O bar grande a esquerda. A direita o armazém do Gusto.
O BAR GRANDE
Parte da história de Guareí aconteceu neste local. Mais exatamente no
estabelecimento chamado de Bar Grande.Na verdade, não era tão grande
como o nome sugere. Tinha varias portas estreitas de madeira do lado
de cada rua. Por dentro deveria ter no máximo seis metros por oito.
Era o maior bar da cidade, dái o nome.
Na foto antiga acima vemos ele nos tempos em que as ruas eram de
terra. Na outra a cores, já temos o calçamento de lajotas e varias portas
do bar fechadas com alvenaria. Alí era o ponto central da cidade.Nos
sábados a noite sempre havia uma aglomeração dentro e fora do bar.
Os de dentro tomavam bebidas alcoolicas, jogavam snooker e os de fora
conversavam e ficavam olhando as moças que vinham dos sitios para
fazer um incansável desfile, subindo e descendo a rua.
Naquela época a praça era cheia de arvores mas não tinha calçamento.
A agua da chuva fazia barrocas na terra roxa e não tinha iluminação,
o que impedia o povo de frequentá-la a noite. Ao redor da praça o
movimento só acontecia quando em tempos de festa da igreja católica.
Dai apareciam os mascates e armavam suas barracas de bugigangas
sob as frondosas árvores. Elas ficavam com seus ramos mais baixos
iluminados pelos lampiões de carbureto.
Fora a época de festa, o centro nervoso era a esquina do bar grande.
Quando eu era ainda criança, montaram um serviço de alto falante
e ficavam a noite tocando musica sertaneja . Em um ano político, meu
pai que era bom na viola e meio compositor, compôs uma musica onde
descrevia os candidatos do lado do Nhô Vena ( Juvenal Soares) como
participantes de um jogo de futebol. Nos domingos a noite ele ia até o
bar e cantava a musica no alto falante.
Um domingo a noite ia saindo com minha mãe da igreja (que era bem
perto) e vi que meu pai estava lá cantando. Corri por entre o povo, todo
cheio de orgulho e com muito esforço consegui chegar até perto do
estúdio,mas não consegui vê-lo. A aglomeração era tanta que acabaram
pisando em meu pé. O candidato apoiado por meu pai ganhou .Quando
tomou posse, arranjou um emprego para ele na prefeitura.Muito antes
de eu nascer o bar grande ja era um lugar de encontros e desencontros.
Lá aconteceu a morte de várias pessoas ,entre eles os tropeiros que a policia
matou devido a um desentendimento que não ficou bem claro e nem
explicado. Quando da chacina da familia de espíritas que moravam em
um bairro, acusados de fazerem seções com sacrificio humano, os corpos
foram trazidos em carroças e colocados dentro do bar. Foi tudo uma
armação contra a tal familia e nada conseguiram provar . Obra de um
"chefe de quarteirão" que não gostava deles.
Os chefes de quarteirão eram líderes de bairro. Com isso a cidade ficou
com a terrível fama de comer criança. A língua naquele tempo ,substituía
os jornais e os acontecimentos eram aumentados a bel prazer. A primeira
vez que vi um filme foi dentro do bar grande.Tinha nove anos. Uma noite
meio fria, por volta de nove horas meu pai chegou contando do evento e
disse que ia me levar. Ja tinham passado o filme, mas iam repetí-lo como
em uma segunda seção.
Pulei da cama rapidamente e em minutos estava pronto par ir.Chegamos
lá e estavam preparando a máquina projetora "Natco"para outra seção.
Algumas mocinhas ali de perto, tomaram lugar na frente, sentadas no chão
sujo de cuspe de bêbados,para deixar livre a visão dos que estavam atrás.
A projeçao era na parede caiada de branco. Esse foi o dia mais importante
da minha infância. A partir dali, me apaixonei pelo cinema e seu mundo
maravilhoso.Aquela seção de cinema no bar grande era uma amostra que
dois amigos de Tatui fizeram.
Começou a exibição com um conjunto de negros cantando muito bonito.
Nunca tinha visto aquilo. Depois veio o filme em que o mocinho tinha que
salvar a mocinha em uma cabana no meio da floresta pegando fogo, e tudo
em preto e branco. Depois de um certo tempo, montaram um cineminha
que fez o maior sucesso.
O tempo passou, nós crescemos e chegou um dia que batemos asas, mas
o bar grande continuou lá, indiferente ao passar dos anos. Teve mil donos,
épocas boas e outras ruins, mas como os donos, as épocas também
passaram. O predio parece desafiar o tempo e embora mudassem nele
muita coisa, ainda continua como um ícone do lugar...senão como parte
da história.
Um comentário:
Amei ler um pouco da história de Guareí.
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