A primeira copa
Eram duas portinhas estreitas de madeira que constituiam a
entrada do barzinho.Piso de cimento encardido pela poeira
que entrava constantemente da rua.O balcão era também de
madeira fechada.Na parte da mesa, a altura da gaveta existia
uma pequena fresta feita a formão, que era para ser
colocadas as moedas de cruzeiro.
Nas laterais do pequeno espaço onde ficava a freguesia, tinha
dois bancos também de madeira.Sobre o balcão do lado direito,
uma vitrina com estrutura de madeira envernizada e preenchida
com vidros frágeis exibia os doces feitos pela Nhá Purdica. Alí
tinha pé de moleque moreno , branco e outras miudezas
açucaradas.
De outro lado do balcão um conjunto de três vidros, mostrava
as balas e caramelos que vinham de fora.As prateleiras também
de madeira, em conjunto com o balcão eram pintados de um
triste azul escuro embaçado.Nas partes mais usadas a tinta se
desgastava mostrando claros e silhuetas de outras pinturas
mais antigas.
Entre as garrafas empoeiradas de pinga e cerveja , lá estava
ele.O rei da temporada,com aspecto todo orgulhoso por trazer
as informações em tão longe recanto. Era o rádio flex da época.
Funcionava a bateria de carro e eletricidade.Como na cidade
a luz só vinha a noite , para se ouvir rádio de dia,tinha que ser
nesse sistema.
E lá estávamos nós para escutar a transmissão do jogo do
Brasil.Meu pai fazia companhia e mais algumas pessoas que
não me lembro.O bar era do Dito do Nório e quem tomava conta
era seu irmão Felício. Eu estava com quinze anos e era a
primeira copa que despertava interesse em minha cabeça.
Antes ouvia comentários e me perguntava o que seria aquilo.
Talvez o topo do mundo?Se considerarmos a copa das árvores.
Em uma época onde as informações eram fontes escondidas e
camufladas, difíceis de se achar,jornais e revistas traziam sempre
os acontecimentos requentados para os da beirada do mundo.
E ali ficamos numa vibração animada por vários dias, cada dia
uma nova emoção, a cada dia uma nova vitória.A Suécia era um
lugar distante, frio e para nós, inacessível.Era outro mundo.
O time até então desconhecido, formado por jogadores escolhidos
por aqui mesmo, poderia se dizer, genuinamente nacional.
Humildes,sem propaganda nem patrocinadores distorcionistas,
lá estavam eles fazendo o que de melhor sabiam. O dinheiro não
influenciava e eles estavam lá para defender uma causa nobre e
mostrar ao mundo que o Brasil existia.
Fizeram sucesso.No último jogo, o Felício distribuiu uma rodada
de Cinzano por conta da casa, para comemorar a vitoria e a
temporada que a turma fequentou seu bar com hora marcada.
Afinal, era o inicio de tudo que vemos hoje no futebol. Merecia
um drink.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário