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De
repente, Joice vendeu a loja arrumou a mudança e foi embora levando
a Eliza, não sei para onde. Percebi quando numa tarde abafada de
verão, voltava do serviço e vi um caminhão estacionado em frente.
Era a mudança que saia. Quando cheguei a casa, estava tudo arrumado
para ser carregado no caminhão também. Em um canto, estava uma mala
com meus pertences, ao lado de alguns moveis que eram meus. A moça
estava sem jeito e aquele tipo de atitude não era natural ao jeito
dela. Imaginei que a outra estava influenciando sobre o que devia
fazer comigo.
----Olha
PG, eu sinto muito, mas não tenho outra escolha. Vou te deixar. A
não ser que você diga que me ama e não pode ficar sem mim. Daí
fico com você.
----Pelo
que vejo a tempo, já deduzi que mais cedo ou tarde iria te
perder.
----Não
me leve a mal, mas é que eu gosto realmente dela. E de você também.
----Tudo
bem... Pelo menos você é sincera comigo. Mas pode ir com ela.
Pelos meus cálculos parece que gosta mais dela. Não quero que fique
comigo, somente por um capricho de minha parte, sabendo com
antecipação que você é mais ligada a ela. Desejo toda a
felicidade as duas.
----Você
me perdoa?----Disse com cara de tristeza.
Nada
tenho que perdoar... Você foi muito legal e honesta comigo, todo o
tempo que passamos juntos. Eramos um casal que se dava bem. Sinto
muito das coisas tomarem esse rumo. Mas, fazer o que. Não podemos
controlar o modo de vida das pessoas, nem o seu destino.
----Não
esquenta não. Já estou acostumado. Ah... Leve também os meus
móveis... Nada vou fazer com eles.
----Não
vai usá-los? Se quiser ficar alugando a casa, posso falar com a
imobiliária.
----Não...
É muito grande para uma pessoa só. Vou alugar um quarto mobiliado ou
coisa do gênero. Depois vou ver o que faço de minha vida. ----Ela
veio até mim e me abraçou com força. Naquele abraço, dava a
impressão que não queria ir. Depois de um bom tempo me apertando,
ela se afastou lentamente, com lágrimas nos olhos. A outra , não
apareceu para se despedir e também não fui procurá-la. Para mim
ela era a causa de tudo. Estava evitando me ver com medo de uma
reação violenta de minha parte. Ali estava eu outra vez, em nova
encruzilhada do destino. Abandonado,sozinho e sem opções.
Precisava parar, pensar e organizar novos planos. Fiquei olhando o
caminhão ir se afastando devagar e levando com ele, um pedaço do
meu tempo. Enquanto não o vi dobrar uma esquina não desisti, na
esperança de uma parada e Eliza voltar correndo para meus braços.
Não parou.
Voltei
para dentro da casa e senti uma tristeza, olhando nas paredes nuas e
nos espaços vazios. Antes tinha perdido minha mulher para um
homem... Hoje estava perdendo outra para uma bissexual. Comecei a
imaginar que não dava mesmo sorte com elas. Mas desta vez não iria
cair em depressão. Faria tudo para não pisar os mesmos caminhos já
percorridos. Ja os conhecia muito bem. Nessa noite dormi em um
pequeno colchão velho, que sobrou da mudança. Ia entrar novamente
em tempo de solidão. A presença feminina em uma casa, livra-nos de
pequenos problemas, tais como limpeza e organização. É aí que
entra a teoria que a mulher completa o homem. Coisas que não
gostamos de fazer, elas fazem brincando,com boa vontade e alegria,
naturalmente. Outro dia comecei a procurar um lugar para morar.
Consultei um jornal e ver se achava algo interessante, não muito
distante do meu trabalho. Por um capricho do destino vi um anúncio
de imobiliária, que a casa que eu morava anteriormente, estava para
alugar. E o melhor, queriam alugar mobiliada. Imediatamente entrei em
contato com o locador. Fui dar uma olhada na casa e gostei da
mobília. Fechei contrato no mesmo dia. O que eu ganhava trabalhando
de segurança, mais a pequena renda do dinheiro no banco, davam para
tocar a vida sem maiores problemas. E lá voltei para a casinha
novamente. O Aristides certamente que não voltaria a mexer com
encrencas antigas. Enfim, era um risco que tinha que ser enfrentado.
A vida é sempre formada de riscos. Cabe a nós administrá-los. O
limoeiro do quintal estava um pouco judiado e voltaram a amarrar nele
a corda do varal. Foi a primeira providência que tomei. Cerquei-o
com alguns tijolos velhos e dentro do circulo coloquei terra preta
para dar uma força. Ocasionalmente molhava suas raízes para dar
ânimo ao amigo que voltava a encontrar. O quarto, embora com móveis
diferentes ,lembrava o tempo da cama mágica. Certamente que se
houvesse uma denuncia do Aristides, e viessem me procurar, já tinha
um álibi. Estava morando ali recentemente. Em uma tarde de sábado,
quando fazia a sexta, alguém bateu. Imaginei que fossem Testemunhas
de Jeová e não fui atender. Mas com a insistência, fui verificar.
No começo não a conheci. Depois de alguns minutos vi que era
Beatriz. Estava acabada, judiada, que imediatamente me deu dó pelo
estado que se encontrava. Mais magra e mais velha, talvez mais pela
vida árdua que pelo tempo, tinha a face diferente de quando era
minha esposa. Parecia uma estranha, menos pela voz e o jeito familiar
de falar que me embalava nos velhos tempos. Seu cabelo antes cheio de
vida e ondulações, agora era um emaranhado de fibras secas.
Convidei-a para entrar e começamos a conversar sobre a vida de cada
um. Disse-me que o romance com Aristides foi um grande engano. Depois
de pouco tempo ele a largou como largava de todas as outras. Na
conquista, acenava para uma vida melhor e mostrava que tinha dinheiro
com exibições teatrais, coisas que atraem a maioria das mulheres.
Fiquei curioso em saber como ela teria me achado. Disse que conheceu
Eliza há pouco tempo e por ela chegou ate eu. Fiquei impressionado
com a corrente de informações, já que imaginava que nem Eliza
soubesse que estava ali morando. Enfim, depois de muita conversa e
recordações do passado ela disse para o que veio: Pedir perdão e
tentar uma possível reconciliação. Disse que tinha se informado
que uma reconciliação era facilmente resolvida, pois seria rápida
a voz da justiça que os tornaria casados novamente. Fiquei na
defensiva e inventei um monte de motivos, tentando dizer que não,
por meio de subterfúgios e pretextos. Não daria mais certo. Evitei
a humilhar ainda mais, numerando fatos que aconteceram e me levaram
dar uma volta ao inferno, depois que ela foi embora. Por fim a
despachei, não dando um mínimo de esperança. Não queria mais nada
com ela. Pelo que me fez passar, merecia somente o desprezo. Já
estava fazendo muito em atendê-la. Tem coisas na vida onde as
oportunidades são únicas. Depois que ela saiu, fiquei orgulhoso de
mim mesmo, em ser tão exato e convicto na decisão. Respirei fundo
e uma sensação de paz invadiu minha cabeça. Era mais uma pagina
que virava, deixando para trás somente o amargor. Sentia-me leve e
solto. Ela para mim se transformou em uma estranha. A minha esposa
de antigamente , não existia mais. Não sentia mais nada por ela a
não ser compaixão. Ela resignada foi embora certa que comigo não
haveria mais possibilidade. Continuei com minha vida solitária.
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