Hospitais fechados degradam bairros
Capital paulista contabiliza pelo menos 20 'esqueletos' de centros médicos; alguns locais estão abandonados e outros foram invadidos
04 de setembro de 2011Marici Capitelli - O Estado de S.Paulo
JORNAL DA TARDE
Sergio Castro/AE
Maternidade SP. Escuridão atrai ladrões para a região
Hospitais fechados ou abandonados são uma fonte de problemas para a vizinhança - há pelo menos 20 prédios inativos na cidade de São Paulo.
Além da indignação que leitos e serviços de saúde desativados provocam na comunidade, esses estabelecimentos degradam a paisagem e trazem insegurança porque tornam o local escuro, com pouco movimento e pichado.
São também atrativos para bandidos e moradores de rua e desvalorizam o entorno.
"É um transtorno grande, principalmente em relação à desvalorização dos imóveis próximos. Na minha opinião, chega a 50%" diz o representante comercial Victor Kerr, de 65 anos, que mora na frente do Hospital Itatiaia, na Lapa, zona oeste da capital. No mesmo bairro, o Hospital Sorocabana completa um ano de inatividade.
Diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompéia garante que imóveis vizinhos a prédios abandonados sofrem desvalorização. Mas o impacto depende de cada caso.
"A desvalorização é maior nos imóveis imediatamente próximos, mas também desvaloriza os do entorno. É como favela: ninguém quer morar perto."
Nos estabelecimentos abandonados há mais de uma década, o sentimento da comunidade é de resignação.
"Apesar de todos os transtornos, não tem para quem reclamar porque são prédios particulares", lamenta Fernando César Vieira, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Vila Formosa, onde está abandonado o Hospital Zona Leste.
Aliás, ninguém sabe ao certo quando este fechou as portas. Mas a estimativa é que isso já tenha em torno de 15 anos.
Foi transformado em moradia para mendigos, usuários de drogas e criminosos. De acordo com os moradores, o antigo centro médico também virou rota de fuga, pois os ladrões assaltam no centro comercial e se escondem ou fogem para o local.
Sergio Castro/AE
"Já vi uma mulher sendo assaltada e correrem com a bolsa lá para dentro. Ninguém entrou atrás para perseguir o bandido porque esse lugar é um perigo. Entrar lá é arriscar a vida", diz o morador Nicola Avelino, de 73 anos.
Maternidade SP. Escuridão atrai ladrões para a região |
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O Hospital Vasco da Gama, no Belém, zona leste, por exemplo, parou o atendimento em abril e prejudicou toda a vizinhança. Isso porque vários comércios locais viviam, direta ou indiretamente, do movimento da unidade.
O comerciante Cristian Soler, de 36 anos, já amarga um prejuízo de R$ 10 mil. Ele servia de 70 a 80 refeições por dia, mas o número atual não passa de 10. Com os salgados, a redução foi ainda mais brutal. "Eram 200.
Atualmente, não vendo 10." Sem clientes, dispensou os três funcionários e deverá fechar as portas em breve. "Ninguém quer comprar este ponto porque ficou deserto. Por outro lado, não tenho mais como me manter. Não restou alternativa."
Razões e futuro. Para o presidente do Sindicato dos Hospitais de São Paulo (Sindhosp), Dante Montagnana, os centros médicos fecham por causa dos repasses insuficientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e por quebra de operadoras de saúde com unidades próprias. "Se você não tem recursos nem gestão, fecha logo."
Já Walter Cintra Ferreira, colaborador do Centro de Estudos em Saúde da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que hospitais são organizações com alto custo operacional. "E por isso é necessária uma administração extremamente afinada."
O futuro desses locais é incerto. O imponente muro cinza que separa o prédio da tradicional Maternidade São Paulo, fechada em 2003, da calçada da Rua Frei Caneca, a poucos passos da Avenida Paulista, segue sem sinal de mudança há anos.
O local foi leiloado em 2006, com autorização judicial, mas até hoje não reabriu ou mudou de função.
O mesmo vale para áreas invadidas, como a do Cristo Rei (mais informações nesta página). Os donos do patrimônio já foram procurados várias vezes pela polícia para registrar um boletim de invasão, mas só o fizeram uma vez.
PRÉDIOS VAZIOS
Clínica Charcot, Sacomã
Complexo Paulista, Jardins
Alvorada, Chácara Flora
Cristo Rei, Parque São Jorge
Evaldo Foz, Santo Amaro
Itatiaia, Lapa
Jaraguá, Moema
Santa Marina, Jabaquara
Modelo, Aclimação
N. Sa. da Conceição, Brás
Panamericano, Alto de Pinheiros
Santa Marta, Santo Amaro
São Leopoldo, Santo Amaro
São José, Imirim
Sorocabana, Lapa
Vasco da Gama, Belém
Maternidade SP, Consolação
Zona Leste, Vila Formosa
Unimed, Vila Mariana
Unicor, Itaim-Bibi
Desolação
MARIA DE LURDES PENA SANTOS
EX- PACIENTE DO SOROCABANA
"Dá vontade de chorar pelo que aconteceu com esse hospital."
A sucessão de governantes ordinários , que não vêem a saúde como algo de primeira importância, faz causar esse tipo de problema.Assim como se tem um pronto socorro para os bancos, deveria ter também para os hospitais. A própria reportagem em si parece que está mais preocupada pela degradação dos bairros do que pelo drama de milhares de pessoas que ficaram sem atendimento hospitalar.
Enquanto a corrupção leva milhões para o ralo, o governo sem nenhuma vergonha ainda cogita de fazer voltar o famigerado CPMF. Haja incompetência em administrar a coisa pública. É uma tristeza só em ver todos esses prédios abandonados, onde um dia foram salvos milhares de pessoas.Dá mesmo vontade de chorar.
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