FÉ PERIGOSA




















PENTECOSTALISMO...
ÓPIO DO POVO OU CULTURA POPULAR?
Nascido do protestantismo – e praticamente simultâneo –
no início do século XX, nos Estados Unidos, África do Sul,
Brasil e Chile, o movimento Despertar (pentecostalismo)
passou por uma verdadeira explosão a partir da década de 80.

Nunca a Igreja Universal do Reino de Deus obtivera tamanha
audiência.Em 12 de outubro de 1995, dia da festa da padroeira
do Brasil, através da rede brasileira mais importante de
televisão, um bispo daquela Igreja tenta convencer seus adeptos
sobre a idolatria dos católicos, chutando uma estátua de Nossa
Senhora Aparecida. Com isso, pretende explicitamente
denunciar a religiosidade de um Estado supostamente laico.

Naquele dia, muitos brasileiros que jamais haviam prestado
atenção à Igreja Universal do Reino de Deus, ficaram indignados
com o sensacionalismo, ao mesmo tempo que muitos deles se
sentiram secretamente orgulhosos dessa multinacional de cor
brasileira. Em setenta países do mundo, a Igreja Universal
prega uma mesma mensagem, bem sucedida: “Pare de sofrer”.

Acuada pelas comissões parlamentares que investigam as seitas
na França (1995) 1 e na Bélgica (1997) – segundo esta última,
ela seria“palco de inúmeros escândalos sexuais” –, a Igreja
Universal do Reino de Deus está em franca expansão na América
Latina e na África.O futuro do cristianismo no Terceiro Mundo .

Acuada por comissões parlamentares que investigam as seitas
na Europa, a Igreja Universal está em franca expansão na
América Latina e na África. Assim, em uma cidade como
Kinshasa, no Congo (ex-Zaire), completamente devastada pela
miséria, o pentecostalismo também explodiu: “Jesus, Jesus!”
, urram nas igrejas os fiéis em transe, rolando pelo chão,
inflamados por pastores carismáticos às vezes chamados de
“vigaristas de Deus”.

Eles fazem esquecer a fome, a doença, a promiscuidade,
desmascarando “os ataques de bruxaria a que é exposta
qualquer vítima de uma decepção pessoal, de melancolia e de
incredulidade”, segundo o trecho de um sermão proferido na
capital do Congo. Fazem os fiéis sonhar com a “prosperidade
milagrosa”.

E se as igrejas invadem as ruas e, ao cair da noite, ecoam de
todos os lados cânticos e gritos, também penetram pela
televisão, pelos vídeocassetes e até pela Internet. “Se não forem
tomadas medidas draconianas, dentro de dez anos a nação
congolesa será constituída por uma geração de tarados e
psicopatas”, afirma o professor Mweze, decano das Faculdades
Católicas de Kinshasa .

Além da “influência ameaçadora de um islamismo extremista, em
expansão na Ásia e na África”, a Igreja católica receia a “concorrência
devoradora, nas grandes metrópoles do Terceiro Mundo, das
Igrejas evangélicas, das seitas e de um ‘pentecostalismo’
desenfreado ”. E no entanto, perguntam teólogos protestantes ,
“não seria o pentecostalismo o futuro do cristianismo no Terceiro
Mundo?”

De qualquer maneira, tanto na África quanto na América Latina,
fala-se cada vez mais em conversão. As Igrejas multiplicam-se
com os mais diversos nomes, alguns deles conhecidos, como
Assembléia de Deus ou Igreja de Deus, e outros menos, como
Deus É Amor, Igreja Viva, Templo de Sion, Igreja da Vitória etc.
O termo “pentecostal” raramente aparece nos nomes; utiliza-se
quase sempre a palavra “evangélicas” para as designar.O fator
uniformidade.E no entanto, perguntam teólogos protestantes,
“não seria o pentecostalismo o futuro do cristianismo no
Terceiro Mundo?”

O que se entende por pentecostalismo? Sua especificidade doutrinária
(que nada tem de heterodoxo com relação às Igrejas instituídas)
considera como atuais os dons do Espírito Santo (falar línguas, cura,
profecia, exorcismo etc.) tais como são descritos na narrativa de
Pentecostes dos “Atos dos Apóstolos”. Nascido do protestantismo
– e praticamente simultâneo – no início do século XX, nas Igrejas
negras dos Estados Unidos, África do Sul, Brasil e Chile, o movimento
Despertar passou por uma verdadeira explosão a partir da década
de 80. Incluindo-se o grupo das Igrejas sionistas e apostólicas,
abrange, na África do Sul, mais da metade da população, quando
não passava de um quarto há vinte anos.

Em países como o Chile e a Guatemala, atrai de 15 a 25% da população.
Tanto na África quanto na América Latina, o número de adeptos deste
novo proselitismo já ultrapassaria os cem milhões. No sentido comum
do termo, trata-se de “seitas”, devido ao proselitismo e às exigências
rigorosas exigidas e seus membros. Entretanto, o movimento não atende
a vários outros critérios que caracterizam as seitas (principalmente o
de caráter ultraminoritário) visto que, no sentido sociológico do termo,
não há exclusividade (a fórmula “fora da Igreja, não há salvação” não
se aplica: o que conta é a “conversão a Jesus”) e o afastamento com
relação ao “mundo” é cada vez menos acentuado .

Seja ela o que for, essa crença extraordinária pode-se medir pela
multiplicação das denominações, que atravessam fronteiras (Quênia,
Uganda, Ruanda, Burundi, Tanzânia ou Brasil, Venezuela, Uruguai,
Argentina). Aliás, o que chama atenção é a uniformidade. Como explicar
a semelhança desses novos cultos em Ruanda, Costa do Marfim, Bolívia,
Brasil, Guatemala e Haiti? Efeito ou manifestação da globalização ?
A crítica da “simplificação.”O termo “pentecostal” raramente aparece
nos nomes das igrejas; utiliza-se quase sempre a palavra “evangélicas”
para as designar.

Até o final da década de 80, circulava uma única explicação sobre esta
explosão, que, nos meios católicos, é resolutamente denominada de
“seitas”. Faz-se referência ao Relatório Rockefeller de 1969 bem como
ao Documento de Santa Fé, plataforma ideológica do presidente norte-
americano Ronald Reagan em 1980. Em ambos os casos, trata-se do
perigo de infiltração marxista na Igreja católica e dos perigos da
teologia da libertação. Aliás, a hierarquia católica também se preocupa.

Não é que, desde 1969, com o apoio discreto da CIA, a Universidade de
Louvain,na Bélgica, tenta fundar um centro de ética cristã do
desenvolvimento para controlar melhor os teólogos latino-americanos,
em parte formados por ela mesma? Em conseqüência disso, e para
contrabalançar a influência da teologia da libertação no mesmo terreno,
a estratégia sugerida por esses relatórios consiste, principalmente,
em apoiar as Igrejas evangélicas que começavam na época a se expandir.
Há,portanto, um elemento de realidade na opinião obsessiva de que as
Igrejas pentecostais constituem o “braço espiritual” do imperialismo
norte-americano.

Em 1990, dois livros brilhantes – o de David Stoll9 , um norte-americano
de espírito crítico, e o de David Martin10 , famoso sociólogo britânico,
estudioso das religiões –põem um ponto final a essas simplificações.
Se é verdade que Washington vê com bons olhos o desenvolvimento desses
movimentos evangélicos – por introduzirem elementos da cultura norte-
americana, contrabalançando a influência mais européia do catolicismo –
não está definitivamente provado que a extraordinária expansão desses
movimentos se deva a financiamento dos Estados Unidos. Nem está
provado que tenham recebido qualquer apoio financeiro importante
(mais importante, em todo o caso, que os destinados às diversas correntes
católicas).

A “teologia da prosperidade”.O que se entende por pentecostalismo? Sua
especificidade doutrinária considera como atuais os dons do Espírito Santo
descritos nos “Atos dos Apóstolos.”Na realidade, muitas dessas Igrejas são
totalmente autônomas. A expansão da Igreja Universal do Reino de Deus
fornece mesmo um eloqüente contra-exemplo no que se refere à direção
dos fluxos financeiros. No caso, é o dinheiro dos pobres brasileiros que
permite a implantação da Igreja em todos os continentes (inclusive nos
países do hemisfério Norte).

A homogeneização dos estilos de religiosidade e de doutrina, com base no
modelo norte-americano, fornece um argumento mais sólido em favor da
tese do “braço espiritual”. Em qualquer lugar da África ou da América
Latina, grandes cruzadas atraem massas impressionantes de adeptos
ou de curiosos aos estádios, programas televisivos de “cura divina”, às
vezes transmitidos 24 horas sem parar, atingem camadas cada vez
maiores da população, e, até nas cidades menores, encontram-se disponíveis
nas prateleiras das livrarias evangélicas best-sellers de devoção, traduzidos
de edições norte-americanas.

Tudo é sempre associado aos nomes de alguns grandes televangelistas como
JimmySwaggart, Pat Robertson, Kenneth Copeland, Reinhard Bonnke ou
Paul Yonggi Cho, alguns dos quais lideram, nos Estados Unidos, a coalizão
cristã e fazem parte do círculo íntimo dos presidentes.Por outro lado, como
explica Paul Gifford , que mostrou o parentesco do pentecostalismo com a
extrema-direita sul-africana, suas principais doutrinas são parcialmente
(e em diversos graus) de origem norte-americana, quer se trate da “teologia
da prosperidade” – Deus não ama a pobreza (enriquecer não é um pecado) –,
da libertação e da guerra espiritual – o que importa é expulsar Satã
de nossos corpos, de nossos espíritos e de nossos países –, ou ainda do que
Gifford chama de sionismo cristão .

A promessa do enriquecimento rápido. Na África, assim como na América
Latina, o número de adeptos do pentecostalismo já ultrapassaria os cem
milhões.Tanto na África quanto na América Latina, isso justifica a referência
constante a Israel nos sermões, assim como o convite feito aos fiéis para
fazer peregrinações a Jerusalém, comparáveis às dos muçulmanos a Meca.
Esta guerra espiritual de tom milenar toma também formas inesperadas:
na Costa Rica, um famoso pastor pentecostalista sobrevoou o país “da
fronteira de Nicarágua à do Panamá, e de Puntarenas a Limón, derramando
óleo santo a cada seis quilômetros”, para “libertar o território nacional de
modo a facilitar a evangelização ”!
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