Literatura-31.O tálamo...

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De repente, Joice vendeu a loja arrumou a mudança e foi embora levando a Eliza, não sei para onde. Percebi quando numa tarde abafada de verão, voltava do serviço e vi um caminhão estacionado em frente. Era a mudança que saia. Quando cheguei a casa, estava tudo arrumado para ser carregado no caminhão também. Em um canto, estava uma mala com meus pertences, ao lado de alguns moveis que eram meus. A moça estava sem jeito e aquele tipo de atitude não era natural ao jeito dela. Imaginei que a outra estava influenciando sobre o que devia fazer comigo.
----Olha PG, eu sinto muito, mas não tenho outra escolha. Vou te deixar. A não ser que você diga que me ama e não pode ficar sem mim. Daí fico com você.
----Pelo que vejo a tempo, já deduzi que mais cedo ou tarde iria te perder.
----Não me leve a mal, mas é que eu gosto realmente dela. E de você também.
----Tudo bem... Pelo menos você é sincera comigo. Mas pode ir com ela. Pelos meus cálculos parece que gosta mais dela. Não quero que fique comigo, somente por um capricho de minha parte, sabendo com antecipação que você é mais ligada a ela. Desejo toda a felicidade as duas.
----Você me perdoa?----Disse com cara de tristeza.
Nada tenho que perdoar... Você foi muito legal e honesta comigo, todo o tempo que passamos juntos. Eramos um casal que se dava bem. Sinto muito das coisas tomarem esse rumo. Mas, fazer o que. Não podemos controlar o modo de vida das pessoas, nem o seu destino.


---Obrigada... Eu vou, mas vou ficar preocupada com você.
----Não esquenta não. Já estou acostumado. Ah... Leve também os meus móveis... Nada vou fazer com eles.
----Não vai usá-los? Se quiser ficar alugando a casa, posso falar com a imobiliária.
----Não... É muito grande para uma pessoa só. Vou alugar um quarto mobiliado ou coisa do gênero. Depois vou ver o que faço de minha vida. ----Ela veio até mim e me abraçou com força. Naquele abraço, dava a impressão que não queria ir. Depois de um bom tempo me apertando, ela se afastou lentamente, com lágrimas nos olhos. A outra , não apareceu para se despedir e também não fui procurá-la. Para mim ela era a causa de tudo. Estava evitando me ver com medo de uma reação violenta de minha parte. Ali estava eu outra vez, em nova encruzilhada do destino. Abandonado,sozinho e sem opções. Precisava parar, pensar e organizar novos planos. Fiquei olhando o caminhão ir se afastando devagar e levando com ele, um pedaço do meu tempo. Enquanto não o vi dobrar uma esquina não desisti, na esperança de uma parada e Eliza voltar correndo para meus braços. Não parou.

Voltei para dentro da casa e senti uma tristeza, olhando nas paredes nuas e nos espaços vazios. Antes tinha perdido minha mulher para um homem... Hoje estava perdendo outra para uma bissexual. Comecei a imaginar que não dava mesmo sorte com elas. Mas desta vez não iria cair em depressão. Faria tudo para não pisar os mesmos caminhos já percorridos. Ja os conhecia muito bem. Nessa noite dormi em um pequeno colchão velho, que sobrou da mudança. Ia entrar novamente em tempo de solidão. A presença feminina em uma casa, livra-nos de pequenos problemas, tais como limpeza e organização. É aí que entra a teoria que a mulher completa o homem. Coisas que não gostamos de fazer, elas fazem brincando,com boa vontade e alegria, naturalmente. Outro dia comecei a procurar um lugar para morar. Consultei um jornal e ver se achava algo interessante, não muito distante do meu trabalho. Por um capricho do destino vi um anúncio de imobiliária, que a casa que eu morava anteriormente, estava para alugar. E o melhor, queriam alugar mobiliada. Imediatamente entrei em contato com o locador. Fui dar uma olhada na casa e gostei da mobília. Fechei contrato no mesmo dia. O que eu ganhava trabalhando de segurança, mais a pequena renda do dinheiro no banco, davam para tocar a vida sem maiores problemas. E lá voltei para a casinha novamente. O Aristides certamente que não voltaria a mexer com encrencas antigas. Enfim, era um risco que tinha que ser enfrentado. A vida é sempre formada de riscos. Cabe a nós administrá-los. O limoeiro do quintal estava um pouco judiado e voltaram a amarrar nele a corda do varal. Foi a primeira providência que tomei. Cerquei-o com alguns tijolos velhos e dentro do circulo coloquei terra preta para dar uma força. Ocasionalmente molhava suas raízes para dar ânimo ao amigo que voltava a encontrar. O quarto, embora com móveis diferentes ,lembrava o tempo da cama mágica. Certamente que se houvesse uma denuncia do Aristides, e viessem me procurar, já tinha um álibi. Estava morando ali recentemente. Em uma tarde de sábado, quando fazia a sexta, alguém bateu. Imaginei que fossem Testemunhas de Jeová e não fui atender. Mas com a insistência, fui verificar. No começo não a conheci. Depois de alguns minutos vi que era Beatriz. Estava acabada, judiada, que imediatamente me deu dó pelo estado que se encontrava. Mais magra e mais velha, talvez mais pela vida árdua que pelo tempo, tinha a face diferente de quando era minha esposa. Parecia uma estranha, menos pela voz e o jeito familiar de falar que me embalava nos velhos tempos. Seu cabelo antes cheio de vida e ondulações, agora era um emaranhado de fibras secas. Convidei-a para entrar e começamos a conversar sobre a vida de cada um. Disse-me que o romance com Aristides foi um grande engano. Depois de pouco tempo ele a largou como largava de todas as outras. Na conquista, acenava para uma vida melhor e mostrava que tinha dinheiro com exibições teatrais, coisas que atraem a maioria das mulheres. Fiquei curioso em saber como ela teria me achado. Disse que conheceu Eliza há pouco tempo e por ela chegou ate eu. Fiquei impressionado com a corrente de informações, já que imaginava que nem Eliza soubesse que estava ali morando. Enfim, depois de muita conversa e recordações do passado ela disse para o que veio: Pedir perdão e tentar uma possível reconciliação. Disse que tinha se informado que uma reconciliação era facilmente resolvida, pois seria rápida a voz da justiça que os tornaria casados novamente. Fiquei na defensiva e inventei um monte de motivos, tentando dizer que não, por meio de subterfúgios e pretextos. Não daria mais certo. Evitei a humilhar ainda mais, numerando fatos que aconteceram e me levaram dar uma volta ao inferno, depois que ela foi embora. Por fim a despachei, não dando um mínimo de esperança. Não queria mais nada com ela. Pelo que me fez passar, merecia somente o desprezo. Já estava fazendo muito em atendê-la. Tem coisas na vida onde as oportunidades são únicas. Depois que ela saiu, fiquei orgulhoso de mim mesmo, em ser tão exato e convicto na decisão. Respirei fundo e uma sensação de paz invadiu minha cabeça. Era mais uma pagina que virava, deixando para trás somente o amargor. Sentia-me leve e solto. Ela para mim se transformou em uma estranha. A minha esposa de antigamente , não existia mais. Não sentia mais nada por ela a não ser compaixão. Ela resignada foi embora certa que comigo não haveria mais possibilidade. Continuei com minha vida solitária.

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