Refrescando



















CIENTISTA SUGERE CIDADES CLARAS PARA COMBATER
AQUECIMENTO.
Cientista diz que países mediterrâneos já adotam técnica há milhares
de anos. Um cientista americano realiza uma campanha para que
grandes cidades do mundo sejam "resfriadas" - ou seja, cobertas com
materiais de cores claras - de forma a combater o aquecimento global.

Em entrevista à BBC Brasil, Hashem Akbari, do Lawrence Berkeley
National Laboratory, na California, afirmou que, se esse recurso for
utilizado por habitantes das grandes cidades do planeta, o processo
de aquecimento global pode ser retardado, dando tempo à humanidade
na busca de soluções para diminuir as emissões de carbono.

Akbari diz que o Brasil, particularmente, teria muito a ganhar se
aderisse à campanha - batizada de "Cool Cities Program" (em tradução
livre, Programa Cidades Frescas). "O Brasil é o país ideal para a adoção
dessas medidas e espero recrutar São Paulo e Rio para aderir ao programa".

"Prédios com ar condicionado cujos telhados fossem adaptados (usando
materiais que reflitam a luz) poderiam economizar energia e prédios
sem ar condicionado se tornariam mais confortáveis", diz o cientista.
"Tudo isso foi provado a partir de simulação em computador."

"Telhados e calçadas frescos tornariam cidades como Rio e São Paulo
mais confortáveis de maneira geral", acrescenta. "Isso motivaria os
cidadãos a caminhar mais, e as temperaturas mais baixas melhorariam
a qualidade do ar urbano."

"E sendo um país onde faz calor o ano todo, o Brasil poderia contribuir
muito para combater o aquecimento global. Dez metros quadrados de
telhados ou calçadas frescos cancelam o equivalente a emissões de
uma tonelada de CO2."

ESTUDOS
Akbari e mais dois colegas publicaram um artigo na revista científica
Climatic Change que avalia o impacto do uso de materiais refletores
de luz em telhados de prédios na redução de gastos com ar
condicionado. Vários estudos do tipo tem indicado que prédios com
telhados claros ficam mais frescos no verão.

Isso ocorre porque a mudança na cor aumenta a reflexão da radiação
solar e reduz o acúmulo de calor em áreas construídas - um fenômeno
conhecido como "ilha de calor urbano" - e permite que as pessoas
vivam e trabalhem dentro das construções sem ligar o ar condicionado.

Em 2005, o governo da Califórnia, nos Estados Unidos, criou leis que
obrigam armazéns e prédios comerciais com telhados planos a cobri-los
de branco. Cidades ocupam cerca de 2,4% das terras do planeta, e por
volta de metade desse território está coberta por ruas e telhados.

Akbari calcula que cobrir essas superfícies de branco - ou de materiais
de cores claras - aumentaria a quantidade de luz solar refletida pelo
planeta em 0,03%, o que equivaleria a cancelar o aquecimento global
produzido por 44 bilhões de toneladas de carbono.

"Vamos supor que, com uma varinha mágica, nós resfriássemos todas
as cidades do planeta (usando materiais refletores de luz)", imagina
Akbari. "Isso produziria um resfriamento no planeta que seria
equivalente à não emissão de 44 gigatons de CO2."

Os cálculos levam em consideração um aumento nos gastos com
aquecimento durante o inverno. E também uma certa perda de reflexão
nos materiais com o passar do tempo. "Esse resultado faz um balanço
entre a redução na temperatura e a não emissão de CO2".O cientista
calcula que isso seria o equivalente a atrasar em dez anos o aumento
previsto nas emissões de carbono do planeta.

CRITICAS

A proposta de Akbari é baseada em um princípio simples de Física:
cores escuras absorvem a luz do Sol e a devolvem em forma de
energia térmica, contribuindo para o efeito estufa.Os críticos da
ideia dizem que ela não resolve o problema principal, ou seja, o
aumento vertiginoso nas emissões de carbono pelos habitantes do planeta.

Em entrevista à BBC Brasil, Akbari enfatiza que seu objetivo não é
substituir os esforços para cortar as emissões e, sim, operar
paralelamente a eles."Essa técnica, em particular, vem sendo usada,
com resultados comprovados, por países mediterrâneos há milhares
de anos", afirmou.

"Essa não é uma solução perfeita. O problema do aquecimento global
tem de ser resolvido por medidas que levem a emissões zero de gases
que causam o efeito estufa e, mais adiante, por medidas que consigam
trazer parte dos gases já emitidos de volta para a Terra".

Akbari diz que a idéia é oferecer ao planeta tempo para tomar fôlego
enquanto outras medidas são negociadas. O cientista acrescenta que
não vê um ponto fraco na idéia. Para ele, o programa beneficia a todos
e não são necessárias grandes negociações para fazê-lo acontecer.
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