Literatura-49.O tálamo...

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Um dia, no futuro, sonhei com minha salvadora, quando já estava vendo o acidente como uma coisa do passado e sem valor emocional. Estava em um bonito lugar cheio de jardins, animados com pássaros e abelhas que perambulavam pelas cheirosas flores. Pequenos córregos de água cristalina alimentavam um lago não muito grande, onde aves nadadoras faziam pequenas ondas nas águas límpidas e calmas. Parecia a área de um templo de monges, com aquela tranquilidade e paz, características de tais lugares. Só que não via nenhum templo ou qualquer tipo de construção pelo menos nas proximidades. Sob as arvores, sentadas em bancos confortáveis, pessoas conversavam, outras liam e outras simplesmente admiravam a paisagem que era maravilhosa, emoldurada por montanhas ao longe, com seus picos nevados.Eu caminhava devagar pelas vias que serpenteavam entre os canteiros verdejantes, calçadas com pedras de granito verde. Uma moça vinha em minha direção, sorrindo como se visse um velho conhecido.Pensei que alguém tinha se enganado, pensando ser eu uma outra pessoa.Daí ao chegar perto ela disse:--Oi PG,... Você por aqui? Que surpresa agradável. Como vai?--Daí que a conheci.--Meu anjo da guarda? ----Perguntei, ainda em tom de duvida.-- Não...pode me chamar de Celina.--Então, muito prazer em vê-la pela terceira vez. Hoje tem tempo para uma conversa?---Só cinco minutos, que tenho um compromisso.--Um compromisso em um lugar deste? Onde tarefa ,parece ser a ultima coisa em que se pense?--Estou só passando por aqui.--Sentamos em um banquinho próximo.--Bem...Parece que agora vamos conversar de fato. Quero fazer a tempos uma pergunta: Porque você me salvou e deixou o homem que me agarrava, morrer?--PG, tem coisas que você não entenderia, pelo menos agora. Digamos que o dia dele chegou e o seu ainda não. E que seguimos quer queiramos ou não, uma lei justa, infalível , porém implacável.--Quer dizer que vai ter uma hora que não poderei contar contigo?--Exatamente. Mas não se preocupe. Vai demorar e quando chegar a hora, o estarei esperando no outro lado. Você não gosta de me ver?--Você falando assim está me induzindo ao suicídio. Sabe que poderei não resistir a tentação de estar ao seu lado.--Para tudo tem seu dia e sua hora. Não tente forçar as coisas, que daí tudo pode se complicar e o arrependimento é enorme.--Eh Eh... Estava brincando.--Eu sei... Agora é hora de você acordar.                                                                          

Meio zonzo, acordei com as palavras na cabeça... ”É hora de acordar”. Estiquei a mão pelo escuro e virei o relógio com o mostrador do meu lado. Marcava três e meia. Escutei um pequeno barulho vindo de baixo, pelo lado da rua. Parece que mexiam na porta de aço do comércio. Falei baixinho com Ísis e ela me respondeu prontamente:--Já escutei também... Vou ver o que é.----Dizendo isso já estava em pé colocando o robe cor de rosa. Meio preocupado pelo que viesse acontecer , tentei orientá-la para não fazer alguma besteira.--Espera aí... Não vá matar outro ladrão. Vamos machucá-lo somente e chamar a policia. Estou cansado de fazer enterros.--Você é quem manda... Enquanto você telefona, eu desço dar um jeito. ----Rapidamente ela pegou um lenço grande e não sei onde, arranjou uma peruca loira, que imaginei ser de Elisa. O apartamento sobre o comercio, tinha duas entradas. Uma pela lateral da loja que a gente usava mais em fins de semana, e outra por dentro da mesma por intermédio de uma escada que ficava escondida atrás do banheiro. A moça desceu pela primeira, abriu bem devagar a porta da rua e viu um individuo tentando arregaçar a porta com um pé de cabra. A brisa fresca da madrugada, acariciou seus cabelos artificiais. Ao ver uma mulher, o ladrão não se intimidou e disse:--Se manda. ----Com cara feia, como se alguém o atrapalhasse em um importante serviço.--Não posso... Você está violentando a porta de minha loja. Vou dar uma chance para você ir embora sem se machucar,desde que prometa não vir mais tentar me roubar. ----Na porta já havia um vão de mais de um palmo na parte de baixo onde ele fazia a alavanca. Ouvindo aquilo e confiando em suas forças de macho, resolveu partir para cima dela com a barra de aço levantada. Como ela não se mexeu nos primeiros momentos, ele se embalou todo para dar uma ferrada de cima para baixo na cabeça da moça. O movimento acordou a vizinhança, mas ninguém aparecia, com receio. Nessas horas é cada um por si. Se morrer , terás uma bela plateia assistindo o ato de sua morte. Porém ninguém irá comparecer a polícia como testemunha. Eu, ligando para policia, pedi urgência, com medo que Isis matasse o elemento. Com rapidez incrível ela se desviou no ultimo instante em que o aço descia zunindo, muito próximo de sua cabeça. Enquanto o ladrão se desequilibrava com o golpe no ar, um chute certeiro atingiu sua perna direita, dobrando-a abaixo do joelho e expondo pontas de ossos brancos. Antes mesmo de terminar o berro de dor, levou outro chute do mesmo calibre na perna esquerda. Depois disso, ela calmamente subiu a escada de volta ao apartamento. Encontramo-nos no meio, quando eu já descia em socorro do ladrão.--Está tudo bem... ----Disse ela. Pode voltar que ele não está morto. Tinha um lenço tapando o rosto por prevenção, segundo ela.Na rua, o sujeito não parava de gritar de dor, deitado, sem poder levantar. Quando a polícia chegou, veio também uma ambulância.Quando liguei para eles sugeri que a mandassem, pois teria gente machucada. Bateram em nossa porta e Isis disse para eu ficar que ela iria resolver. Próximo a janela de cima deu para escutar o dialogo entre eles.---É da senhora o estabelecimento?--Sim. Escutamos o barulho e meu marido chamou-os.--Ele foi agredido por alguém... A senhora não sabe nos informar?---Infelizmente, não. Fiquei com medo de sair à janela e levar um tiro.A senhora pode assinar aqui, trata-se do boletim de ocorrência, de tentativa de roubo. Agora a sua porta vai precisar de reparos.--Tudo bem, obrigada. Amanhã providencio... Bom dia. ----Em poucos minutos ,tudo estava calmo na rua novamente. Já era quatro e meia da madrugada. Dali a pouco viria à alva, clareando as frestas da veneziana. Não daria para dormir mais, devido à agitação da noite. Fui até a cozinha fazer um café. Ísis não me deixava só.--Perdeu o sono também?--É... Acho que perdi. ----Eu sabia que aquilo era apenas um inocente fingimento. Afinal eu tinha uma super-mulher morando comigo, e não tinha choramingos sem motivos, dengos ou outras coisas características do sexo feminino. Fui até ela e a abracei com paixão, me considerando um felizardo. Quem teria uma, igual a ela?Dentro de alguns dias apareceu na rua um individuo da policia civil, fazendo perguntas. Nada obteve de concreto. Ali como em todo o país imperava a lei do silêncio. Essa lei, muito mais eficaz que as dos livros jurídicos, pelo descrédito que o povo tem nos governantes. Segundo os jornais, o depoimento do ladrão era que: Apareceu, de não sei onde, uma loira com um lenço no rosto e o agrediu. Mas a ferramenta e a porta forçada o incriminavam. Alguém lançou um boato que em nosso bairro tinha uma super–heroína que semelhante a “mulher maravilha”, defendia os fracos e oprimidos e tapava uma lacuna deixada pelo sistema, com a falta de segurança. O boato até foi bom porque os bandidos ficaram com receio de agir por ali. Alguém teria visto a moça em ação, mas ficou em duvida pelo cabelo e de não ver o rosto. E nesses casos o melhor e ficar calado. O assunto só e comentado nas mesas dos bares, nos bancos das praças e nos salões de barbeiros. Tudo entre amigos e em voz baixa. Estávamos tranquilos quanto ao desfecho do processo. Logo trouxemos Valdívia e a mãe para a nova cidade. Ficaram conosco por alguns meses até acharmos uma casa tranquila e de preço razoável em um bom bairro para alugar. A velha mãe da moça,tinha suas manias e foi um pouco difícil estarmos todos no mesmo apartamento. A velha me elegeu como seu inimigo, assim do nada e de graça. Parece que ela tinha que ocupar a mente com algo, para passar as horas demoradas da senilidade. Mas a amizade que tinha pela filha, ajudava a me dar paciência. Apartamentos têm a tendência a ficarem pequenos quando se aumenta o numero de pessoas. Não tem quintal e a privacidade acaba. Não se podia andar de bermudas que a velha ficava de olhares repreensivos. Logo começou a dar indireta. Parecia que ao contrario da filha, a velha não ia com minha cara decisivamente. Esforcei-me por conquistá-la com agrados e presentes, mas não houve jeito. Ísis se divertia com a situação e me aconselhava a ter paciência já que era uma conjuntura passageira. A minha amizade com a filha superava certas expectativas. Percebia que ocasionalmente no trabalho quando ficávamos muito perto a situação as vezes obrigava a alguns esbarrões e pequenos contatos. A moça não protestava se o achego demorava um pouco mais do que era necessário. Com isso fui pegando confiança. Logo já fazia algum carinho, ao que ela correspondia prontamente. Em minha consciência ficava tranquilo, pois lembrava das palavras de Isis quando voltou, dando a entender que não ligava para isso. Isis tinha uma outra filosofia de vida quanto a homens e mulheres. Esperava eu que não fosse, ela em relação a outros , mas com o tempo verifiquei que isso era apenas um pequeno temor de minha parte. A minha implicância com a velha mãe, começou a aumentar com o tempo. Um dia, estando Isis atendendo o comércio enquanto Valdívia almoçava comigo no apartamento, notei que ela ficava de olho em nossos movimentos, escondida em seu quarto. Pela fresta da porta entreaberta ela espiava disfarçadamente. Propositalmente comecei a encostar na moça enquanto esta lavava os pratos na pia. Cheguei por trás e encostei devagar e com as duas mãos acariciei os seios fartos. Tinha a plena certeza que a velha estava vendo. Queria além de provocá-la, mostrar que o controle estava comigo. Nunca gostei de ingratidão. Talvez fizesse até errado com essa ação, mas no fundo, queria que a velha entendesse que estava recebendo um favor. Depois desse dia ela virou a cara de vez. Não ficava mais no mesmo aposento, se eu estivesse presente. Por outro lado, nada falou, nem para a filha nem para minha mulher. Para mim também nem era necessário tomar satisfações. Acelerei as providências para arranjar com mais urgência uma casa para elas se mudarem. Por sorte, ficaram somente três meses com a gente. Nesta vida tudo passa. O ruim e o bom. É só esperar. O ruim era a velha implicante. O bom era sua filha, que nas janelas do dia, estando sós, dávamos um pega legal. No dia da mudança ela me disse: --E agora como vamos fazer?---A gente dará um jeito. Sempre tem um.--Ela assentiu com um sorriso, baixando a cabeça. Eu tinha um pouco de receio se Isis descobrisse, mas qual homem que resiste aos encantos femininos?Pensando assim, corria os meus riscos.E assim continuou nossa vida.

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