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Para
mim, estava ótimo tudo aquilo. Via na amizade das duas algo cheio
de candura e honestidade. À noite, na cama,quando das confabulações
que todas as mulheres gostam, Eliza me contava os pormenores da
vida de Joice. Passei, a saber, os mínimos detalhes do cotidiano da
amiga. Quando víamos algum filme na TV ou algo de interesse, Eliza
fazia um jeito de colocar Joice ao meu lado. Não sabia se era para
me valorizar, ou no íntimo, não tinha ciúmes da outra. Eu ficava
em numa boa e me sentia um sultão entre as duas. Talvez essa fosse à
intenção de Eliza. Dentro de algum tempo, Joice precisou viajar
para ver a mãe que estava doente. Iria ficar ausente por três
dias. Pediu para Eliza ficar olhando a lojinha. Fez uma lista dos
produtos a venda e dos respectivos preços, para facilitar a estadia
de Eliza como vendedora. Isso para nos foi à grande oportunidade de
visitarmos o banco do passado. Na primeira noite, levamos a cama
até o local. A loja era na verdade uma casa onde o cômodo da frente
fora modificado para se tornar comercio. O lugar calculado para
pormos o tálamo seria o segundo cômodo depois da loja, um lugar
onde servia de depósito. Subimos na cama mesmo sem o colchão e os
forros, e acionei o controle para o tempo marcado. E lá fomos nós.
No local era noite também, assim ninguém viu o nosso apuro. O
lugar estava calmo e somente uma lâmpada mortiça clareava a ala dos
caixas. Infelizmente a cama ficou entre um cômodo e outro. Uma
enorme parede passava pelo meio dela e por cima de nossas pernas.
Era uma sensação ruim estar com as pernas cimentadas, dentro de uma
parede de quarenta centímetros de largura. Parecia que a construção
fora feita com a gente dentro. Assim ficamos com o corpo do lado de
fora do cofre e as pernas pelo lado de dentro. Eliza ficou branca e
antes que tivesse um ataque de pânico, acionei nossa volta
rapidamente. Chegamos ofegantes e demos um tempo para pensar melhor.
Esperei a moça se acalmar e comecei a fazer os cálculos da mudança
de posição do móvel, para ficar todo dentro do cofre. Uma ideia
angustiante me ocorreu que, se porventura um dia ficasse com a cabeça
presa dentro de uma parede ou coisa parecida, ou a própria mão
segurando o controle, estaria perdido. Agitei a cabeça como se
jogasse fora as ideias ruins e deduzi que arrastando a cama um metro
e meio, ela ficaria totalmente dentro do rico recinto. Eliza já
refeita do susto me ajudou a empurrar.
Como a área era pequena,
tivemos que colocar a cama em ângulo, com os pés encostados na
parede do depósito. Dessa forma, ficou inclinada. Certamente que do
lado de lá do tempo, ela ficaria na horizontal. Penduramo-nos no
móvel, se agarrando na estrutura da cabeceira e lá fomos novamente.
Desta vez correu tudo bem. Sentimos ficar com nossos corpos em nível
suavemente. Estávamos dentro do cofre. Começamos sem perda de tempo
a vasculhar arquivos e armários. Adverti Eliza que o dinheiro
deveria ser ignorado. Depois de algum tempo, encontramos o ouro.
Tinha somente algumas joias e três barras pequenas. Fiquei um pouco
decepcionado com o achado. Pensava encontrar muito mais. De repente,
ouvimos um ruído. Era a porta do cofre sendo aberta. Com a pressa,
subimos na cama com a carga preciosa. Ainda deu tempo de ver a frente
da porta já aberta, um homenzinho de bigode fino e cabelo ensebado
repartido ao meio, com óculos pequenos e redondos, e olhar
estupefato. Parece que ficou paralisado ao nos ver por segundos,
enquanto desaparecíamos em meio a um clarão. Deveria ser daqueles
gerentes que dorme pensando no serviço. Perdeu o sono na madrugada
e resolveu ir ate o estabelecimento, dar uma conferida no precioso
local de trabalho. Ganha-pão por muitos almejado e só conseguido a
duras negociações e influências políticas. Quando chegamos à
loja da Joice, caímos da cama, com Eliza rolando por cima de mim,
devido à inclinação. Depois de alguns minutos começamos a
conferir o saque. Encontramos somente uma barra de ouro. Eliza me
deu certeza que tinha carregado tudo.
----Então
porque não chegou?---- Perguntei meio irritado
----Como
vou saber? O engenheiro é você. ----Respondeu sem vacilar. Comecei
a avaliar a situação e deduzi que a inclinação da cama fez as
coisas caírem pelo caminho. Alguém no passado teria achado duas
barras de ouro e algumas joias, do nada.
----Isso
é que se chama de sorte verdadeira. ----Comentei com Eliza. ----A
pessoa entra em casa e lá esta duas barras de ouro e joias, ao
dispor, sem precisar apostar na loteria suspeita do governo, e nem
comprar carnês de estelionatários legalizados.
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