei com Eliza sobre a necessidade de localizarmos o cofre. Ela foi até uma mesa supostamente do gerente e começou uma conversa com ele. Depois de alguns minutos ela voltou, dizendo que o cofre estava logo atrás da mesa do gerente. Não sei o que ela conversou com o homem, mas achei que foi eficiente em descobrir tão rapidamente. Calculamos a ôlho a posição do cofre e voltamos para o terreno baldio. Esperamos um pouco até diminuir o movimento das pessoas na rua, para entrarmos. Acionei a cama e ela apareceu entre o capim. Brincando, sugeri a Eliza que o pessoal tinha me dado uma boa ideia. Já que estávamos com a cama ali, era só aproveitar a paisagem. Ela riu e me deu um leve empurrão de protesto. Em casa continuamos a estudar um meio de se chegar até aquele cofre. Era fim de tarde e o céu estava amarelado do lado do sol poente. Saímos dar um passeio, igual fazem os namorados e passaríamos no local do banco para verificar as possibilidades. Ali tinha um pequeno prédio de dois andares e na parte de baixo era formado por pontos comerciais. Deveríamos passar no próximo dia que era uma segunda feira, para vermos o que tinha no lugar do cofre. O maior trabalho seria levar a tal cama no ponto certo e antes disso disponibilizar o local. Passamos o resto do domingo cuidando de outras coisas mais agradáveis e deixamos os problemas do ouro para o dia seguinte. Ele estaria lá, ou não, se não existisse. Mas teríamos que nos aventurar, dizia Eliza. Na segunda feira, enquanto fui trabalhar, ela ficou pesquisando o imóvel. No local onde nos interessava, tinha uma lojinha de miudezas. Minha namorada chegou-se devagar e começou fazer amizade com a dona da loja. Era uma mulher de trinta e cinco anos, ativa e desconfiada. Não se podia dizer que era bonita, mas tinha um corpo que chamava a atenção. Combinei com Eliza que a coisa tinha que ser devagar e suavemente, para não levantar suspeitas. Certo dia, Elisa a convidou para almoçar conosco. Depois das apresentações, começamos uma animada conversa. Seu nome era Joice. Ficamos mais na observação da moça, quanto a seus gostos e como levava sua vida. Era uma pessoa agradável, depois que pegou confiança e bastante inteligente. A desconfiança que às vezes vinha à tona quase imperceptível, com o tempo foi se desfazendo. Depois desse almoço tornou-se nossa amiga mais chegada. 


Passamos a frequentar sua casa e ela a nossa. Ela vivia só, sob o pretexto que os homens só traziam problemas,enrolavam e não queriam se casar. Mas por trás de seus argumentos, percebia-se que tinha dificuldades em manter um relacionamento, por motivos que não sabíamos. O universo da alma de algumas mulheres é como o universo real. Podemos senti-lo, vê-lo a distância,mas não podemos chegar até lá. Poderia ser também, trauma de um namoro mal resolvido. Depois de muitas idas e vindas, um dia em casa, em um jantar regado a vinho propositalmente, ela se abriu e contou sua historia incentivada pelo espírito do álcool. Disse que tivera um noivo quando mais nova, e que no decorrer do noivado, foram guardando dinheiro para comprar uma casa. Ela confiava plenamente no rapaz e a conta no banco era conjunta. Quando o dinheiro estava quase completo para fecharem um negocio, o noivo o tirou todo do banco e desapareceu. Ela ficou um bom tempo perturbada, precisando fazer tratamento psiquiátrico. Perdeu também a fé nos homens. Passou a achar que todos só pensam no dinheiro. Conhecendo a história de Joice, o relacionamento entre nos ficou ainda mais estreito. Para reforçar ainda mais a amizade, contei o caso com minha primeira esposa. A gente se abre, as pessoas se abrem. Uma confiança mútua cresce e toma formas positivas. Eu e Eliza nada tínhamos de peso na consciência por manipular a amizade em nosso interesse. Afinal, não iríamos fazer mal algum a ela e muito menos causar algum prejuízo. Chegamos a combinar de ajudá-la se a empresa desse certo. Essas ideias eram discutidas somente entre eu e Eliza. Joice passou a aparecer em nossa casa com mais frequência e de repente, sem percebermos passava a maior parte do tempo de folga por lá. A amizade entre as duas era de uma cordialidade tal, que se fossem irmãs não desfrutariam de tal coexistência. Coisa complexa no mundo feminino.Eu na minha inocência via assim.

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