Direitos reservados 55
Na
próxima noite, ela saiu por volta das vinte horas, depois de me
deixar jantado e com os ferimentos cuidados. Não se esqueceu da arma
perto de mim, conferida e municiada. Ainda ouvi o trek da fechadura
travando a porta lá em baixo. Senti momentaneamente um vazio dentro
do peito. Estava ali inerte,sozinho e sem nada poder fazer, enquanto
não sarasse as feridas. A ansiedade vinha em forma de ondas e me
deixava com a respiração rápida,suando frio, e um aperto incomum
no estômago, só em pensar por quais caminhos sombrios ela iria
percorrer. Mas em seguida lembrava, que nada iria acontecer de mal
para a garota. Ela sabia se defender como ninguém. Liguei a TV para
me distrair, mas a mediocridade dos programas me deram mais tédio.
Comecei a conjecturar sobre esse mal que nos assola. Parecem um bando
de imbecis, trabalhando para uma multidão de idiotas. Senti a
presença de gente. Devagar peguei a arma e a fiquei
segurando.Poderia ser que minha hora chegasse,considerando a
situação que me encontrava. O sujeito deveria ser bom, pois nada
escutei. Mas desta vez(pensei comigo) não vou ser uma vítima.No
mínimo, vamos os dois.Lembrei dos filmes de faroeste, onde os dois
inimigos ficam frente a frente no meio da rua e um atira em outro simultaneamente. Em seguida uma brisa suave e perfumada invadiu a
sala. Sentindo o perfume, imediatamente lembrei da Celina. Apareceu a
minha frente, mais bela que nunca, com as mãos para cima,um lindo
sorriso nos lábios e disse:----Não atire por favor...sou eu, sua
amiga.--Puxa,
mas que prazer .Que bom que lembrou-se de vir me ver. Pena que um
pouco tarde, talvez.----Disse eu, forçando um pouco a amizade.--Não
seja ingrato PG. Você está vivo e isso é o que interessa. E por
outro lado, você não sabe a razão de minha visita.--Se
veio me convidar para fugir, fique sabendo que estou prontinho da
silva, embora meio alquebrado. Com você vou para qualquer parte do
universo.--É
mesmo ?----Disse ela esboçando um sorriso de satisfação.--- E a
sua robô,como fica.--Bom
.. podemos levá-la junto.--Acho
que não dará certo.----Disse voltando a sorrir.--Cadê
o meu beijo?Você chegou e achei que estava com saudades. Esperava
mais entusiasmo no re-encontro.--Você
é mesmo impossível PG.----Dizendo isso se aproximou e me beijou no
rosto. A proximidade dela me deixava as portas do paraíso. Seu
perfume era algo inexplicável em palavras. Era como entrar no mundo
dos sonhos, mesmo estando acordado e uma tranquilidade e paz invadia
a alma, tornando todos os problemas em coisinhas insignificantes.--No
rosto? Como irmãzinha?Esperava algo mais consistente.----Repliquei,
apostando na minha situação de enfermo. Ela com seriedade, sem
protestar, segurou minha cabeça e me beijou na boca. Aquilo para
mim, foram os segundos mais longos de minha vida. Tinha medo de
desmaiar mediante o turbilhão de emoções que entrou em minha
cabeça. O gosto refrescante de menta tomou conta de minha boca
novamente e desceu até o estomago , parecendo rejuvenescer todo meu
corpo e tirando todas as minha dores. Quando ela se afastou um pouco,
fiquei paralisado de êxtase.--Você
esta´bem PG?----Perguntou ela preocupada. Ainda segurando seu braço,
para não deixa-la se afastar, eu disse:---Puxa, sumiram até as
dores. Deve ser o seu beijo sabor de hortelã.----Ela riu e devagar
foi se livrando de minhas mãos, que já estavam começando a
explorar com malícia. Nisso, um pequeno barulho na janela que dava
para a rua. Nunca imaginei uma pessoa tentar entrar por ali. A altura
era de no mínimo cinco metros do chão. Mas lembrei que tinha uma
pequena saliência, onde daria para se firmar os pés. Então, não
seria impossível para uma pessoa com prática em escalar, tentar
entrar no apartamento por ali. Peguei a arma novamente. A moça
calmamente pôs o dedo a frente da boca, aconselhando silêncio. Ela
me ajudou a levantar e a ficar ao lado da porta , onde o indivíduo
teria que passar obrigatoriamente. Eu de um lado e ela de outro.
Teríamos que pegá-lo de surpresa. O sujeito entrou devagar
aparecendo primeiro a arma que levava, apontada para a frente a
altura do peito. Pelo visto a sequência era atirar em mim que
previsivelmente estaria no sofá. Ao passar a porta acertei-lhe uma
cacetada na nuca, com a coronha da minha pistola. O grandalhão
desmoronou como um grande saco de batatas, já no chão, fez alguns
movimentos estrebuchantes e sossegou inerte. Estendido no carpete
parecia maior ainda. Cheguei perto e mesmo com uma tremenda dor na
perna pelo movimento rápido,chutei a arma de sua mão para longe. A
moça correu e a apanhou rapidamente. Em seguida apontei a minha,
para a cabeça do individuo. Celina vendo aquilo,gritou um não,
tentando me impedir de atirar.--Tem
outra ideia melhor?----Perguntei a ela, ciente que não poderíamos
dar chance para o bandido. Nessas horas as decisões tem que serem
rápidas se tiver amor a vida.--Deixa
eu dar uma olhada nele.----Disse ela se abaixando para examinar o
brutamontes.----Cuidado!!----Adverti.
Ela calmamente colocou a mão na garganta do sujeito e sentenciou.:--Ele está morto. Você deve ter quebrado a nuca, o que ocasionou morte por asfixia.--Antes ele do que eu.----Respondi meio irritado pela situação que vinha passando nos últimos dias. Não sabia a razão porque queriam me matar e de não desistirem mesmo perdendo gente.Celina tentou me acalmar, me pondo sentado novamente e ficando ao meu lado. Isso para mim foi como um bálsamo vivificante.--Bom, desta vez não foi preciso minha interferência para salvá-lo.--Mas você me ajudou em muito. Se não estivesse aqui não escaparia dessa.----Ela pegou a minha mão e senti novamente aquela sensação de bem estar que poderia vir de seu perfume raro ou de seu contato aconchegante. Novo barulho de fechadura, agora na porta de baixo, da entrada do apartamento. Era Ísis que chegava. Lá de baixo ela falou em bom tom:---- Sou euuu!!!--Olha...--- Falou Celina.----Ela não pode me ver. Por isso não fique falando comigo, que vais passar por idiota.----Assenti com a cabeça, sentindo um alívio .De certa forma não queria que Ísis a conhecesse mesmo. A frente dela com a cabeça baixada, evitando olhares, vinha a Valdívia escoltada pela minha mulher.--Senta ali----Disse a escolta com rigidez. A moça obedeceu prontamente.--O que é isso? Mais um ?----Falou Ísis ao ver o corpo estendido.-- Pois é … ainda bem que tive sorte e a ajuda do meu anjo da guarda.----Olhei para Celina e ela estava rindo.
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