Direitos adquiridos 61
O
tempo melhorou um pouco, com a chuva dando uma pausa. A neblina
continuava espessa. Nós dois calados ,seguíamos pela estrada de
terra deserta. Somente o barulho do motor e das pedras molhadas sendo
pressionadas pelas rodas ligeiras. Quando estas caiam em uma poça de
água, o barulho se modificava e água lamacenta era jogada nas
laterais, mudando a cor dos arbustos encharcados.Lá atrás, seis
corpos inertes estavam cobertos com um plástico preto,desses que os
sem-terra fazem suas barracas. Ocasionalmente pulava água barrenta
no para-brisa, o que obrigava a motorista esguichar água para
limpar.A
cerâmica era simples e não tinha cerca que a isolasse. A chaminé
era a única coisa que chamava mais atenção, em sua imponência
construtiva.Redonda de tijolos a vista e afunilada na parte alta.
Diziam que somente pedreiros especialistas a faziam, porque o prumo
era tirado pelo centro do círculo. Meia ofuscada pela neblina ,
ainda dava para ver a fumaça escura saindo pelos altos. O resto era
construção baixa que se misturava com o solo vermelho. Ísis
encostou a camionete próximo a chaminé. Depois resolveu adiantar
mais um pouco e a levou até as proximidades do forno. A boca do
inferno tinha aproximadamente um metro e meio de altura e dentro
cintilava uma luz branca de mil graus centígrados ou mais.
Ocasionalmente era jogado lenha para manter a temperatura. O calor
atingia cinco metros a frente.---Aqui
fica mais fácil.----Disse. Descemos juntos. Logo apareceu um peão
coçando os olhos de sono e surpreso de aparecer gente na madrugada.
A noite estava nas últimas horas.--O
que voceis querem por aqui , fora de hora?--Ôooo
Mané... não está me conhecendo home.----Respondeu Isis sorrindo e
indo ate´o individuo. Eu, nessas alturas nem admirado ficava com as
estratégias de minha mulher. Deu um abraço e um beijinho no rosto
do peão como se fossem velhos conhecidos.---Estamos
saindo de viagem e para aproveitar o dia, madrugamos. Ao passar por
perto vimos a fumaça da chaminé e resolvemos dar uma olhada como
você assa seus tijolos. Pretendemos construir futuramente e já
estamos pesquisando.----Enquanto ela mantinha o peão com a conversa
, me apresentou a distância.---PG?
pega aí no veículo aquele doce que eu trouxe para o Mané.
Está no
porta luva.----Fui ver e de fato tinha uma caixinha de doces
embrulhada com carinho. Ela veio encontrar comigo no meio do caminho
e disse.:----Dê a ele o doce e mantenha-o com a atenção em
você.----Peguei o pacotinho e levei com um sorriso falso para o
indivíduo. A distancia ela ainda falou.----Mané, enquanto você
conversa com meu marido, posso dar uma olhadinha nos tijolos?---Sim
senhora, dona.---Puxei uma conversa com ele, perguntando se dava para
dormir um pouco enquanto olhava o forno.--- É... de cada hora a
gente põe um pouco de lenha e daí dá para tirar um cochilo.
Enquanto eu conversava com o forneiro, posicionado de uma forma que
bloqueava a visão dele da área do forno, a moça atirava os corpos
na fornalha. Tinha força e rapidez e a operação não durou mais do
que um minuto. Pensei eu que ela carregava de dois em dois os
defuntos, para ser tão rápido. Logo ela voltava toda sorridente
para nós, me convidando para ir embora.--- Puxa que boca de forno
quente hei? Não faz mal a você encarar toda hora esse
calor?---Disse ela com curiosidade.---Mal eu acho que faz, moça.
Mais o que a gente que é pobre pode fazer né?---Disse ele meio
conformado com a sua situação. O trabalhador ficou como se
estivesse hipnotizado perante a moça. Quando saímos , parece que
ele despertou do transe. Ainda o vi a distancia segurando o pacote e
olhando a gente ir embora. A maioria das pessoas ficavam estupefatas
mediante a beldade . Imaginem agora os mais simples. Um leve cheiro
de carne assada percorreu as redondezas por alguns instantes.
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