Literatura- 57.O tálamo...

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Já passava um bom tempo, desde o dia do assalto. Meus ferimentos sararam. Somente sentia alguma dor no local da barriga quando me mexia e no da perna quando andava. Ainda tomava analgésicos para amenizar. A gente ficava alguns dias em um hotel , depois mudava para outro para despistar possíveis ataques. Nosso dinheiro estava acabando, nossa loja continuava fechada. Foi nessas alturas que decidimos partir para o ataque. Resolvemos juntar o estoque da loja, por em um caminhão e nos mudar para outra cidade. Tudo feito a noite e com Ísis de guarda no lado de fora, para qualquer eventualidade. Todo cuidado era pouco.Valdívia me ajudava com os sapatos. Eu já bem recuperado, ocasionalmente dava uma apalpada no traseiro bonito. Ela sorria como se dissesse: Sou toda sua. O prédio, como fosse alugado, entregamos para a imobiliária e ainda pagamos uma multa por rescindir o contrato antes da hora. Estávamos livres para ir para qualquer lugar. Brinquei com Ísis: ----Dá pra gente ir até o seu mundo agora.--Vocês não se acostumariam lá. O sistema é bem diferente. Talvez nem eu me acostume mais.---- 
Disse ela.Mudamos para outra cidade um pouco menor, distante da anterior sessenta quilômetros. Alugamos para começar uma casa simples, próxima ao centro. Ali seria o nosso quartel general. Antes de montar outra loja ou definir o que iríamos fazer, tínhamos que tomar certas providências. Se possível reaver nosso dinheiro. Tinha uma grande fé em minha mulher, para resolver essa parada. Em uma noite de lua nova,lá fomos nós de volta para tomar as providências. Valdívia ficou em casa , esperta para atender o telefone, caso a gente precisasse de algo. Ísis tomou a cautela de alterar o número da placa de nosso carro , caso alguém anotasse. Colocou a peruca loira, uma camiseta preta e uma saia com um palmo acima dos joelhos. Ficou um pouco mais alta com um sapato de salto. Nem eu a reconheceria se a encontrasse vestida daquele jeito, meio de repente. O plano era, eu ficar estacionado nas proximidades da boate , enquanto ela entrava para resolver a situação. Estávamos com duas armas. Uma ficou comigo e outra tirada do bandido morto estava com ela,mesmo sem necessidade de usá-la.

 No céu somente algumas estrelas conseguiam furar o véu de nuvens escuras e passageiras. Uma brisa agitava levemente os ramos ponteiros da árvore onde o carro estava em baixo. Já tinha passado meia hora, que Ísis tinha entrado na toca do urso. A luz do luminoso no alto da marquise, mudava as cores da rua em frente, conforme ia trocando de matiz. Era o formato de uma moça riscado em tubinhos de neon, em pose sensual, com um cigarro entre os dedos. Outra mão estava na nuca, bor baixo dos cabelos. Algumas pessoas estavam em frente. Conversavam entre si, enquanto outras ficavam isoladas. Essas deveriam ser seguranças do lado de fora, para avisar quando a polícia estava vindo. Ali , sentado na penumbra, comecei a divagar a respeito de minha vida. A cada minuto olhava no relógio para ver o tempo em que a moça permanecia dentro da toca da onça. Um outro dia de um outro ano já passado, eu estaria deitado, descasando para o próximo dia de trabalho. Agora,estava aqui, esperando minha robô resolver um problema dentro de uma boate. Nunca sequer tinha sonhado com esta situação. Escutei um tiro, dois, três, vindo do interior da boate. As pessoas correram. Algumas para seus carros e outras para dentro do prédio. Me preparei e liguei o motor do carro. A cena agora mudava do tudo calmo e parado para o agitado e repentino. A moça saiu calmamente com uma maleta na mão, como se não tivesse nada com o tumulto lá dentro. Deduzi que ela fizera um limpa no pessoal para sair daquele jeito. Entrou sossegada no carro ao meu lado e disse: ----Vamos embora PG. Aqui já está resolvido.----Saí sem alarde, para não chamar atenção. Ligamos para Valdívia, avisando que já estávamos indo. Depois de uma hora de estrada, chegamos em casa.Ísis colocou a maleta sobre a mesa e mediante o olhar de todos nós a abriu com cuidado , sem antes observar bem. Segundo o que ela aprendeu nos filmes, que maletas as vezes podem explodir ao abri-las. Apareceu diante de nossos olhos incrédulos três fileiras de notas verdes de cem dólares, em pacotes de doze centímetros de altura. Automaticamente, falei:----Mas esse não é nosso dinheiro. Aí deve ter o triplo.----Ali parecia ter a solução para a maioria dos problemas do ser humano. Na cabeça da gente, passa mil coisas quando se tem uma visão dessas. Quando podemos pensar que, se está em nossas mãos, é nosso.. Temos também uma sensação de poder e bem estar. Percebemos que ali está a realização de nossos desejos : De possuir,de consumo , de poder .--Que bom PG.. vamos considerar então que são os juros do empréstimo.----Disse Ísis com cara de marota.----Ou você quer que eu volte lá para destrocar as maletas, ou voltar o troco? ----Respondi, com um sorriso sem graça. Afinal estamos na vantagem , o que iria reclamar. Depois , roubar de ladrão, tem cem anos de perdão. Valdívia observava tudo calada. Serviu-nos um café da hora que tinha preparado quando chegamos. Gostava dela, porque sabia quando era hora de falar e calar.--Bom...já que você está bem calminha, nos conte agora como foi sua entrada no local.----Disse eu fazendo um gracejo e agitando as mãos.--Ok...para entrar foi fácil porque pensaram que eu trabalhava na casa. Cheguei até o bar e simulei um teatro.

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