Capitalismo que mata.



























Justiça francesa vai investigar onda de suicídios na France Telecom

Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil

Mais de dez funcionários da companhia cometeram suicídio em 2010

A Justiça francesa informou nesta sexta-feira que vai investigar a
onda de suicídios na operadora de telefonia France Telecom. Nos
últimos dois anos, 46 funcionários da companhia se mataram -
11 deles apenas em 2010, segundo dados da direção da empresa
e dos sindicatos.

Pela primeira vez na França, a política de gestão de recursos
humanos de uma empresa poderá ser configurada como uma
infração penal e levar seus dirigentes a um tribunal penal,
que pode aplicar penas de prisão.

Segundo a Procuradoria de Paris, a decisão da Justiça de abrir
investigações "por assédio moral" é baseada em uma queixa
apresentada pelo sindicato Sud contra a empresa, e também
nas conclusões de um relatório da Inspeção do Trabalho.

O documento aponta "métodos de gestão que colocam em
perigo a saúde dos trabalhadores".

No relatório de 82 páginas, entregue à Justiça em fevereiro, a
inspetora do trabalho Sylvie Catala afirma que as situações de
mal-estar vividas pelos trabalhadores e os suicídios estão
ligados "à política de reestruturação e de gestão da empresa",
conduzida desde 2006, com o objetivo de cortar 22 mil postos
de trabalho.

No documento, a inspetora do trabalho cita os supostos
comentários feitos pelo diretor de recursos humanos em
uma reunião, em 2006, quando ele teria dito que "teria
fracassado se a empresa não conseguisse realizar as 22 mil
demissões, que representariam 7 bilhões de euros
a mais no caixa".

Depressão

As técnicas utilizadas pela direção para obrigar os empregados
a deixar a companhia, como transferências forçadas para
outras regiões ou mudanças nas atividades e cargos dos
funcionários, são apontadas como as causas de depressões
e outros problemas psicológicos e estariam ligadas aos suicídios.

A inspetora afirma no documento entregue à Justiça que os
diretores da France Telecom foram alertados inúmeras vezes
por médicos do trabalho e representantes da Previdência
Social sobre os riscos à saúde dos funcionários provocados
pela administração da empresa.

A investigação da Justiça tem como alvo a France Telecom,
como pessoa jurídica, e também responsáveis diretos pela
empresa, como o ex-presidente Didier Lombard, que deixou
o cargo em setembro de 2009, após a polêmica causada
pelo onda de suicídios.

Louis-Pierre Wenès, o ex-número dois da companhia e chefe
das operações na França, que também deixou o cargo no ano
passado, e Olivier Barberot, diretor de recursos humanos,
também deverão responder à investigação judicial.

"Isso prova que a Justiça está levando o caso a sério", afirma
Patrick Ackermann, sindicalista do Sud. A France Telecom
foi privatizada em 2004.


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