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Em
casa comecei a trabalhar com a mente para desvendar os mistérios
que cercavam a máquina, ou melhor, a cama. Quanto mais soubesse
mais segurança teria. Descobri depois de algum tempo que os três
espaços que ficavam nas bordas do grande triangulo funcionavam como
uma escala de tempo. As três meias luas eram divididas em seis
partes. Começava em uma escala de dez e ia dobrando no sentido
anti-horário até a ultima da esquerda que correspondia a trezentos
e vinte anos. Para datas intermediarias ainda não sabia como o
controle funcionava. Mas devagar, estava ficando bom naquilo. Comecei
a fazer viagens para o passado e para o futuro. A única coisa que me
tolhia à liberdade era o medo de se afastar muito da cama, quando
estivesse em lugares desconhecidos. Estava amarrado a um sistema e
não tinha autonomia para fazer o que queria. Na verdade ela não
saia do lugar físico e sim no tempo. Então estava enganado quanto a
viagem anterior onde pensei ser a Africa e certamente que não eram
leões que vi por lá. Poderia uma hora estar dentro de um edifício,
como no leito de uma rodovia ou em um campo, mas o ponto de
referencia físico era somente um. Daí me ocorreu uma ideia um pouco
arriscada, mas teoricamente poderia funcionar. Quando chegasse a
algum lugar do futuro ou do passado, poderia mandar a cama para casa
e ficar em poder do controle. Quando precisasse, acionava o
dispositivo e a traria de volta para mim. Parecia um bom plano. Se,
porém houvesse um pequeno erro, me perderia para sempre, em outra
época, como acontece com muita gente que some de repente e vira pó.
Lembrava-me
o tempo que trabalhei na empresa. Tudo cheio de normas para nos
controlar. Descobri que neste mundo as coisas parecem que funcionam
sempre dessa forma. Seguimos normas invisíveis e nem sempre nos
damos conta delas. Mas elas estão aí agindo a cada minuto, a cada
segundo em nosso dia a dia. E se quebramos a sequência ou mudamos
sua rota, a consequência não é nada bom. Os estudiosos chamam isso
de teoria do caos. É a ideia que tudo que acontece é resultado de
uma ação inicial. Daí dizerem que para cada ação há uma
consequência. Pensando bem nisso, vemos que não existe uma
liberdade real de ação para o humano. Ou melhor, ela é
condicionada a algo bom ou ruim. E a porcentagem de o ruim ganhar, é
sempre maior. Faça um teste e aposte na loteria, por exemplo.
Digamos que ganhar é o bom e perder é o ruim. Tem gente que aposta
a vida inteira e não ganha. E se alguém ganha, esse alguém será
um ou dois entre milhões de apostadores que perderam. Outro exemplo
é: Pegue dez pedras,coloque uma lata a distancia de dez metros.
Atire as pedras uma por uma, com calma e numa sequência. Depois
conte quantas vezes acertou a lata.Verá que a quantia de erros é bem maior que os acertos. Temos o direito e a liberdade de
tomar uma atitude ou fazer uma escolha. Mas não temos o direito de
saber se nos trará benefício ou não. É por isso que a vida as
vezes dá uma guinada, devido a nosso livre arbítrio. Viver é um
risco.
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Certo
domingo chuvoso estava só em casa e resolvi fazer uma viajem. Deitei
na cama e apertei o controle para oitenta anos rumo ao passado. Nos
tempos idos, teria mais controle sobre as coisas, do que no futuro
desconhecido. Agora já levava sobre a cama alguns utensílios como
ferramentas, cobertas e alguma coisa para comer. Apareci em um campo
verde. Próximo dali havia uma pequena colina com uma casa no topo.
Lembrei que perto de minha casa tinha também uma colina , embora
mais baixa, onde tinha no topo uma igreja.
Ao lado da casa em um varal, secavam roupas coloridas, balançando ao sabor da brisa morna da tarde. Desci da cama e acionei o controle para ela voltar ao presente. Ela imediatamente sumiu e certamente foi para o meu quarto. Marquei bem o lugar para o caso de uma emergência, não ficar procurando a esmo. Coloquei três pedras formando um triângulo onde a máquina ficara. Um calafrio percorreu minha espinha ao me sentir só. Tinha a impressão de estar a beira de um abismo e um passo em falso cair para as profundezas. Ao mesmo tempo lembrei que se queria ser um aventureiro, teria que enfrentar o que viesse , sem medo e com ousadia, mesmo que com isso perdesse a vida. Mas faria tudo o possível para não chegar a tal extremo. Queria morrer de velhice. Coloquei o controle no bolso, lembrando que ali estava o único elo que ligava ao meu mundo, o presente. Tentei não pensar nisso e sai caminhando devagar em direção a casa. As roupas no varal me acenavam com sinais de paz. Um cão começou a latir por trás da casa. Logo ele apareceu em disparada e em minha direção. Peguei no controle e fiquei em estado de alerta com o coração batendo na garganta. Esses bichos costumam atacar estranhos sem dar chance alguma. Estava a cerca de vinte metros onde a cama deveria aparecer, se a acionasse. Não daria tempo de chegar até ela se o cão me atacasse. Eu não tinha sorte com cachorros. Quando criança um me atacou, o que resultou em uma cicatriz no braço. Fiquei ali parado esperando para ver a reação do animal, olhando para ver se achava alguma pedra para me defender em caso de ataque. Felizmente, quando ele se aproximou, começou a agitar o rabo me festejando. Parecia que eu era um velho conhecido. Ele era um cão bonito, bem cuidado, grande e do focinho fino. Chegou junto e me lambeu a mão. Respirei aliviado. Se tivesse algum problema cardíaco ficaria por ali mesmo. Mas já tinha passado o perigo. Pior do que aquilo talvez não acontecesse. Devagar me aproximei da casa com o cão ao lado. Passei pelo varal e procurei chegar até a porta, que parecia ficar do lado oposto. Parecia ser uma entrada nos fundos que dava acesso a cozinha. Não vi outra. Senti cheiro de fumaça, certamente de um fogão a lenha. Não cheguei a bater na porta para ser atendido. Quando ergui a mão, a porta se abriu e apareceu uma bonita loira que me deixou de boca aberta, e cara de abobalhado. Não imaginava encontrar por ali gente tão bonita. Em um lampejo de memória, lembrei de Beatriz, que agora estava no limbo da obscuridade e que perdia feio, frente a esta beldade. Ela deu um gritinho de alegria e pulou em meu pescoço. Senti uma gostosura macia me envolver. Abracei-a de modo respeitoso, afinal não sabia quem era. Nessas alturas, ela poderia agir como se fosse uma filha, assim como o cachorro achou que me conhecia. Mas logo essa ideia desvaneceu, quando ela encheu minha boca de beijos, de esposa ou amante, sei lá. Daí aproveitei e fiz um reconhecimento geral com as mãos, como se estivesse pegando em uma joia preciosa.
Ao lado da casa em um varal, secavam roupas coloridas, balançando ao sabor da brisa morna da tarde. Desci da cama e acionei o controle para ela voltar ao presente. Ela imediatamente sumiu e certamente foi para o meu quarto. Marquei bem o lugar para o caso de uma emergência, não ficar procurando a esmo. Coloquei três pedras formando um triângulo onde a máquina ficara. Um calafrio percorreu minha espinha ao me sentir só. Tinha a impressão de estar a beira de um abismo e um passo em falso cair para as profundezas. Ao mesmo tempo lembrei que se queria ser um aventureiro, teria que enfrentar o que viesse , sem medo e com ousadia, mesmo que com isso perdesse a vida. Mas faria tudo o possível para não chegar a tal extremo. Queria morrer de velhice. Coloquei o controle no bolso, lembrando que ali estava o único elo que ligava ao meu mundo, o presente. Tentei não pensar nisso e sai caminhando devagar em direção a casa. As roupas no varal me acenavam com sinais de paz. Um cão começou a latir por trás da casa. Logo ele apareceu em disparada e em minha direção. Peguei no controle e fiquei em estado de alerta com o coração batendo na garganta. Esses bichos costumam atacar estranhos sem dar chance alguma. Estava a cerca de vinte metros onde a cama deveria aparecer, se a acionasse. Não daria tempo de chegar até ela se o cão me atacasse. Eu não tinha sorte com cachorros. Quando criança um me atacou, o que resultou em uma cicatriz no braço. Fiquei ali parado esperando para ver a reação do animal, olhando para ver se achava alguma pedra para me defender em caso de ataque. Felizmente, quando ele se aproximou, começou a agitar o rabo me festejando. Parecia que eu era um velho conhecido. Ele era um cão bonito, bem cuidado, grande e do focinho fino. Chegou junto e me lambeu a mão. Respirei aliviado. Se tivesse algum problema cardíaco ficaria por ali mesmo. Mas já tinha passado o perigo. Pior do que aquilo talvez não acontecesse. Devagar me aproximei da casa com o cão ao lado. Passei pelo varal e procurei chegar até a porta, que parecia ficar do lado oposto. Parecia ser uma entrada nos fundos que dava acesso a cozinha. Não vi outra. Senti cheiro de fumaça, certamente de um fogão a lenha. Não cheguei a bater na porta para ser atendido. Quando ergui a mão, a porta se abriu e apareceu uma bonita loira que me deixou de boca aberta, e cara de abobalhado. Não imaginava encontrar por ali gente tão bonita. Em um lampejo de memória, lembrei de Beatriz, que agora estava no limbo da obscuridade e que perdia feio, frente a esta beldade. Ela deu um gritinho de alegria e pulou em meu pescoço. Senti uma gostosura macia me envolver. Abracei-a de modo respeitoso, afinal não sabia quem era. Nessas alturas, ela poderia agir como se fosse uma filha, assim como o cachorro achou que me conhecia. Mas logo essa ideia desvaneceu, quando ela encheu minha boca de beijos, de esposa ou amante, sei lá. Daí aproveitei e fiz um reconhecimento geral com as mãos, como se estivesse pegando em uma joia preciosa.
----Por
que demorou?---ela me perguntou. Obviamente eu não sabia a resposta.
Arrisquei:-
----Houve
alguns problemas.
----Resolveu
cortar o cabelo?Ficou esquisito , mas está bom. ----Falou, passando
a mão em minha cabeça. Certamente que o meu corte de cabelo não
combinava com a moda da época.
----Que
tipo de problemas? ---Disse ela, voltando ao assunto. Mais uma
pergunta difícil.
----Há...
Já está tudo resolvido... Depois eu conto. ----Disse eu sem
desvencilhar de seus braços carinhosos. Devagar e grudada a mim ela
me arrastava para uma porta que deveria ser a do quarto. Eu gostava
da situação. Estava me sentindo um rei. Apareceu uma cama larga, e
ali rolamos nas loucas ondas do prazer. Ela era sensacional. Toda
redondinha, tinha a pele macia como o veludo e quente como o bafo do
fogão. Naqueles momentos, esqueci-me de muita coisa. Da viagem e dos
anos em que estava. Encontrava-me, tirando do passado, não uma
lembrança fictícia, mas algo real e palpável. Quando já estávamos
navegando em águas calmas, quando se fica olhando para o teto em um
relaxamento total, o cão latiu do lado de fora. Ela num
sobressalto, sentou na cama e rapidamente se vestiu. Parecia uma fada
na delicadeza e agilidade com que manuseava os botões e as dobras.
----Chegou
alguém--- disse baixinho. Eu assenti com a cabeça e ela foi até
outro cômodo. Ainda com a calça na mão, olhei pela janela que dava
para os lados do varal, e vi um homem se aproximando com o cão
repetindo a festa que fizera comigo. Fiquei gelado ao perceber que o
individuo era a minha cara e o meu corpo. Apenas estava com os
cabelos compridos,com roupa diferente e usava um chapéu. Em um
segundo minha cabeça trabalhou e veio mais rápida a resposta.
Certamente que seria o marido que voltava. A moça deveria estar indo
em direção a porta, para atendê-lo. Sem pestanejar, quando ele
saiu de minha visão atrás da casa, pulei rapidamente a janela e
atravessei a área do varal a toda velocidade. Apertei o controle e
a cama apareceu a dez metros. Pulei sobre ela e parti dali. Não sei
o que houve entre os dois. A moça deve ter ficado bem embaraçada.
Apareci em meu quarto, deitado na cama, pelado da cintura para baixo,
com a calça em uma mão e o controle em outra. Apesar do sufoco e
risco, estava gostando da coisa. Respirei fundo e fui até a cozinha
tomar uma água gelada.
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