Literatura-30.O tálamo...

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Certo dia, quando voltava do trabalho,não encontrei Eliza em casa. Supus que estivesse na lojinha. Depois de me trocar, fui até lá. Vi que o comercio estava fechado, pelo horário avançado. Entrei pela porta lateral como se fosse minha casa. Fui até a sala, onde sempre costumávamos estar, e não vi ninguém. Não teriam saído, pois dai fechariam a casa. Fiquei ali parado por alguns instantes, pondo os pensamentos em ordem. Ouvi um gemido suspeito vindo do quarto. Devagar, fui ate a porta, com medo de Joice estar com algum homem e as coisas se complicarem. No caso eu seria um invasor. Experimentei a maçaneta com cuidado, e abri uma fresta que dava para espiar o que estava acontecendo. Para minha surpresa, era as duas que estavam enroscadas em movimentos lentos e cadenciados, como se estivessem no barco do prazer, balançando ao sabor de ondas sensuais. Fechei novamente a porta e me sentei na sala para esperar. Comecei a fazer um retrospecto de minha vida. Agora o que me faltava acontecer, estava acontecendo a poucos metros. Não sabia se aquilo era bom ou ruim. Estava confuso, e não era ali naquele momento que iria tomar uma decisão. Depois de muita vibração e gritinhos desesperados , terminou a festa.A primeira a sair toda descabelada foi Eliza. Quando me viu sentado no sofá, ficou sem graça, como se fosse pega fazendo alguma travessura. Fiquei quieto encarando-a, esperando uma explicação.




--Olha, espero que você não leve a mal. Mas já tínhamos combinado isso tudo e sabíamos que você viria. ----Disse ela, meio sem jeito.
----Não sei o que dizer,não sei o que pensar... ----Respondi eu, sinceramente comigo mesmo.
----Não diga nada----disse Joice ao sair peladona do quarto. ----Eu é que sou culpada. Fui eu que a seduzi.
----Ainda não entendi... O que vocês pretendiam em me fazer presenciar isso tudo?
----Foi o jeito mais fácil de mostrar que nos amamos, bobinho.--- Respondeu Joice. Eliza sentou-se meio sem jeito ao meu lado.
----E verdade Elisa?----Disse encarando-a seriamente.
É... ----Respondeu ela, falseando. ----Mas amo você também.

Ouvindo isso fiquei sem saber o que falar. Precisava de um tempo para entender.Afinal, eu era mais burro do que imaginava. Não desconfiava da amizade chegada das duas.Hoje você vê na rua dois homens de mãos dadas, já sabe o que são.Se vê duas mulheres do mesmo jeito, não dá para saber se são amigas ou namoradas.Não via Joice como uma inimiga, pela nossa amizade e algo mais. Precisava também aprender a perdoar a fraqueza dos outros, e nisso entrava Eliza. Depois de certo tempo, passada a tensão, ficou tudo normal. Só em minha cabeça que não. À noite tive uma conversa seria com Eliza e entre outras coisas, disse que não gostaria de perdê-la, ainda mais para uma lésbica. Ela me garantiu que eu era o amor da vida dela e estava em primeiro lugar. Tentei me adaptar a situação estranha, abafando o meu ego machista. Lutava para ser mais maleável e aberto. Afinal, eu não estava sendo traído como da primeira vez. Estava tudo às claras e não me via prejudicado pelo relacionamento das duas. Resolvi comigo mesmo, deixar a coisa rolar. Se tivesse de acontecer algo desagradável, não seria eu o responsável e muito menos quem pudesse evitar. Daí para frente, por certo tempo, foi tudo beleza. Formamos o chamado triângulo amoroso. Parecia que eu tirava o maior proveito da situação, mas estava enganado. Por varias vezes peguei as duas as sós, com suas intimidades. Fazia-me de ignoto, mas por dentro crescia a desconfiança, de estar de mais entre elas . Nas conversas e nos movimentos, captava pequenos sinais que confirmavam minhas suspeitas. Dai comecei a agir pela lei da vantagem. Tirava o máximo proveito das situações, sabendo que a qualquer hora tudo iria mudar. Passávamos tardes e noites agradáveis de fins de semana em orgias infindáveis. Sentia-me um César em um palácio romano, com vinho, musica e mulheres a disposição. Como tudo que é bom, dura pouco e no desenrolar da vida as coisas sempre mudam mais cedo ou mais tarde, um dia tudo se acabou.

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