Literatura-51.O tálamo...

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Esse foi o relacionamento mais difícil que tive com mulheres. Tinha a impressão que ela me salvava de situações perigosas e ao mesmo tempo, aproveitava para me provocar. Tudo rapidamente, com diálogos curtos e sem dar muita atenção a minha conversa. Eu sou muito malicioso e poderia ser que estivesse até enganado, quanto a provocação. Tem gente que não consegue separar o amor fraternal com o carnal. Posso ser um deles. As vezes quando lembrava dela me imaginava meio louco. Será que não era fruto de minha imaginação? Não poderia ser porque as varias vezes que me salvara foi muito real . A loucura não chega a tanto. Poderia ser também o meu anjo da guarda. Havia muita literatura a respeito, falando desses seres celestiais que nos protege dos males.E na própria Bíblia diz: “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.”(Sal.91:11).Não acho que sou um merecedor de tanta atenção, porque não sou flor que se cheire.Mas quem sabe de tais mistérios? Ao meu lado um policial perguntava se eu estava bem.Quando voltei à loja, Ísis imediatamente reparou nos pequenos cortes ocasionados pelos estilhaços de vidro. Contei o ocorrido e elas ficaram surpreendidas pela minha sorte em ter escapado ileso. Daí em tom de brincadeira, eu disse que tinha um anjo da guarda muito especial e eficiente. Elas tomaram aquilo como uma expressão banal, sem dar maior valor a minha conversa.Valdívia ficou com a gente por mais alguns anos. Minha companheira nunca desconfiou de nosso relacionamento. Mas chego a duvidar que ela não sabia. Acho que fazia de conta que ignorava. Mulheres inteligentes agem de forma complexa. Depois que a velha mãe de Valdívia faleceu, ela voltou a morar com a gente. Já era uma pessoa da família. Vivíamos um faz de conta, que nada existia entre nós a mais do que um relacionamento amigável. Um dia me comunicou que tinha um rapaz interessado em namorar com ela. Queria falar comigo a respeito. Conversamos e ela pediu permissão se caso não tivesse outros planos. Expliquei que não poderia interferir na felicidade dela e muito menos obriga-la a continuar na mesma situação. Nossos amores ainda não foram colocados em pratos limpos. Tinha que haver uma reunião a três para decidirmos. Mas no fundo eu temia um pouco a Ísis. Embora já se manifestasse anteriormente sobre nós, poderia ter mudado de opinião. Era carinhosa , delicada, mas eu sabia que por trás de tanto carinho se escondia uma força devastadora. Então ela poderia namorar e se casar, que tinha a minha bênção. E se um dia por acaso houvesse algum contratempo, poderia me vir procurar. Ela me abraçou e disse:---PG,você além de ser meu amado é também meu pai. Um pai que nunca tive. ---Fiquei emocionado com suas palavras e por um minuto, quase pedi para ela desistir e continuar morando comigo e a Ísis. Mas ponderei e deixei o egoismo de lado.
                                                             
Valdívia começou então o namoro com o rapaz que tinha me falado. Certo dia ela me avisou que o traria para o conhecermos. As duas prepararam um bolo com chá para recepcionar o convidado especial.O rapaz tinha uma boa aparência e modos calmos, com pouca fala e muita observação. Eu geralmente desconfio de gente desse tipo, mas como era do relacionamento da moça, por ela a gente considerava.Chamava-se Fidélio. Mal sabia ele que pelos mares que estava navegando eu já tinha singrado e continuava, devagar e ao sabor do vento, embora com menos frequência. Notei também nas frestas das conversas que ele observava de modo disfarçado a Ísis. Não o culpava porque ela era uma mulher que atraia os homens de uma forma especial. Sem querer as pessoas a olhavam. Os homens com interesses eróticos e as mulheres com inveja. Logo ele ficou frequentador assíduo de minha casa. Devagar foi conquistando confiança e logo passamos a incluí-lo em nossos eventos. Chegava ao escurecer, jantava conosco, namorava a moça na sala e assistíamos filmes na tv. Ocasionalmente comprávamos pizza para animar a reunião. Mas mantive uma certa distância no relacionamento, não deixando ultrapassar um certo limite . Alertei Valdívia para não leva-lo em seu quarto. Não gostava de repartir minha casa com um concorrente. Se quisessem fazer algo mais interessante que fossem para um motel. Em minha casa, não. Passou cerca de um ano e a situação continuava na mesma. Um dia conversei com a moça e pedi explicações, embora nada tivesse contra. Eram adultos e encaminhavam as coisas conforme queriam. Ela me disse que esperavam uma oportunidade de um emprego melhor para ele se tornar mais independente. Achei o assunto meio sem fundamento , mas nada disse para não contrariar a moça. As mulheres tem a tendência de se entregarem totalmente e com isso muitas vezes se tornam cegas para observar certas coisas relacionadas ao amado. Quanto a nós, a coisa ficava cada vez mais esporádica. Eu não ligava para aquilo e deixava as águas correrem. Afinal, não tinha o direito de fazer exigência. Certa noite, conversando com Ísis, percebi que ela sabia de todas as nossas tramas. Gostava de mim , era muito amiga da moça e fazia vista grossa quando via algo suspeito. Tentei dar uma explicação furada, mas logo ela interviu, dizendo que eu não deveria me preocupar com ela e sim com o namorado da Valdívia.Aquilo me alertou e procurei saber do que se tratava.--O que esta´acontecendo? Ele a esta assediando?----Lembrei dos olhares disfarçados do rapaz em cima dela.--Digamos no linguajar de sua gente: Esta´me comendo com os olhos.----Respondeu com uma carinha de marota.--E você como reage? Disse eu meio preocupado, temendo que houvesse uma troca que em nada me agradaria.--Não se preocupe. Não tenho intenção de o trair, como dizem por aqui.

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