O rico e o pobre


















O RICO PAGA MENOS IMPOSTO QUE O POBRE

A coluna de Bergamo revela o mundo da pechincha das grifes internacionais, de como o andar de cima consome o seu dinheirinho. Tudo bem, eles têm direito de gastar sua grana do jeito que quiserem, ainda mais se foi ganho honestamente. Ninguém tem nada com isso.

Cada um faz o que quiser com o que é seu. Não vou nem entrar em comparações sobre quantas famílias poderiam receber o benefício do Bolsa Família com o casaco de R$ 28 mil adquirido na liquidação.

Gostaria, sinceramente, é que a turma que governa esse país parasse para meditar um pouquinho sobre essas cenas de realismo fantástico relatadas no "Guia da Pechincha". Principalmente os políticos, como Serra e Dilma, que, neste ano eleitoral, estão disputando a sucessão do presidente Lula.

Sabe por quê? Primeiro, porque, proporcionalmente, o rico paga muito menos imposto do que as classes média e baixa desse país chamado Brasil. A baixa não paga impostos diretamente, mas sofre com a tributação indireta embutida nos produtos que consome.

A média é tributada diretamente pelo Leão da Receita Federal e não tem como fugir da mordida. Quando tenta, corre o risco de cair na famosa malha fina. Já a classe alta, a verdadeiramente rica, tem fórmulas e fórmulas de fugir da tributação. As famosas brechas tributárias, ou elisão fiscal, no jargão fiscal. Assim, essa classe deixa de contribuir como deveria para os cofres públicos.

Enquanto isso, ela desfila pelas liquidações de grifes internacionais, torrando até R$ 200 mil em casacos de pele, de couro e outras peças por cabeça. Isso mesmo, uma única pessoa torrou essa grana na liquidação. Repetindo, se o dinheiro é dela, o que eu tenho com isso? Ela tem o direito de fazer da sua grana o que bem entender.

Só que, quem governa esse país, deveria dar uma olhada mais atenta sobre essa turma. Checar se realmente está pagando impostos equivalentes ao seu poder de compra. Com certeza, vão descobrir que muitos não estão. Posso estar errado, mas a pessoa que comprou uma única peça de grife internacional por R$ 35 mil pode muito bem não ter contribuído para a Receita tanto quanto um assalariado de classe média. O triste da história é que, se esse grupo pagasse na mesma proporção que os demais, o tal fosso entre ricos e pobres poderia ser menor.

Aí vem o segundo ponto que os candidatos deveriam observar. Enquanto alguns poucos têm mais do que o suficiente para torrar sua grana em grifes internacionais, a maioria sobrevive com baixos salários. Esse fosso entre classes é o retrato da nossa desigualdade de renda, que está entre as maiores do mundo. Isso mesmo, continua sendo uma das maiores do mundo.

E trabalhar para reduzi-la não significa ir contra o sistema em vigor. Pelo contrário. A experiência mostra, inclusive, que a economia melhora quanto mais renda for distribuída.

O detalhe dessa questão é que ninguém se mostra muito disposto a mexer com esse pessoal da classe alta. Principalmente quando se chega ao poder e com ele começa a conviver.

Valdo Cruz, 48 anos, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia.
 * E-mail: valdo.cruz@grupofolha.com.br
  

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