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Comecei
devagar, a conversar com Eliza. Fui contando minha vida de forma
dramática, para mexer com a sensibilidade. Não contei tudo de uma
vez, mas em doses homeopáticas, que fazem melhor efeito. Muitas
vezes ela ficava escutando e passando a mão suavemente em meu braço,
em uma linguagem que expressava sentimento de dó. Estava atingindo
meus objetivos, embora ficasse um pouco com remorso de atirá-la em
uma aventura perigosa. Mas tinha que ser assim. Depois de deixá-la
odiando o homem mesmo sem o conhecer, certo dia propus que me
ajudasse. Ela a principio relutou um pouco:
----Não
sei se dará certo PG. Eu nunca fiz coisa parecida, fico nervosa.
----É
simples. ---- Dizia eu. ----você vai apenas usar de suas armas
femininas e trazer o sujeito para cá. És inteligente e esperta. O
resto você deixa comigo, que eu resolvo.
----Mas,
vou ter que fazer sexo com ele?----Perguntou apreensiva.
----De
jeito algum. Vai ter que seduzir somente... Atraí-lo. E no mais
sempre vou estar por perto, dando cobertura total.
----Você
vai matá-lo?----disse com cara de medo.----Se é isso estou fora.
----Também
não... Apenas dar uma lição bem boa. Coisa assim de uma boa
conversa e fazê-lo sentir-se em minhas mãos. Somente isso.
----Então
a gente vai fazer o seguinte: Vamos encontrar e estudar bem o
individuo, verificar seus hábitos e horários. Depois de tudo bem
preparado poremos em ação o plano, sem pressa e sem correria.
----Está
certo ----disse ela. ----Vamos em frente.
Em
minha mente, a ideia era ela atrair o crápula até o meu quarto e
fazê-lo no mínimo, sentar na cama. Daí eu o mandaria para bem
longe. Mas isso seria devagar e sem preocupação com o tempo.
Iríamos trabalhar no caso, a passo lento.
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Como
tinha voltado ao sitio dos anos vinte em um sábado( data presente)
deveria dar cinco dias de acréscimo na próxima ida, para ajustar-se
com o dia marcado. Seria na próxima quinta feira, para coincidir com
a terça feira, conforme combinado. Como era um dia de trabalho,
teria que ir à hora do almoço e me preocupar com o horário da
volta, para não perder a hora de entrada no serviço. Mas isso
poderia ser também resolvido. Pedi a um colega de trabalho que se
posicionasse em meu lugar por algum tempo, no caso de me atrasar.
Sempre havia colaboração entre os confrades, pois não sabíamos a
hora da precisão, e é bom ter alguém que nos de cobertura, quando
necessário. Na quinta, quando deu à hora do almoço, corri para
casa e comi algo rápido. Em seguida fui para os anos vinte. A loira
me atraía como imã e a limalha. Da baixada, percebi o pano branco
na janela. O caminho estava livre. Subi rápido pela suave encosta e
logo o cão veio dar a as boas vindas. Por um momento me senti em
casa, embora nunca morasse no campo. Logo ela apareceu toda radiosa e
sorridente. Estava arrumadinha, me esperando. Novamente me abraçou e
parecia não querer largar mais, deixando a conversa para mais
tarde. Desta vez a festa foi na cozinha mesmo, tendo como cenário o
velho fogão, onde as cinzas remanescentes emitiam preguiçosamente
pequena fumaça, e as panelas escuras sobre uma prateleira rústica,
testemunhavam de camarote. A mesa virou cama e cadeiras apoio de
mãos e pés. Começamos em cima, terminamos em baixo, com o cão nos
olhando de um canto. Quando entramos na parte do dialogo, ela veio
com a pergunta, ainda enroscada em minhas pernas:
----Afinal
quem é você? Aparece aqui de repente, do nada,se aproveita de mim e
depois vai embora como se fosse algo muito natural?
----Olha...
Não sei se você vai acreditar, mas eu acho que sou seu parente do
futuro.
----Como
assim? Não entendi. ----disse franzindo um pouco a testa.
----Veja
bem eu venho do ano de 2000... Oitenta anos pra frente. Ainda não
tenho certeza, mas acho que seu marido pode ser um meu avo ou um
parente próximo. ----Ela fez uma cara de descrédito e completou:
----Você
só pode ser louco. ---- Eu, percebendo a dificuldade de fazê-la
acreditar, desisti da ideia e mudei de assunto.
----O
que em mim que a atrai?--- Perguntei fazendo cara de louco,
entortando a boca e forçando os olhos num estrabismo desajeitado.
Ela
rindo alto, se levantou, ajeitou os cabelos e disse olhando abaixo:
----Você
é cheiroso.
----E
o seu marido não é? Perguntei com surpresa.
----Não
falemos dele.---- Respondeu ela seria ,encerrando a entrevista.
----Você
vem da cidade? É solteiro?---- Retomaram as perguntas femininas.
----Venho
da cidade. E sou solteiro. ----Respondi, vendo que entrar em detalhes
seria perda de tempo e a nada levaria. Preferi responder
generalizando. Ela não ia perceber. Nisso me ocorreu que o tempo
passava e estava na hora do almoço. Ela me perguntou quando
voltaria. Eu meio atrapalhado disse que em breve e que era de boa
providência colocar o pano na janela quando o marido não estivesse.
Ela fez uma expressão de descrédito. Apressei-me em despedir e
desci a encosta, onde acharia a cama. Achei por bem não voltar mais,
para não criar laços emocionais e também tinha medo de acabar
interferindo no futuro, embora nada tivesse que provasse tal teoria.
Temia eu que se fosse o marido da moça algum parente, isso poderia
ocorrer. Havia lido uma vez em um livro de ficção, em que o sujeito
que viajava no tempo, acabou sumindo por alterar o passado. Coisa
mais ou menos do tipo...se você mata seu avô ou seu pai, você não
nascerá no futuro. É claro que era apenas teoria do autor do livro
mas, eu não estava disposto a agir como cobaia. Tinha que ter
cuidado com certas coisas, porque não sabia como o sistema
funcionava. Quando cheguei a casa, o tempo do almoço se esgotava.
Corri até o banco para assumir o meu posto. Cheguei em cima do
horário.
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