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À
noite, a seis quadras de casa, no quarto de um hotel barato, Isis
contava como conseguiu voltar. Antes disso tínhamos levado a
funcionária para casa. Outro dia de manhã começariam as
providências.--Aquela
noite que me levaram, nada pude fazer porque eles são poderosos.
Eles me conhecem melhor que eu mesma. Mal deu tempo de riscar a
revista e jogá-la sob o guarda-roupa. Logo me desligaram totalmente.
Meu sistema e igual sua TV quando você a programa para ser ligada
em uma hora determinada. Depois de três horas volto a ligar
automaticamente se ninguém interferir.----A noite estava com um
frescor incomum para a época do ano e lá fora uma pálida lua dava
um tom prateado nos altos contornos dos prédios. Passamos a maior
parte do tempo conversando.--Quando
acordei já estava no Paço. ----Dizia ela--- Lá eles viajam em
pequenas naves que variam bastante no formato. Muitas vezes eles as
mandam para outros lugares sem tripulação alguma e passam
despercebidas. São naves que viajam no espaço e no tempo. Nessas
pequenas naves é usado um metal que não existe aqui. Ele se
derrete a frio e toma formas variáveis conforme uma pré
programação. -----Parece que já vi isso em um filme. ----Falei
cortando a narração. Ela ignorou meu aparte e continuou explicando
seriamente. ----A que você descobriu tinha o formato de uma cama.
Mas no momento em que era acionada ela mudava para a forma original
com um brilho intenso.--Porque
fazem isso? De as mandarem sem tripulação para cá?--Elas
captam informações e garantem a volta caso haja algum problema com
as que vieram. Funciona também como uma armadilha para levar humanos
para lá. Você foi uma delas.--A
próxima cama que for comprar vou verificar bem e terá que ser de
madeira. Somente assim vou dormir sossegado.--Mas
não é só em cama que elas se transformam. Pode ser um
guarda-roupa, um armário, depende da utilidade para que vai servir.Eu
estava presa em um quarto semelhante ao que você viu. No tamanho
era igual, mas era o que vocês chamam de oficina.Me puzeram lá,
desligada, para esperar os técnicos que iriam trabalhar comigo.Por
sorte eles se atrasaram e acordei antes da chegada deles. Eu já sabia que
ia ser reprogramada, e você ia ser apagado de minha memória. Era
isso que faziam com aparelhos desajustados. E para eles eu era um
desses. Só que eles não sabiam do meu aprendizado aqui na terra. A
porta de saída estava trancada e do lado de fora estava um guarda
vigiando.
Quando vi que uma nave tinha chegado, sabia que eram os
técnicos que vinham me ver, pelas características de seus
uniformes. Logo que a nave foi deixada sozinha, abri a porta com
cuidado, arrancando a maçaneta e puxei a guarda para dentro,
silenciando-a. Vesti seu uniforme fedorento para poder sair dali sem
ser percebida.Puxei o corpo para debaixo de uma mesa, quando os
técnicos entravam. Olharam para mim me questionando e fiz um sinal
que a moça que vieram ver, estava no banheiro.Enquanto eles
discutiam entre si, não sei o que,saí despercebida,naturalmente,
porque o meu lugar ( da guarda)seria do lado de fora. Andei
normalmente até a nave, entrei e direcionei-a para cá. Tinha
decorado o código quando de nossa viagem para cá. Quando aqui
cheguei mandei-a de volta para outro lugar.--Espera
aí... Foi tão fácil assim? A porta da sala não estava trancada?--Estava,
mas eu a abri. ----Respondeu ela seriamente.--Daí
você fez igual aquele clichê dos filmes: Com dois araminhos abriu a
fechadura. ----Falei em tom de sarcasmo.--
Não... Já disse...Virei à maçaneta com a mão umas duas vezes.--O
que? ----Disse eu com um sorriso sem graça. Mediante minha cara de
descrédito ela foi até a porta do banheiro e como se fosse um
palito, arregaçou a fechadura perante meus olhos. E em seguida
trouxe e me colocou nas mãos. Na porta, dava para ver um pedaço
da pia pelo buraco, no lugar onde era a fechadura. Ela continuou
natural:--E
a guarda não reagiu quando você a puxou?----Perguntei ainda
boquiaberto.Não
deu tempo, porque apliquei nela um golpe de karatê.Eu
cada vez mais impressionado com a moça, perguntei:--Karatê?
Onde você viu isso?Lá ensinam artes marciais?--Não,
bobinho. Aprendi com seus livros. Aliás tudo que sei aprendi com os
livros.----Disse naturalmente. Eu estupefato com a narrativa, já
achava perfeitamente normal a escapada dela. Poderia deixá-la na
loja a mercê dos assaltantes sem me preocupar. Por outro lado, seria
bom, nunca contrariá-la.--Eu
dei a você um livro sobre karatê?Não me lembro.--Sim...
Tinha por título: “A arte do karatê para defesa
pessoal.”----Peguei sua mão para verificar se tinha algum
machucado, mas estava macia quente e perfeita como sempre. A moça
para mim era uma caixinha de surpresas. Ainda bem que surpresas
agradáveis.O livro a que ela se referiu, deveria ter vindo junto com um pacote que comprei em um sebo.
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