Vício que mata mais mulheres.

Cigarro: vício delas é diferente e mais perigoso

JANAÍNA HOLANDA
Da Redação

As descobertas dos especialistas na área de tabagismo não são nada animadoras para as mulheres. A dependência feminina é diferente da dos homens e bem mais devastadora.

A mulher fumante é uma forte candidata a ter envelhecimento e menopausa precoce, ressecamento de pele, câncer de pulmão, problemas cardiovasculares, respiratórios, infarto e uma série de outros problemas, como dificuldade para engravidar e perda da libido. Isso mesmo, a mulher fumante fica, com o passar do tempo, com dificuldade de sentir prazer.

“A nicotina e ao alcatrão se espalham pela corrente sanguínea, diminuindo a umidade da pele e provocando uma série de problemas. A fumaça age diretamente no cérebro como as outras drogas e por isso é tão perigosa”, explicou a pneumologista Socorro Rodrigues.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), há ainda outros fatores diferenciais. Mulheres jovens que fumam e tomam anticoncepcionais orais, por exemplo, correm riscos dez vezes maiores de sofrer de infarto do miocárdio, embolia pulmonar (coágulos que se formam nas veias) e tromboflebite (processo inflamatório nas veias).
E não é só.

A nicotina e outras substâncias químicas existentes no cigarro interferem na circulação ovariana e causam distúrbios hormonais.
A situação pode ficar ainda mais complicada se a mulher fumante engravidar. “Nesse caso, pode acontecer abortos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes do feto e de recém-nascidos, além de complicações com a placenta e ocorrência de hemorragia”, falou a pneumologista Socorro Rodrigues.

Segundo ela, o monóxido de carbono e, principalmente, a nicotina agem rapidamente no organismo da criança depois de serem ingeridos pela mãe. “Quando no útero, a transmissão destes agentes é feita pela corrente sanguínea. Depois do nascimento, ocorre pela amamentação”, falou.

Mesmo as grávidas passivas (aquelas que não fumam, mas que estão sempre expostas a fumaças de outras pessoas) podem ser prejudicadas e também o bebê, que poderá ter problemas respiratórios e, mais tarde, até atraso na aprendizagem.

Estimativas do Inca apontam que o tabagismo é hoje responsável por 40% das mortes de mulheres com menos de 65 anos e 10% das mortes por doença coronariana naquelas que estão acima dos 65 anos.

Nem todos efeitos demoram a aparecer.
É verdade que as complicações da dependência de tabaco se intensificam ao longo do tempo, mas engana-se quem pensa que todos os efeitos demoram para aparecer.
O mau cheiro nas mãos, roupas, cabelo e pele são imediatos e bastam algumas semanas para os dentes ficarem amarelados.

“Além de provocar mau hálito, o aquecimento da boca provoca tártaro e a nicotina prejudica o esmalte dos dentes, deixando-os com aspecto amarelado e isso é muito difícil de tratar”, falou a odontóloga Kelly Patrízia.

Nesses casos, o tratamento mais indicado para os dentes é mesmo o clareamento que não sai por menos de R$ 300,00, dependendo do estágio em que se encontra a dentição da paciente. Em alguns casos, o tratamento pode chegar a R$ 800,00.

Maioria não vê vício como doença.
Em Mossoró, a situação dos fumantes é preocupante. São mais de 35 mil espalhados pelos bairros da cidade, e desse total, cerca de 16 mil são mulheres.
“Os números estão revelando uma realidade preocupante, principalmente no que diz respeito ao início precoce do fumo e conseqüentemente do vício”, falou a coordenadora do Programa Municipal de Tabagismo de Mossoró, Fábia Queiroz.

Ela explica que está sendo feito o mapeamento da cidade, através de consolidados das Unidades Básicas de Saúde (UBS) para que os trabalhos de prevenção e de acompanhamento do tratamento sejam iniciados pelas áreas mais críticas.

O grande desafio é sensibilizar as pessoas para os riscos da dependência, pois a maioria acha exagero o alerta das campanhas preventivas e acredita que parar de fumar é uma questão de força de vontade.

“A maioria não encara o tabagismo como vício, por se tratar de uma droga lícita que é legalizada e pode ser comprada facilmente. Isso dificulta muito o tratamento porque quando ela acontece é porque a situação está crítica ou o vício está associado a outras drogas”, falou a psicóloga Ana Catarina, que acompanha o tratamento de mulheres no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS Ad).

Início é cada vez mais cedo.
Pesquisas têm revelado que as pessoas e principalmente as mulheres estão começando a fumar mais cedo.
Na maioria dos casos, há influência de amigos e parentes que associam o cigarro à “independência” e também à “sedução”.


“Na minha turma a maioria fuma por escolha mesmo. Não temos vício, fumamos só quando estamos apreensivas ou preocupadas. Se quisermos parar, a gente pára”, comentou a estudante Ana Cláudia, 16.
Em Mossoró, a principal faixa etária de mulheres fumantes é entre 20 e 30 anos, mas o número de jovens adeptas ao tabaco tem crescido consideravelmente.

“Temos observado que a idade das pessoas e principalmente das mulheres que começam a fumar tem diminuído bastante e muitas vezes a influência está em casa, o que é bastante preocupante”, destacou Fábia Queiroz acrescentando que em algumas áreas, há registro de fumantes com idades variando entre 15 e 16 anos.

Maioria não aceita vício como doença.
É bem verdade que as mulheres procuram mais tratamento do que homens, mas o número ainda é insignificante se comparado ao total da dependência feminina.

Das mais de 15 mil fumantes de Mossoró, apenas uma minoria – menos de 1% – procuram tratamento. No Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS Ad), apenas 21 mulheres recebem acompanhamento multiprofissional. São mulheres na faixa etária de 18 a 72 anos de idade.

“A nossa grande dificuldade é que a maioria não aceita o vício como uma doença e isso prejudica o tratamento”, explicou a psicóloga Ana Catarina, acrescentando que o principal público em tratamento no Caps possui entre 30 e 40 anos de idade.

A dona-de-casa Georgiana Alves, 23 é fumante há mais de 10 anos e atualmente está em tratamento no Caps. É a segunda vez que recorre ao tratamento. Para ela, aceitar a doença foi o mais difícil, porque a realidade sempre é motivo de vergonha.
“Comecei a fumar aos 10 anos por influência de amigas. A gente sempre acha que pára quando quer, mas não é. Estou aqui pela segunda vez porque recaí várias vezes.

Sinto vontade de fumar toda hora. A curiosidade é traiçoeira. O conselho que dou é evitar a primeira tragada”, aconselhou Georgiana que está fazendo redução de danos (diminuição gradativa de cigarros por dia).

Na maioria dos casos, o cigarro é a porta de entrada para a dependência de outras drogas como maconha, crack e mesclado (mistura de crack e maconha). Nesses casos, o tratamento é bem mais difícil e complicado.

“Não existe essa história que é não é prejudicial, vicia do mesmo .
A pneumologista Socorro Rodrigues alerta ainda que os cigarros tidos como lights e de baixo teor nicotina são prejudiciais e causam dependência.

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