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Um
dia, no futuro, sonhei com minha salvadora, quando já estava vendo
o acidente como uma coisa do passado e sem valor emocional. Estava
em um bonito lugar cheio de jardins, animados com pássaros e abelhas
que perambulavam pelas cheirosas flores. Pequenos córregos de água
cristalina alimentavam um lago não muito grande, onde aves nadadoras
faziam pequenas ondas nas águas límpidas e calmas. Parecia a área
de um templo de monges, com aquela tranquilidade e paz,
características de tais lugares. Só que não via nenhum templo ou
qualquer tipo de construção pelo menos nas proximidades. Sob as
arvores, sentadas em bancos confortáveis, pessoas conversavam,
outras liam e outras simplesmente admiravam a paisagem que era
maravilhosa, emoldurada por montanhas ao longe, com seus picos
nevados.Eu caminhava devagar pelas vias que serpenteavam entre os
canteiros verdejantes, calçadas com pedras de granito verde. Uma
moça vinha em minha direção, sorrindo como se visse um velho
conhecido.Pensei que alguém tinha se enganado, pensando ser eu uma
outra pessoa.Daí ao chegar perto ela disse:--Oi
PG,... Você por aqui? Que surpresa agradável. Como vai?--Daí
que a conheci.--Meu anjo da guarda? ----Perguntei, ainda em tom de
duvida.--
Não...pode me chamar de Celina.--Então,
muito prazer em vê-la pela terceira vez. Hoje tem tempo para uma
conversa?---Só
cinco minutos, que tenho um compromisso.--Um
compromisso em um lugar deste? Onde tarefa ,parece ser a ultima coisa
em que se pense?--Estou
só passando por aqui.--Sentamos em um banquinho próximo.--Bem...Parece
que agora vamos conversar de fato. Quero fazer a tempos uma pergunta:
Porque você me salvou e deixou o homem que me agarrava, morrer?--PG,
tem coisas que você não entenderia, pelo menos agora. Digamos que
o dia dele chegou e o seu ainda não. E que seguimos quer queiramos
ou não, uma lei justa, infalível , porém implacável.--Quer
dizer que vai ter uma hora que não poderei contar contigo?--Exatamente.
Mas não se preocupe. Vai demorar e quando chegar a hora, o estarei
esperando no outro lado. Você não gosta de me ver?--Você
falando assim está me induzindo ao suicídio. Sabe que poderei não
resistir a tentação de estar ao seu lado.--Para
tudo tem seu dia e sua hora. Não tente forçar as coisas, que daí
tudo pode se complicar e o arrependimento é enorme.--Eh
Eh... Estava brincando.--Eu
sei... Agora é hora de você acordar.
Meio
zonzo, acordei com as palavras na cabeça... ”É hora de acordar”.
Estiquei a mão pelo escuro e virei o relógio com o mostrador do meu
lado. Marcava três e meia. Escutei um pequeno barulho vindo de
baixo, pelo lado da rua. Parece que mexiam na porta de aço do
comércio. Falei baixinho com Ísis e ela me respondeu prontamente:--Já
escutei também... Vou ver o que é.----Dizendo isso já estava em pé
colocando o robe cor de rosa. Meio preocupado pelo que viesse
acontecer , tentei orientá-la para não fazer alguma besteira.--Espera
aí... Não vá matar outro ladrão. Vamos machucá-lo somente e
chamar a policia. Estou cansado de fazer enterros.--Você
é quem manda... Enquanto você telefona, eu desço dar um jeito.
----Rapidamente ela pegou um lenço grande e não sei onde, arranjou
uma peruca loira, que imaginei ser de Elisa. O apartamento sobre o
comercio, tinha duas entradas. Uma pela lateral da loja que a gente
usava mais em fins de semana, e outra por dentro da mesma por
intermédio de uma escada que ficava escondida atrás do banheiro. A
moça desceu pela primeira, abriu bem devagar a porta da rua e viu um
individuo tentando arregaçar a porta com um pé de cabra. A brisa
fresca da madrugada, acariciou seus cabelos artificiais. Ao ver uma
mulher, o ladrão não se intimidou e disse:--Se
manda. ----Com cara feia, como se alguém o atrapalhasse em um
importante serviço.--Não
posso... Você está violentando a porta de minha loja. Vou dar uma
chance para você ir embora sem se machucar,desde que prometa não
vir mais tentar me roubar. ----Na porta já havia um vão de mais de
um palmo na parte de baixo onde ele fazia a alavanca. Ouvindo aquilo
e confiando em suas forças de macho, resolveu partir para cima dela
com a barra de aço levantada. Como ela não se mexeu nos primeiros
momentos, ele se embalou todo para dar uma ferrada de cima para baixo
na cabeça da moça. O movimento acordou a vizinhança, mas ninguém
aparecia, com receio. Nessas horas é cada um por si. Se morrer ,
terás uma bela plateia assistindo o ato de sua morte. Porém ninguém
irá comparecer a polícia como testemunha. Eu, ligando para policia,
pedi urgência, com medo que Isis matasse o elemento. Com rapidez
incrível ela se desviou no ultimo instante em que o aço descia
zunindo, muito próximo de sua cabeça. Enquanto o ladrão se
desequilibrava com o golpe no ar, um chute certeiro atingiu sua perna
direita, dobrando-a abaixo do joelho e expondo pontas de ossos
brancos. Antes mesmo de terminar o berro de dor, levou outro chute do
mesmo calibre na perna esquerda. Depois disso, ela calmamente subiu
a escada de volta ao apartamento. Encontramo-nos no meio, quando eu
já descia em socorro do ladrão.--Está
tudo bem... ----Disse ela. Pode voltar que ele não está morto.
Tinha um lenço tapando o rosto por prevenção, segundo ela.Na
rua, o sujeito não parava de gritar de dor, deitado, sem poder
levantar. Quando a polícia chegou, veio também uma
ambulância.Quando liguei para eles sugeri que a mandassem, pois
teria gente machucada. Bateram em nossa porta e Isis disse para eu
ficar que ela iria resolver. Próximo a janela de cima deu para
escutar o dialogo entre eles.---É
da senhora o estabelecimento?--Sim.
Escutamos o barulho e meu marido chamou-os.--Ele
foi agredido por alguém... A senhora não sabe nos informar?---Infelizmente,
não. Fiquei com medo de sair à janela e levar um tiro.A
senhora pode assinar aqui, trata-se do boletim de ocorrência, de
tentativa de roubo. Agora a sua porta vai precisar de reparos.--Tudo
bem, obrigada. Amanhã providencio... Bom dia. ----Em poucos minutos
,tudo estava calmo na rua novamente. Já era quatro e meia da
madrugada. Dali a pouco viria à alva, clareando as frestas da
veneziana. Não daria para dormir mais, devido à agitação da
noite. Fui até a cozinha fazer um café. Ísis não me deixava só.--Perdeu
o sono também?--É...
Acho que perdi. ----Eu sabia que aquilo era apenas um inocente
fingimento. Afinal eu tinha uma super-mulher morando comigo, e não
tinha choramingos sem motivos, dengos ou outras coisas
características do sexo feminino. Fui até ela e a abracei com
paixão, me considerando um felizardo. Quem teria uma, igual a ela?Dentro
de alguns dias apareceu na rua um individuo da policia civil, fazendo
perguntas. Nada obteve de concreto. Ali como em todo o país imperava
a lei do silêncio. Essa lei, muito mais eficaz que as dos livros
jurídicos, pelo descrédito que o povo tem nos governantes. Segundo
os jornais, o depoimento do ladrão era que: Apareceu, de não sei
onde, uma loira com um lenço no rosto e o agrediu. Mas a ferramenta
e a porta forçada o incriminavam. Alguém lançou um boato que em
nosso bairro tinha uma super–heroína que semelhante a “mulher
maravilha”, defendia os fracos e oprimidos e tapava uma lacuna
deixada pelo sistema, com a falta de segurança. O boato até foi bom
porque os bandidos ficaram com receio de agir por ali. Alguém teria
visto a moça em ação, mas ficou em duvida pelo cabelo e de não
ver o rosto. E nesses casos o melhor e ficar calado. O assunto só e
comentado nas mesas dos bares, nos bancos das praças e nos salões
de barbeiros. Tudo entre amigos e em voz baixa. Estávamos
tranquilos quanto ao desfecho do processo. Logo trouxemos Valdívia e
a mãe para a nova cidade. Ficaram conosco por alguns meses até
acharmos uma casa tranquila e de preço razoável em um bom bairro
para alugar. A velha mãe da moça,tinha suas manias e foi um pouco
difícil estarmos todos no mesmo apartamento. A velha me elegeu como
seu inimigo, assim do nada e de graça. Parece que ela tinha que
ocupar a mente com algo, para passar as horas demoradas da
senilidade. Mas a amizade que tinha pela filha, ajudava a me dar
paciência. Apartamentos têm a tendência a ficarem pequenos quando
se aumenta o numero de pessoas. Não tem quintal e a privacidade
acaba. Não se podia andar de bermudas que a velha ficava de olhares
repreensivos. Logo começou a dar indireta. Parecia que ao contrario
da filha, a velha não ia com minha cara decisivamente. Esforcei-me
por conquistá-la com agrados e presentes, mas não houve jeito. Ísis
se divertia com a situação e me aconselhava a ter paciência já
que era uma conjuntura passageira. A minha amizade com a filha
superava certas expectativas. Percebia que ocasionalmente no trabalho
quando ficávamos muito perto a situação as vezes obrigava a alguns
esbarrões e pequenos contatos. A moça não protestava se o achego
demorava um pouco mais do que era necessário. Com isso fui pegando
confiança. Logo já fazia algum carinho, ao que ela correspondia
prontamente. Em minha consciência ficava tranquilo, pois lembrava
das palavras de Isis quando voltou, dando a entender que não ligava
para isso. Isis tinha uma outra filosofia de vida quanto a homens e
mulheres. Esperava eu que não fosse, ela em relação a outros ,
mas com o tempo verifiquei que isso era apenas um pequeno temor de
minha parte. A minha implicância com a velha mãe, começou a
aumentar com o tempo. Um dia, estando Isis atendendo o comércio
enquanto Valdívia almoçava comigo no apartamento, notei que ela
ficava de olho em nossos movimentos, escondida em seu quarto. Pela
fresta da porta entreaberta ela espiava disfarçadamente.
Propositalmente comecei a encostar na moça enquanto esta lavava os
pratos na pia. Cheguei por trás e encostei devagar e com as duas
mãos acariciei os seios fartos. Tinha a plena certeza que a velha
estava vendo. Queria além de provocá-la, mostrar que o controle
estava comigo. Nunca gostei de ingratidão. Talvez fizesse até
errado com essa ação, mas no fundo, queria que a velha entendesse
que estava recebendo um favor. Depois desse dia ela virou a cara de
vez. Não ficava mais no mesmo aposento, se eu estivesse presente.
Por outro lado, nada falou, nem para a filha nem para minha mulher.
Para mim também nem era necessário tomar satisfações. Acelerei as
providências para arranjar com mais urgência uma casa para elas se
mudarem. Por sorte, ficaram somente três meses com a gente. Nesta
vida tudo passa. O ruim e o bom. É só esperar. O ruim era a velha
implicante. O bom era sua filha, que nas janelas do dia, estando sós,
dávamos um pega legal. No dia da mudança ela me disse: --E agora
como vamos fazer?---A
gente dará um jeito. Sempre tem um.--Ela assentiu com um sorriso,
baixando a cabeça. Eu tinha um pouco de receio se Isis descobrisse, mas qual homem que resiste aos encantos femininos?Pensando assim, corria os meus riscos.E assim continuou nossa vida.
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