Literatura- 26. O Tálamo...

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Embora um pouco amofinados com a situação, Eliza me convenceu que nada havia perdido e embora não fosse o que esperávamos, ainda tínhamos em mãos algo valioso.
----Não da para adquirir nada respeitável. ----Redargui. ----Talvez uma casinha pequena em um bairro pobre.
----E se a gente rastreasse os anos atrás, quem sabe encontraríamos o resto? ----Perguntou ela.
----É um negócio muito complicado... Veja bem. ----Eu disse, pegando uma caneta e fazendo uma conta. ---São 21900 dias. O trabalho seria tão grande que não valeria à pena. Por outro lado, as pessoas sempre estão em movimento. Um minuto depois, pode alguém ter pegado e deslocado os objetos do lugar, para outra parte da casa. Daí já não encontraria de forma alguma. Por fim decidimos que o bom seria ficarmos quietos e administrar o ouro da melhor forma possível. Joice voltou na data combinada e nos abraçou efusivamente no re- encontro.
Sua mãe estava passando melhor e ela estava feliz em poder voltar para a rotina de sua vida. Vendo a amizade das moças, deixei de lado um pouco minhas eternas desconfianças e entrei na graça das duas. Certo dia, estando os três confabulando na sala da Joice, ela nos contou algo que deixou eu e Eliza, intrigados. Contou ela que sempre morou naquele lugar. Eliza jogou disfarçadamente um olhar para o meu lado, como se advertindo para o que viesse.
----Desde criança?----Perguntei interessado.
----Sim... Até os vinte anos, tinha minha mãe comigo. Depois ela teve que se mudar para outra cidade, para atender meu irmão que lá estudava. Acabou se envolvendo com um velho e ficando por lá.

----E você, ficou bem aqui sozinha?----Perguntou Eliza.
----Sim, eu sempre fui muito independente... Agora vou contar uma coisa... Que somente a vocês eu conto... A minha vida deu uma guinada para melhor, quando encontrei, em uma madrugada ao chegar de uma festa, uma barra de ouro bem ali perto da parede do depósito. Esperei um tempo para ver se alguém reclamava e depois reformei tudo e montei esta loja. Antes no lugar eu tinha um salão de beleza, que não ia para frente e nem para traz. ----Eliza não conseguia conter a expressão estupefata e me olhava com insistência.
----Você achou somente uma barra?----Perguntou Eliza, pegando no braço da outra, demonstrando grande curiosidade.
----Somente uma. ----Por quê?
----É que falando de ouro, minha filha... Quanto mais, melhor.
----É verdade. ---- Acudi, tentando não levar o assunto para a desconfiança. À noite em nossas conversas de cama, tentávamos desvendar o mistério do ouro perdido. Tinha uma teoria que, as jóias e a primeira barra, teriam caído tempos mais remotos e a ultima barra caída, foi ao chegarmos, que no tempo deu uma dezena de anos.

Eliza tinha vontade de contar a amiga todo o segredo, mas eu a desanimava, dizendo que duas cabeças guardam mal um segredo e três cabeças mal guardam segredos. Poderíamos ser expostos de uma forma ruim. O bom seria deixar como estava e tocar a vida como ela se apresentava. A moça concordou.

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