Puxão de orelha



















EUA criticam governo brasileiro por tráfico de pessoas e trabalho
escravo.

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Folha de são paulo

O governo brasileiro voltou a ser criticado nos EUA por não
cumprir padrões mínimos para eliminar o tráfico de pessoas
e o trabalho escravo, apesar de terem sido reconhecidos esforços
do país para se adequar no último ano.

Em relatório divulgado nesta segunda-feira pela secretária de
Estado Hillary Clinton, o governo americano estima em 12,3
milhões o número de vítimas de trabalho e prostituição forçados
no mundo.

O Brasil é classificado como "fonte de homens, mulheres, meninos
e meninas para prostituição forçada no país e no exterior e
trabalhos forçados" em solo nacional.

O texto diz que o governo fez "grandes esforços" para resgatar
milhares de trabalhadores em situação de escravidão e expandiu
serviços oferecidos a vítimas de tráfico sexual.

Alerta, porém, para o fato de que o número de condenações aos
responsáveis caiu e que abrigos e proteções às vítimas continuam
inadequados.

Mulheres e crianças brasileiras, particularmente de Goiás, são
citadas como vítimas de prostituição forçada em países como
Espanha, Itália, Reino Unido, Portugal, Suíça, França e mesmo
os EUA.

Já a indústria têxtil de São Paulo é mencionada como destino
de trabalhadores forçados de Bolívia, Paraguai e China.

O Brasil ficou no segundo de uma escala de quatro níveis (no
primeiro estão os que cumprem padrões mínimos). É uma
posição constante desde 2007 e superior a dos demais membros
do grupo dos Brics (China, Rússia e Índia).

O relatório homenageia ainda "heróis" do combate ao tráfico
de pessoas --um deles o frei francês Xavier Plassat, escolhido
por seu trabalho desde 1989 na CPT (Comissão Pastoral da
Terra) no Brasil.

Segundo Plassat, "o país tem instrumentos de libertação, mas
não se faz quase nada em prevenção e reinserção, sem falar
na impunidade".

Ele afirma que só libertar escravos não resolve o problema.
"Escravo não é só quem trabalha acorrentado, como creem
políticos como a [senadora] Kátia Abreu (DEM-TO). As maiores
organizações pecuárias do Brasil ainda quase negam [a situação]."

"O que falta ao Brasil é vergonha na cara."

Procurado, o Ministério do Trabalho afirmou que o combate
ao trabalho escravo continua evoluindo ano a ano e que o país
é modelo da ONU em políticas e legislação para o tema.

Os EUA também incluíram análise de si próprios pela primeira
vez no relatório deste ano. Destacaram vítimas de trabalho
forçado entre a comunidade latina, muitas delas imigrantes
levados ao país sob falsas promessas.

Nenhum comentário: