Literatura- 27.O tálamo...

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Certa vez, em uma manhã de domingo, Joice estava em casa e Eliza queria ir comprar alguma coisa para fazer o almoço. Ofereci-me para a tarefa, mas ouvi um não convincente. Creio que eu não sabia comprar coisas domesticas. Joice também se ofereceu de irem juntas, mas também foi convencida que deveria ficar conversando comigo, era coisa simples e rápida e logo estaria de volta. Depois que Eliza saiu, a outra veio sentar-se ao meu lado. Eu meio desconfiado de tudo aquilo, fiquei esperto. Tem horas que as mulheres são imprevisíveis. A manhã estava fresca, mesmo sendo verão e as horas passavam tranquilas e alegres. Do lado de fora se escutava o barulho de pardais. No meio da conversa, a moça começou a passar a mão em meu braço. Tomei aquilo como uma manifestação de amizade e continuei com o assunto. Ela foi progredindo e de repente me lascou um beijo quente e demorado. Enquanto eu ficava com cara de espanto, ela não se intimidava e continuava a me dar um tremendo amasso, soltando por cima de mim todo aquele corpão macio e cheiroso. Eu estava gostando, mas também estava ligado na volta de Eliza. Esta quando chegou, veio fazendo barulho, parece que propositalmente. Tomamos nossos lugares como bem comportados.


Eliza entrou com coisas nos braços e ao passar pela gente brincou:
----Estão namorando aí, é? Disse rindo.
----É... Tomei emprestado de você. ----Disse outra, me encarando com olhos maliciosos. Por minha vez, fiquei calado, pois não sabia exatamente do que se tratava. Poderia dar um grande fora e estragar tudo, que até ali estava muito bom. Eliza permaneceu na cozinha e Joice ao se levantar para ir ate lá, beijou a ponta do dedo e encostou este em minha boca, insinuando uma despedida. Fiquei no sofá, meditando sobre o curso da vida, onde às vezes se tem de menos e outras demais. Há tempos de vacas magras e outros de vacas gordas.
Nesta fase, nada tinha que reclamar. Só agradecer. Não estava rico, mas estava feliz, bem amado e satisfeito, pelo menos era o que parecia, naqueles dias alegres e  agradáveis.
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Vez ou outra procurava saber noticias do Aristides. Tínhamos que manter certa vigilância no homem, por precaução. Eliza se passava por uma amiga de trabalho e ligava em sua casa para saber das melhoras. Até ali parecia que ia tudo bem, o individuo teria voltado a trabalhar na empresa, embora tivesse um apagão de memória com coisas mais recentes. Outra vez, em um supermercado, encontrei um velho conhecido que era também um colega da “Açobom”. Entre um assunto e outro, perguntei do chefe, como se nada soubesse.
----Você não soube? Sequestraram o homem que ficou desaparecido durante cinco dias.
----E mesmo? ----Disse, mostrando surpresa pela noticia. ----Não fiquei sabendo. E agora como ele está?
----Já voltou ao trabalho... Você precisa ver... É outra pessoa. Ficou um pouco retraído, fala mais devagar, enfim, melhorou bastante.

----Que bom... ---Disse eu. Fiquei satisfeito com as novidades. Ele que tocasse a vida, contanto que não interferisse mais na minha, estava tudo ótimo. Parecia ao fim de tudo, que na verdade eu fizera um bem ao individuo em vez do mal. Tudo que seja feito para aperfeiçoar o ser humano, tem que ser encarado como benefício. Assim penso eu na minha ignorância. Ate hoje, acho que ele causou mais estrago em minha vida do que eu na dele. Mas hoje já vejo as coisas de uma maneira diferente e consigo analisar por outros ângulos. Não sei se são as amarguras que nos causam isso, ou é o aperfeiçoamento do espírito durante o passar dos anos. Mas qualquer coisa que seja, colabora para nosso bem. Depois de tudo, ficamos lembrando como se fosse uma velha peça de teatro, ou um filme há muito tempo assistido.

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