Literatura-39.O tálamo...

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Outro dia, o medico me ligou dizendo que queria conversar comigo. Fiquei apreensivo pensando que me falaria algo grave. Fui ate lá e ele com a chapa no suporte iluminado, mostrou a mim um minúsculo objeto alojado próximo a minha virilha. Imediatamente lembrei-me do dia que os alienígenas me paralisaram.-É um “chip”-Disse ao medico. Ele com cara de surpreso disse:-Como é que você sabe que é um chip?-Daí, percebendo a gafe, tentei consertar.-Bem... É que assisto muitos filmes e sempre vejo essas coisas. Então veio em minha cabeça falar isso. Mas não tenho ideia do que seja.-Com uma pequena cirurgia podemos removê-lo e mandar para análise para vermos do que se trata. Você aceitaria?Veio em minha cabeça que os alienígenas poderiam me controlar enquanto estivesse com aquilo no corpo. E se não fosse também teria que ser removido de qualquer jeito, algo que não fazia parte do meu físico.-É... Acho que tenho que fazer isso. ----Respondi com certa insegurança.-Podemos marcar para daqui a três dias, quando estarei menos compromissado e considerando que não é algo urgente.Ficou então combinado com o médico, que iria tomar as providências.Ao voltar para casa, todo dolorido e acompanhado de Isis, passei o resto da tarde deitado e tomando analgésicos. Outro dia já estava bem melhor e voltei ao comércio. Depois disso, vendo que os negócios iam bem, resolvi contratar uma moça para me ajudar na loja. Assim, quando precisava sair ela ficava tomando conta, junto com Isis. Dali algum tempo, fui negligenciando meus afazeres e logo a lojinha estava sendo tocada pelas duas.
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O médico ergueu a pinça contra a luz, com um pequeno objeto de forma ovalada e pouco maior que uma semente de feijão. Colocou devagar em um vidro de laboratório e tampou-o. Terminou o pequeno curativo no local da cirurgia e logo após me dispensou. Tentei obter alguma informação a respeito do pequeno objeto, mas ele nada disse além de pedir para esperar os exames de laboratório. Depois de uma semana conforme combinado, liguei ao medico e ele disse que era apenas um pequeno cisto sem maior importância e que eu deveria não me preocupar. Mas nada me tirava da cabeça que aquilo fora implantado em meu corpo. Comecei a questionar Isis de uma forma bem sutil, para que ela me contasse o que sabia a respeito daquilo. Em varias conversas, tentava obter informações, mas parecia mesmo que ela ignorava aquilo tudo. Achei por bem esquecer aquilo, já que nada me faltava e não iria mais procurar encrenca a troco de nada. Passaram-se dois anos sem maiores novidades ou venturas. A lojinha ia bem e o que rendia dava para levar uma vida razoável. Eu ficava lá por algumas horas, mas na maior parte do tempo era as duas que tomavam conta. Eu só administrava, mantendo certa distância. Certo dia, começou a aparecer novamente os sonhos esquisitos que tinha no passado. Via neles gente estranha e lugares sinistros. Pensava eu que era reflexo das aventuras passadas. Uma noite sonhei que a cama tinha voltado e me apertava sobre outra me sufocando. Acordei suando e com a respiração ofegante e a garganta seca. Levantei e fui ate a cozinha tomar água. De relance ao passar pela sala, pensei ter visto algo passar rapidamente por trás de mim. Imaginei ser o estado de sono que tomava conta de meus movimentos e afrouxava meus músculos.Voltei a deitar. Estava tudo calmo e certamente lá fora, a suavidade da madrugada tomava conta de todos os sítios. Isis dormia com uma brandura serena, respirando quase imperceptível. Demorou um pouco e voltei a pegar no sono, mas os pesadelos voltaram com maior intensidade. Em minha consciência eu queria acordar, mas não conseguia.

 Via vultos perambulando pela casa e pensei ter ouvido o grito de uma moça, pedindo ajuda. Figuras embaçadas circulavam pela minha frente. Depois disso voltei a dormir um sono pesado como chumbo e só acordei de manhã quando escutava um tilintar ao longe. A medida que ia despertando, percebi que era o toque da campainha. Pulei rapidamente da cama lembrando da loja. Era de fato a moça que ao chegar, vendo a porta fechada, veio saber o que houve e pegar as chaves. Ainda meio dormindo, entreguei as chaves a ela e voltei ao quarto. Quando me deitei, foi que percebi que Isis não estava ao meu lado. Imaginei que tivesse ido ao banheiro, e fiquei tranquilo. Voltei a dormir por mais três horas, quando daí acordei de fato. Estiquei o braço direito para outro lado da cama e nada senti além da coberta fria. O movimento de levantar foi tão rápido como a ideia que me ocorreu no momento. Em um segundo estava sentado na cama, olhando para o lado onde devia estar a moça. Corri pela casa, fui ao banheiro, sai até o quintal e nada. Depois imaginei que ela poderia ter levantado mais cedo e já estar na loja. Muitas vezes acontecia isso, para não incomodar e me deixar dormir mais um pouco ela saia sem fazer um mínimo de barulho e ia abrir o comercio. Mais calmo, tomei um banho, café, me arrumei e fui até a loja. Lá chegando só encontro Valdívia limpando o chão como fazia todas as manhãs. Vendo minha cara de alarmado, correu perguntando o que houve.-Você viu a Isis? -Indaguei.-Não senhor... Hoje ainda não a vi.

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