59
Em
seguida veio uma calmaria, mas Ísis sempre me advertia que algo
poderia acontecer de repente. Ficamos um tempo, os três em casa, sem
nada fazer a não ser estudar as várias possibilidades de se tocar a
vida com aquele monte de dinheiro. Como ninguém o reclamou,
começamos a trocá-lo devagar. As tarefas da casa eram divididas
entre as duas. Valdívia demonstrou ser uma excelente cozinheira,
então a gente dava a oportunidade para ela cozinhar. Ísis limpava a
casa, serviço leve para ela e pelo tamanho médio da residência.Veio
a ideia de comprarmos uma chácara próxima a cidade, onde o lugar
além do sossego dava um isolamento mais seguro. Chegamos a conclusão
que se abríssemos outro comercio, certamente iriam nos achar mais
facilmente. Tínhamos muito cuidado em trocar os dólares. Fazíamos
isso em várias cidades , para não despertar suspeitas. Morávamos
em um país onde o governo arrecadava horrores e gastava
desmesuradamente em uma administração super incompetente e ninguém
falava nada. Nenhuma crítica, nenhum comentário. Ao contrario disso
, o cidadão que tivesse um pouco a mais de dinheiro, teria que
explicar de onde tinha vindo. O bancos como sempre , eram comparsas
do sistema e denunciavam alguém que se aventurasse a depositar
quantias um pouco além de certos limites. Daí que surgiu a
expressão “lavagem de dinheiro”, que muitos políticos e
traficantes fazem uso até hoje. Começamos a fazer planos. Mesmo na
chácara sem fazer nada , se uma hora a gente enjoasse da ociosidade,
poderíamos inventar algo para fazer. Até aquele momento a gente não
sabia que quanto maior o terreno, mais trabalho se tem. É arrumar
cercas,cortar o mato que em pouco tempo toma conta de tudo e outras
coisas menores.
Com muito sossego e sem estrepolias, achamos uma que
agradou a todos. Tinha arvoredos e um pequeno lago originário de
uma vertente. Mudamos para lá e a primeira providência foi fazer
uma reforma na casa para deixá-la mais segura. Arranjamos quatro
cães de guarda para completar o esquema. Esquecemos por hora do
Aristides. Eu ainda tinha minhas duvidas se realmente foi ele que
pagou pela execução do serviço. Mas por outro lado, não conhecia
ninguém mais com esse nome, mesmo escarafunchando a memoria para
tentar descobri-lo lá no passado. Iríamos deixar quieto por
enquanto ,mesmo porque as tarefas na nova casa, tomavam todo o nosso
tempo. Uma das coisas que me fazia bem, era a passarada que visitava
algumas árvores próximo a casa. Era uma algazarra no amanhecer do
dia e outra no entardecer, demarcando bem o dia da noite. Mostravam
que no mundo deles, embora tivessem os contratempos, demonstravam
alegria com seus cantos , como se fosse uma prece melodiosa de
agradecimento, pela curta, mas preciosa vida que o criador os dava.
Grande exemplo para os humanos que por qualquer probleminha,
reclama.O lugar não era muito grande mas mesmo assim dava bastante
trabalho. Trocamos as cercas de palaques de madeira por outros de
cimento e colocamos dez fios de arame farpado. Nem galinha passava
por ela. Gente, só se cortasse os arames. Ficamos nessa rotina por
volta de cinco meses.---Uma
certa noite escura e chuvosa, aconteceu o que já esperávamos. Uma
das coisas mais atormentadoras, é saber que algo vai nos acontecer
mas , sem saber quando. Mas quando a hora chega,em vez de medo, um
alívio percorre nossa medula, por saber que o final da espera está
chegando.Já
estávamos dormindo e era por volta das três da madrugada, quando os
cães começaram a latir lá pela frente do terreno. A chuva fina e
fria colaborava com a escuridão da noite, deixando-a nebulosa.Ísis
me acordou e disse:----Tem gente tentando invadir.----Despertei
rapidamente e fui a té o armário onde peguei as armas. Dei uma a
ela e juntos fomos acordar a outra. Deixamos ela em alerta, mas com a
recomendação que não saísse dali. Uma bomba explodiu a certa
distância e um cachorro fugiu apavorado pelo estouro, passando pelo
lado da casa ganindo. Parece que estavam usando granadas. Apagamos
as luzes.---Vieram
com tudo ----Alertei minha mulher.---Você
fica aqui dentro e eu vou la fora , ver se pego um por um. A neblina
vai favorecer.----Disse ela se esquivando pelo escuro e saindo
furtivamente pela fresta da porta entreaberta momentaneamente. Fiquei
de arma em punho procurando ver alguma coisa, por um cantinho da
janela embaçada. Os bandidos vinham separados uns dos outros .A
intenção era cercar a casa primeiro, para depois invadir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário