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Esse
foi o relacionamento mais difícil que tive com mulheres. Tinha a
impressão que ela me salvava de situações perigosas e ao mesmo
tempo, aproveitava para me provocar. Tudo rapidamente, com diálogos
curtos e sem dar muita atenção a minha conversa. Eu sou muito
malicioso e poderia ser que estivesse até enganado, quanto a
provocação. Tem gente que não consegue separar o amor fraternal
com o carnal. Posso ser um deles. As vezes quando lembrava dela me
imaginava meio louco. Será que não era fruto de minha imaginação?
Não poderia ser porque as varias vezes que me salvara foi muito real
. A loucura não chega a tanto. Poderia ser também o meu anjo da
guarda. Havia muita literatura a respeito, falando desses seres
celestiais que nos protege dos males.E na própria Bíblia diz:
“Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te
guardarem em todos os teus caminhos.”(Sal.91:11).Não acho que sou
um merecedor de tanta atenção, porque não sou flor que se
cheire.Mas quem sabe de tais mistérios? Ao meu lado um policial
perguntava se eu estava bem.Quando
voltei à loja, Ísis imediatamente reparou nos pequenos cortes
ocasionados pelos estilhaços de vidro. Contei o ocorrido e elas
ficaram surpreendidas pela minha sorte em ter escapado ileso. Daí em
tom de brincadeira, eu disse que tinha um anjo da guarda muito
especial e eficiente. Elas tomaram aquilo como uma expressão
banal, sem dar maior valor a minha conversa.Valdívia
ficou com a gente por mais alguns anos. Minha companheira nunca
desconfiou de nosso relacionamento. Mas chego a duvidar que ela não
sabia. Acho que fazia de conta que ignorava. Mulheres inteligentes
agem de forma complexa. Depois que a velha mãe de Valdívia faleceu,
ela voltou a morar com a gente. Já era uma pessoa da família.
Vivíamos um faz de conta, que nada existia entre nós a mais do que
um relacionamento amigável. Um dia me comunicou que tinha um rapaz
interessado em namorar com ela. Queria falar comigo a respeito.
Conversamos e ela pediu permissão se caso não tivesse outros
planos. Expliquei que não poderia interferir na felicidade dela e
muito menos obriga-la a continuar na mesma situação. Nossos amores
ainda não foram colocados em pratos limpos. Tinha que haver uma
reunião a três para decidirmos. Mas no fundo eu temia um pouco a
Ísis. Embora já se manifestasse anteriormente sobre nós, poderia
ter mudado de opinião. Era carinhosa , delicada, mas eu sabia que
por trás de tanto carinho se escondia uma força devastadora.
Então ela poderia namorar e se casar, que tinha a minha bênção. E
se um dia por acaso houvesse algum contratempo, poderia me vir
procurar. Ela me abraçou e disse:---PG,você além de ser meu amado
é também meu pai. Um pai que nunca tive. ---Fiquei emocionado com
suas palavras e por um minuto, quase pedi para ela desistir e
continuar morando comigo e a Ísis. Mas ponderei e deixei o egoismo
de lado.
Valdívia
começou então o namoro com o rapaz que tinha me falado. Certo dia
ela me avisou que o traria para o conhecermos. As duas prepararam um
bolo com chá para recepcionar o convidado especial.O
rapaz tinha uma boa aparência e modos calmos, com pouca fala e muita
observação. Eu geralmente desconfio de gente desse tipo, mas como
era do relacionamento da moça, por ela a gente considerava.Chamava-se
Fidélio. Mal sabia ele que pelos mares que estava navegando eu já
tinha singrado e continuava, devagar e ao sabor do vento, embora com
menos frequência. Notei também nas frestas das conversas que ele
observava de modo disfarçado a Ísis. Não o culpava porque ela era
uma mulher que atraia os homens de uma forma especial. Sem querer as
pessoas a olhavam. Os homens com interesses eróticos e as mulheres
com inveja. Logo ele ficou frequentador assíduo de minha casa.
Devagar foi conquistando confiança e logo passamos a incluí-lo em
nossos eventos. Chegava ao escurecer, jantava conosco, namorava a
moça na sala e assistíamos filmes na tv. Ocasionalmente comprávamos
pizza para animar a reunião. Mas mantive uma certa distância no
relacionamento, não deixando ultrapassar um certo limite . Alertei
Valdívia para não leva-lo em seu quarto. Não gostava de repartir
minha casa com um concorrente. Se quisessem fazer algo mais
interessante que fossem para um motel. Em minha casa, não. Passou
cerca de um ano e a situação continuava na mesma. Um dia conversei
com a moça e pedi explicações, embora nada tivesse contra. Eram
adultos e encaminhavam as coisas conforme queriam. Ela me disse que
esperavam uma oportunidade de um emprego melhor para ele se tornar
mais independente. Achei o assunto meio sem fundamento , mas nada
disse para não contrariar a moça. As mulheres tem a tendência de
se entregarem totalmente e com isso muitas vezes se tornam cegas para
observar certas coisas relacionadas ao amado. Quanto a nós, a coisa
ficava cada vez mais esporádica. Eu não ligava para aquilo e
deixava as águas correrem. Afinal, não tinha o direito de fazer
exigência. Certa noite, conversando com Ísis, percebi que ela
sabia de todas as nossas tramas. Gostava de mim , era muito amiga da
moça e fazia vista grossa quando via algo suspeito. Tentei dar uma
explicação furada, mas logo ela interviu, dizendo que eu não
deveria me preocupar com ela e sim com o namorado da Valdívia.Aquilo
me alertou e procurei saber do que se tratava.--O
que esta´acontecendo? Ele a esta assediando?----Lembrei dos
olhares disfarçados do rapaz em cima dela.--Digamos
no linguajar de sua gente: Esta´me comendo com os
olhos.----Respondeu com uma carinha de marota.--E
você como reage? Disse eu meio preocupado, temendo que houvesse uma
troca que em nada me agradaria.--Não
se preocupe. Não tenho intenção de o trair, como dizem por aqui.
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