Ditadores que se cuidem


Revoltas ganham força no mundo árabe e chegam à Líbia

Folha de São Paulo
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS



Após a derrubada das ditaduras na Tunísia e no Egito, a onda de revoltas se espalhou por diversos países árabes, como Bahrein, Iêmen e Iraque, além do Irã --nação que embora não pertença ao grupo árabe também sofreu reflexos da crise na região.

Mais cedo, autoridades líbias confirmaram dois mortos e 40 feridos. No Egito, o governo indicou que 365 morreram e 5.500 ficaram feridos durante os 18 dias de protestos no país.

Solidificando a crise na região, na última quarta-feira as manifestações atingiram também a Líbia, país sob o governo ditatorial de Muammar Gaddafi, no poder há 42 anos.

Mahmud Turkia/AFP

Problemas com pagamento de indenizações do governo deram início aos protestos na Líbia; 38 ficaram feridos.
Os manifestantes cantavam "Muammar é o inimigo de Deus" e "Abaixo, abaixo à corrupção e ao corrupto". Armados, policiais e partidários do governo rapidamente cercaram os manifestantes e atiraram balas de borracha, segundo Ashur Shamis, um ativista líbio de oposição em Londres.

Os protestos de terça e quarta aparentemente foram provocados pela falha das conversas entre o governo e um comitê representando famílias de centenas de prisioneiros mortos quando forças de segurança abriram fogo durante protestos, em 1996, em Abu Salim, a mais importante prisão da Líbia. O governo começou a pagar compensações às famílias, mas o comitê pede o julgamento dos responsáveis.

EGITO

O Ministério da Saúde do Egito informou  que 365 pessoas foram mortas durante os 18 dias de protestos, iniciados em 25 de janeiro, que terminaram na última sexta-feira (11) com a renúncia do ditador do país, Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder.

Trata-se da primeira estatística dada pelo governo sobre as revoltas populares, apesar de o ministro da Saúde, Ahmed Sameh Farid, afirmar que é apenas uma contagem preliminar sobre a morte de civis --não estão incluídos policiais ou prisioneiros.

Ainda hoje as Forças Armadas pediram que os egípcios retornem ao trabalho, enquanto uma comissão prossegue estudando as emendas à Constituição.

IÊMEN

Em Sanaa, milhares de estudantes e advogados gritavam "Depois de Mubarak, Ali", em referência o presidente iemenita Ali Abdullah Saleh, que está no poder há 32 anos.

Mohammad Huwais/AFP

Manifestantes contra o governo saem às ruas de Sanaa; ao menos um morre nos protestos no Iêmen
Manifestações contra o governo se espalharam pelo Iêmen na última quarta-feira, com centenas de pessoas saindo às ruas de Sanaa, Aden e Taiz. Na capital, ao menos 800 opositores marcharam apesar dos esforços da polícia para conter os protestos.

Em Aden, a principal cidade do sul do Iêmen, um manifestante morreu e outros três ficaram feridos durante enfrentamentos entre as forças segurança e os centenas de manifestantes antigovernamentais, de acordo com fontes hospitalares.

BAHREIN

Em Bahrein, apesar da proibição, milhares de pessoas voltaram a protestar contra o governo durante o funeral em Manama de um estudante morto  durante um protesto, no terceiro dia de manifestações no país.

Adam Jan/AFP

Centenas de manifestantes gritam frases antigoverno durante funeral de ativista morto durante os protestos
Mais de 2.000 pessoas participaram do cortejo de Fadel Salman Matruk, baleado durante um protesto, em frente ao hospital onde era velado outro manifestante xiita morto.

O ministro do Interior, xeque Rashed bin Abdullah Al Khalifa, apresentou  desculpas e anunciou a prisão de dois policiais. Mas o xeque Ali Salman, líder da oposição xiita, não se deu por satisfeito com esses gestos e pediu uma "monarquia constitucional"com um primeiro-ministro "eleito pelo povo".

IRAQUE

Fontes policiais na cidade de Kut --palco de violentos protestos por melhorias de serviços do governo no Iraque-- indicaram que ao menos duas pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas quando cerca de 2.000 manifestantes invadiram prédios da administração regional.

Ali Al-Alak/AFP

Chamas atingem a sede do conselho da província de Wasit, no Iraque, após protesto de cerca de 2.000 pessoas
Além dos protestos inspirados nas revoltas da Tunísia e do Egito, a quarta-feira passada registrou atentados em ao menos três diferentes cidades do Iraque. Em Mussayab, uma bomba foi detonadas próximo a uma delegacia de polícia, em Mossul, um funcionário do governo foi morto por atiradores e em Tuz Khurmato outra bomba foi plantada num carro da polícia.

Embora as tropas de combate dos Estados Unidos tenham deixado o país ainda na metade do ano passado, a onda de violência no Iraque se mantém e os soldados americanos que ficaram como uma força de transição já atuaram de forma combativa por diversas vezes.

IRÃ

Dois líderes da oposição iraniana, Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karoubi, pediram ao governo do país que "escute o povo" em uma carta publicada em vários sites opositores. A divulgação do texto ocorre um dia depois de o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, ter afirmado que a revolta da oposição do país "vai fracassar", e de parlamentares terem pedido a morte dos dois.

AFP

Os líderes da oposição Mir Hossein Mousavi (dir.) e Medi Karroubi convocaram as manifestações em Teerã
O regime iraniano convocou um dia "de ódio e ira"  contra as provocações dos opositores Mir Hussein Mousavi e Mehdi Karubi, num momento em que se multiplicam os chamados para que estes sejam castigados pelos protestos.

ARGÉLIA

Mais de mil estudantes concentraram-se nesta última quarta-feira (16)diante do Ministério da Educação Superior em Argel em um protesto pacífico contra um decreto presidencial que, segundo eles, desvaloriza seus estudos e títulos acadêmicos.

Já a Coordenação Nacional pela Democracia e Mudança, grupo integrado por várias organizações da sociedade civil e partidos políticos da Argélia, convocou uma nova manifestação para o próximo sábado (19) em Argel, em reivindicação à democratização do regime e pedindo a queda do presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder.

O chamado ocorreu após grandes protestos no sábado (12), quando milhares foram às ruas, embora tenham sido fortemente reprimidos por mais de 30.000 policiais que prenderam mais de 400 ativistas.

Os ditadores que se cuidem. Parece que o tempo deles está acabando.

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