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O
enterro do filho do padeiro foi de uma consternação generalizada e
sem o conformismo de quando uma pessoa velha morre. Tinha choro por
todos os lados, o que fazia uma profunda tristeza ecoar pelos
logradouros estreitos dos túmulos. Valdívia também chorava em
silêncio, segurando meu braço. Senti-me mais aliviado quando saímos
do cemitério. Tentei conformar a moça com palavras tipo: “A vida
continua”, “ele está agora em uma melhor”, mas na entonação
da voz havia algo de falso. Não conseguia falar coisas acalentadoras
em situações especiais. A morte para mim era o fim de tudo e não
conseguia mentir com convicção para iludir os outros com palavras
de conforto. Levei a funcionária para casa e depois voltei para a
minha, procurando esquecer tudo aquilo o mais rápido possível.
Outro dia seria um novo dia. E a vida para nós continuava... Dormir,
acordar, comer, trabalhar, chorar e rir. Pensava eu que em algum
lugar fora da terra ou segundo um livreto que li uma vez,dizia que em outra
dimensão, existia uma biblioteca enorme onde cada ser humano tinha um livro onde estava marcada a trajetória da vida
de cada um de nós. O passado e o futuro. No acreditava muito naquilo, mas era uma teoria.Então se assim fosse ,não
adiantaria ficarmos nos preocupando com o que passou, ou com o que
vai acontecer. Seria o mesmo que um trem andando, passando por
pontes e túneis, entre montanhas ou por vales verdes, tendo a
certeza que a chegada estava pré-determinada, no fim dos trilhos.
Com essas idéias na cabeça acabei dormindo com certa tranquilidade.
Outro dia levei comigo a arma para guardar na loja, escondida da funcionária, para não deixá-la mais atormentada. Pelo jornal, fiquei sabendo que os dois elementos que tinham assaltado a padaria já tinham sido pegos pela policia e consequentemente trancafiados. Se alguém fosse assaltar minha loja certamente que não seriam os mesmos. Mostrei a noticia para a moça com o intuito de deixá-la tranquila. Ela ainda trazia no semblante amostras do espírito quebrantado, pela perda do amigo.O dia transcorreu normal e a tarde ela já estava puxando conversa, se acostumando aos poucos com a nova situação. Faltando meia hora para baixarmos as portas, estava eu no banheiro, quando ela deu um grito chamando pelo meu nome. Pensei ser o assalto que previra e já estaria em andamento. Saí rapidamente com a arma na mão, mas o que vi foi algo completamente diferente. Ela abraçava outra moça, que a primeira vista e contra a luz que vinha da rua, não deu para reconhecer. Estava vestida com um uniforme militar que não me era estranho. Era Ísis que voltava. Fiquei paralisado pela emoção de vê-la novamente, quase não acreditando que era ela e ao mesmo tempo descobrindo que a esperava nem que fosse pela eternidade afora. Ela me vendo largou da funcionária e veio em minha direção com os braços abertos e me envolveu quase me sufocando pelo aperto. Um abraço transmite todo carinho e afeto que um ser humano sente pelo outro. Ali estava eu sem palavras e admirando-a, percebendo que continuava a mesma desde o primeiro dia que a conheci. O passar do tempo não a afetava. A única coisa que estranhei era um odor forte de suor, que pensei ser do uniforme. Afinal não sabia o que ela tinha passado nesse tempo todo...Os dias eram apenas uma contagem de números para sua tez macia e indiferente ao tempo. Depois veio a avalanche de perguntas tanto minhas como de Valdívia. Fechamos a loja e fomos para minha casa, os três. Valdívia não tinha pressa, queria conversar com a amiga que ha mais de dois anos não via. Em casa ela ficou um pouco tímida, daí lembrei que era a presença da outra. Expliquei que Valdívia sabia de tudo. Daí ela ficou mais a vontade e começou a falar com mais desenvoltura.--Há quanto tempo vocês não me vêem?--Perguntou abrindo bem os olhos.--Passa um pouco de dois anos. --Respondi, esperando com curiosidade o desfecho da conversa.--Para mim faz dois dias... Parece que aqui, o tempo passa mais rápido.Não entendi bem o que ela queria explicar, pois minha curiosidade era maior, em saber como ela conseguiu voltar.Eu e a funcionária agíamos como duas crianças, na espera de uma historia há ser contada pela avó.
Outro dia levei comigo a arma para guardar na loja, escondida da funcionária, para não deixá-la mais atormentada. Pelo jornal, fiquei sabendo que os dois elementos que tinham assaltado a padaria já tinham sido pegos pela policia e consequentemente trancafiados. Se alguém fosse assaltar minha loja certamente que não seriam os mesmos. Mostrei a noticia para a moça com o intuito de deixá-la tranquila. Ela ainda trazia no semblante amostras do espírito quebrantado, pela perda do amigo.O dia transcorreu normal e a tarde ela já estava puxando conversa, se acostumando aos poucos com a nova situação. Faltando meia hora para baixarmos as portas, estava eu no banheiro, quando ela deu um grito chamando pelo meu nome. Pensei ser o assalto que previra e já estaria em andamento. Saí rapidamente com a arma na mão, mas o que vi foi algo completamente diferente. Ela abraçava outra moça, que a primeira vista e contra a luz que vinha da rua, não deu para reconhecer. Estava vestida com um uniforme militar que não me era estranho. Era Ísis que voltava. Fiquei paralisado pela emoção de vê-la novamente, quase não acreditando que era ela e ao mesmo tempo descobrindo que a esperava nem que fosse pela eternidade afora. Ela me vendo largou da funcionária e veio em minha direção com os braços abertos e me envolveu quase me sufocando pelo aperto. Um abraço transmite todo carinho e afeto que um ser humano sente pelo outro. Ali estava eu sem palavras e admirando-a, percebendo que continuava a mesma desde o primeiro dia que a conheci. O passar do tempo não a afetava. A única coisa que estranhei era um odor forte de suor, que pensei ser do uniforme. Afinal não sabia o que ela tinha passado nesse tempo todo...Os dias eram apenas uma contagem de números para sua tez macia e indiferente ao tempo. Depois veio a avalanche de perguntas tanto minhas como de Valdívia. Fechamos a loja e fomos para minha casa, os três. Valdívia não tinha pressa, queria conversar com a amiga que ha mais de dois anos não via. Em casa ela ficou um pouco tímida, daí lembrei que era a presença da outra. Expliquei que Valdívia sabia de tudo. Daí ela ficou mais a vontade e começou a falar com mais desenvoltura.--Há quanto tempo vocês não me vêem?--Perguntou abrindo bem os olhos.--Passa um pouco de dois anos. --Respondi, esperando com curiosidade o desfecho da conversa.--Para mim faz dois dias... Parece que aqui, o tempo passa mais rápido.Não entendi bem o que ela queria explicar, pois minha curiosidade era maior, em saber como ela conseguiu voltar.Eu e a funcionária agíamos como duas crianças, na espera de uma historia há ser contada pela avó.
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