Literatura - 15. O tálamo.

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Eliza me ajudou muito na pesquisa de encontrar o tal de Aristides. Em pouco tempo sabíamos onde ele morava, trabalhava e até onde frequentava nos passeios e horas de folga, a cor e marca do seu carro, e o numero da placa. Comprei uma peruca loira para disfarçar Eliza, e também algumas roupas um pouco mais extravagantes para sua grande atuação. Depois de tudo preparado, resolvemos marcar um dia para pormos em ação o plano. Estudamos varias possibilidades, contando que na maioria das vezes tem-se que adaptar um pouco ou ate mudar o estudado completamente. Na vida real os cenários sempre se alteram e muitas vezes, em um segundo tudo muda. Ela estava bem escolada para isso e preparada para eventuais mudanças nos planos. Aluguei um carro, especialmente para usar na operação. Era uma tarde fria quando Aristides saiu do trabalho, rumo a sua casa. Um vento persistente deixava à tarde desagradável e áspera. O trânsito ainda estava calmo naquelas horas. Em certa altura do percurso ele viu uma bonita e vistosa loira sair de um carro estacionado, em um lugar onde era mais despovoado. Havia casas, mas, a uma distância razoável. A moça deu um sinal discreto, indicando que o carro estava com problemas. Ele parou um pouco à frente, esperando alguns minutos, observando para ver se não era uma armadilha. Nestes tempos de violência galopante, todo cuidado era pouco. Tinha muitos casos de motoristas serem sequestrados, roubados e mortos por dar carona a moças bonitas. Constatou que não era possível alguém se esconder nos arredores pois nada tinha para ocultar pessoas. Mesmo o mato se resumia a pouca coisa, rala e disforme. Voltou de marcha-ré até emparelhar com o carro da moça. Ao lado, observou bem para confirmar, se não tinha ninguém a mais, dentro do veiculo, talvez baixado entre os bancos. Não tinha. Daí encostou seu veiculo a frente e perguntou o que tinha acontecido. Ela se aproximou fazendo carinha de anjo sofrido e disse:
----Por favor, meu carro desmanchou. O Senhor poderia me dar uma carona?Estou morrendo de frio.
----Vai deixar seu carro aqui?----Perguntou ele.
----Vou... Não tem problema... Tem seguro total e também logo meu ex-marido vira buscá-lo.
----Vamos lá então. ----Já com a garota sentada ao seu lado e mostrando um par de belas coxas praticamente encostadas ao cambio, ele perguntou:
----Você disse ex-marido?
----Sim... Separamo-nos há dois anos. ----Respondeu ela procurando fazer uma carinha da mais charmosa possível. ----Mas continuamos muito amigos.
----Isso é muito bom. ----disse ele, já arquitetando uma conversa característica, de bom chavequeiro.
----O Senhor é casado?----perguntou ela com expressão de curiosa, tentando tirar as pedras do caminho, para o ver chegar à cantada final. ----Há... Sou sim... Mas meu casamento é diferente dos outros. Minha mulher não gosta mais de mim e nem eu dela. Vivemos juntos como dois amigos que moram em uma mesma casa. Eu tenho minha liberdade e ela também. ----Eliza, na hora percebeu que tudo que ele falava era mentira. Lembrou-se de PG. Além de gostar dele, parecia ser um dos homens sinceros que conhecera.
----Pois é... Eu e meu ex tentamos esse esquema também, mas não deu certo... Ele começou a trazer mulheres para casa, perto de mim. Achei aquilo humilhante e me mudei.
----É... Desse jeito não dá... Tem que haver respeito. ---- completou o homem, ao mesmo tempo em que mudava a marcha e tocava na perna da loira com a ponta dos dedos, acidentalmente. Esta parecia que não ligava para isso, continuando a deixar a perna no lugar. Depois de alguns quilômetros já perto do centro da cidade, ela apontou para uma praça a frente e disse:
----Pode parar ali, por favor?
----Assim tão rápido?Pensei que fosse mais longe... não deu nem pra gente conversar direito.
----É... Sinto muito. Mas tenho que descer aqui mesmo. ----Insistiu ela. Minha casa é aqui perto.
----Esta certa... Sabe, gostei de você e gostaria de vê-la novamente para conversarmos mais. Hoje falamos muito pouco. ----Demorou, mas resolveu, (Pensou ela), fazendo cara de seria.
----Tudo bem... eu ando resolvendo uns problemas e não tenho feito outra coisa. Mas, deixe seu telefone que a hora que surgir uma possibilidade eu ligo para a gente combinar alguma coisa.
----Muito bem... Está aqui. E lá da firma... Diga que quer falar com o Dr. Aristides... E o seu nome qual é?
----Beatriz. ----Disse ela apurando a atenção nele, para captar alguma pequena reação em seu semblante.
----Beatriz... ----Falou ele pensativo. ----Já conheci alguém com esse nome. ----Disse sem demonstrar o mínimo de alteração na fisionomia.
----Era bonita?----Indagou com um sorriso enigmático.
----Não tanto quanto você. ----Disse, forçando convicção. A moça já estava abrindo a porta.
----Obrigada pela ajuda, foi muito bom o senhor parar e me acudir. Hoje já não temos muitos cavalheiros. Até mais.
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Eu estava escondido a uma distância segura de cem metros, disfarçado com uma capa e um enorme bigode de português, dando cobertura a moça. O vento frio gelava minhas pernas, de ficar parado ali por tanto tempo. Coisa nada agradável. O local não era muito acolhedor e despertava apreensão .Tão logo vi que Eliza subiu no outro carro e este desapareceu no fim da avenida quase deserta, corri até o veiculo, que já estava com a chave no contato. Quando estava a cinquenta metros do veículo, chegou um sujeito primeiro do que eu. Como já tinha dito a Elisa, que planos as vezes mudam, este já estava na eminência de pegar outro rumo. Corri, dando tudo que tinha nas pernas, para chegar ao carro antes que o indivíduo desse a partida. Por sorte, parece que ele estava mais interessado em verificar se tinha algo de valor dentro do carro, antes de sair dirigindo por aí. Isso me deu tempo de chegar na hora. O ladrão já estava sentado ao volante. Ofegante pelo esforço descomunal cheguei a janela e disse: --- Sai já daí e eu deixo por barato.--- O rapaz parece que se intimidou e saiu. Se estivesse armado, poderia ter desferido um tiro de dentro para fora, a queima roupa. No momento não pensei nisso. Por sorte o indivíduo estava desarmado. Deveria ser um ladrão de carros comum.
--- O que que você quer...levar o carro?
--- Não... só estava dando uma olhada.
---Muito bem... chega pra lá então, que o carro é meu.
--- E se não for seu? Disse o petulante.
---Quer ver o documento? Está aqui dentro da capa. Mas acho que você não vai gostar não.---Ele parece que entendeu a mensagem e disse:--- Ok. Deixa pra lá, que eu fico na minha.---Entrei no veiculo e dei a partida, sempre de olho no sujeito. Depois que me afastei ainda vi ele pelo retrovisor,no mesmo lugar, me observando ir embora. Acho que ele não tinha visto a chave do carro no contato. A minha jogada de conversa deu certo. Depois disso cheguei em casa a contento. Esperaria pela moça para me contar os detalhes. Dentro de quinze minutos ela chegou, dizendo que o homem parecia estar interessado e que tinha pegado o telefone dele para marcarem o encontro. Não contei a ela do incidente, porque achei desnecessário. Naquelas horas o foco era outro assunto. A conversa daí rumou para, como as coisas teriam dado sorte e encontrado o sujeito com facilidade. Eu disse que certas pessoas são como peixes. Tem que usar uma isca especial para capturá-los. Eliza sorriu, imaginando ser uma isca. ---Você me acha uma boa isca?
----Claro...daquelas especiais.
----Não uma minhoca?
----Claro que não... seria daquelas artificiais, com enfeitinhos.
----Oh!! Sou artificial---Disse ela vindo para o meu lado , balançando as ancas. A peguei pela cintura, dei um aperto suave, tirando dela um pequeno gemido.

----Para mim, você é muito natural.

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