Literatura - 16. O tálamo...

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Naquelas alturas eu já estava bem pratico com o controle da cama. Tinha descoberto como ir para anos determinados, sem diferença no tempo. Mesmo assim um dia resolvi testar o tálamo e ficar certo de onde mandar alguém para uma viagem turística emocionante. Queria mandar a cama para aquele tempo das feras. Para isso, coloquei um pedaço de carne bovina, sobre ela. Se voltasse sem a carne, certamente seria o lugar certo. Mandei-a para aquele determinado ano. A experiência me dava calor, mesmo com o tempo frio. Esperei um pouco, e acionei o controle para trazê-la de volta. O susto foi tão grande que quase cai da cadeira e mal deu tempo de sair do quarto e fechar atrás de mim a porta. Estava em cima da cama um enorme leopardo, que ao me ver arreganhou os dentes emitindo um grunhido grave e rouco. Com a adrenalina correndo rapidamente em minhas veias, ali estava eu encostado na porta, com medo da fera forçar pelo outro lado. Pelo tamanho deveria ter uma força incrível. Acalmei-me um pouco e com muita atenção manuseei o controle para mandar de volta a cama e o enorme felino, enquanto supostamente ele estava em cima do móvel. Esperei meia hora, com o ouvido na porta, para ter certeza que tinha ido. Poderia ter saído da cama e nessas alturas estar solto no pequeno quarto. Devagar, abri a porta e não o vi mais. Fechei-a novamente, encostando um móvel do lado da sala. Fui pelo quintal e por uma fresta na janela do quarto, fiquei observando o local. Uma brisa fria gelava meus braços, mas ali estaria mais seguro. Trouxe a cama de volta, desta vez somente ela. Quando voltei para o quarto, deparei com os panos da cama, sujos e fedendo a urina felina. Senti um enorme alivio de ter resolvido a situação. Daí comecei a ver a grande besteira que tinha feito. Tenho por costume, antes de tomar atitudes, estudar muito bem os prós e os contras. Desta vez simplesmente coloquei a ação no lugar da moderação. Quase fui vitima de um desastre. Fico a imaginar o pessoal me encontrando todo estraçalhado por um felino que ninguém sabia de onde teria vindo e depois escapado pela cidade, atacando as pessoas. Daria uma noticia e tanto para a imprensa.
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Passados alguns dias, Eliza ligou para o homem. Marcaram um encontro. Foram a um restaurante e quando chegou a hora de levar a moça para casa, ela o guiou até uma esquina próxima de minha casa.
Eu já estava preparado e também ela, para levar a bom termo o plano. Era uma distância de cem metros e ela tentou mostrar a casa onde morava.
----Esta vendo aquela casinha em frente ao segundo poste?
----Mais ou menos. ----disse ele procurando localizar um ponto na claridade mortiça da rua.
----Então... É lá que eu moro. ----Completou ela forçando animosidade.
----E porque paramos aqui?
----Porque eu não gosto que meus vizinhos fiquem de olho. ----Confirmou.
----Entendi... Desculpe a pergunta boba.
Ele com jeito, a envolveu suavemente. Era a primeira vez que a tocava. Era ali que começava a parte mais complicada para ela. Era ali que a atuação se tornava mais complexa, exigindo da atriz o máximo do talento. Deixou-o avançar até certo ponto e totalmente controlada, acionou o freio.
Não poderia deixar a coisa rolar tão facilmente. Não sentia nada de bom por aquele sujeito. À vontade de empurrá-lo, ou bater sua cabeça no vidro, era quase maior do que o anseio de levar a bom termo, a tarefa que a atribuíram. Daí se lembrou que tinha que ser uma atriz... Era para isso que PG a incumbira. Afastou-o com muito jeito e disse:- ---Tenho que entrar... Na próxima, o convido para chegar. ---Essa frase o deixou mais animado e facilitou sua saída do carro.

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