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Se
a noite fosse fria, poderia fazer uma pequena fogueira. Ali sentei
com meus pensamentos e esperei a noite chegar. A luz amarelada do sol
ainda clareava as partes mais altas dos escombros, quando eles
começaram a chegar. Eram grandes, magros e transmitiam no olhar
somente maldade. Tinham sentido talvez meu cheiro e vieram em minha
direção. Para mim aquilo era uma raça de lobos dos maiores que
existiam e todos da cor branca. Alguns tentavam subir a escada sem
sucesso. Parecia que a fome os comandava na busca pela caça. E a
caça desta vez era eu. Comecei a verificar toda a área em cima da
plataforma, para descobrir alguma falha por onde pudessem ter acesso
até onde estava. Felizmente não tinha. Meu estomago começava a
incomodar pelo tempo passado sem comer. Tinha algumas bolachas na
mochila e comi-as devagar com um pouco de água. Fiz a fogueira de
tamanho pequeno, considerando a quantidade de material combustível
que tinha na pequena área. Dizem que fogo mantém animais a
distância e também atrai insetos, entre eles, aracnídeos. Os
insetos confundem a luz e acham que é a do dia, caindo no fogo ou
pousando nas proximidades. Os outros vem para a claridade para pegar
os insetos. Me lembro que quando criança, ia até embaixo de postes
de iluminação em noites de verão para ver aranhas. Não demorou
muito e estava à minha frente um enorme escorpião. Era do tamanho
de minha mão. Fiquei arrepiado e com um chute, joguei-o sobre a
cachorrada lá em baixo. Não deu para ver detalhes, mas parece que o
engoliram sem cerimônia depois de um ganido de dor. Devia ter picado
um deles. Acuado em uma plataforma pequena, sem sequer poder relaxar
um pouco sentado, evitando o perigo de ser picado por um bicho
daqueles, uma irritação começou a tomar conta de mim. Prevendo que
passaria a noite sem dormir, já cansado da situação,revoltado,
estressado, resolvi reagir.
Peguei uma lata de solvente e abrindo-a
atirei no meio dos animais. Imediatamente joguei uma ripa com fogo e
em seguida vi três focos de fogo se movimentado de um lado para
outro, no desespero, com as chamas consumindo sua pelagem. Joguei
mais uma lata, mas esta já atingiu somente o solo em chamas, dando
uma explosão de luz, mostrando todo o cenário macabro. Os animais
atingidos pelo combustível tornaram-se estranhos aos outros e com os
pelos queimados, já meio mortos pelo fogo, foram atacados pelos
demais em uma terrível cena de canibalismo. Quando o dia deu os
primeiros sinais, a matilha em fila foi se retirando. Achei que
seguindo o caminho do bom senso, viveria mais. Já com a segurança
do dia,me deitei a sombra , usando a mochila de travesseiro. Ali
começava minha noite de sono. Se dormisse algumas horas já seria o
suficiente. Quando acordei, o sol já estava na posição das dez
horas. Me senti melhor depois da dormida e com a mente mais
limpa,comecei a planejar a saída daquele lugar. Esperei mais um
pouco e observando ao redor, desci pela escada e rumei para o lado
contrário da rota dos lobos. Entre as carcaças dos que foram
devorados, jazia um inteiro, intocado. Devia ser o que o escorpião
picou. Com a arma na mão e andando depressa, depois de meia hora de
caminhada ofegante, saí dos escombros e entrei em um deserto. Mais
uma hora, cheguei até um bloco de pedra onde parei para descansar.
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