Preço da morte
















Cemitérios têm m² mais caro que apartamento
É o que se verifica em pelo menos nove deles espalhados por diferentes bairros de São Paulo.

Felipe Oda / JORNAL DA TARDE - O Estado de S.Paulo

É caro viver em São Paulo. Morrer também. A "lógica" da valorização imobiliária, em que o preço cobrado é o que o mercado está disposto a pagar, prova isso. O metro quadrado de nove cemitérios da capital é tão ou mais caro do que o de casas e apartamentos em seus bairros.

Quem pretende comprar um terreno ou jazigo no Cemitério Parque dos Girassóis, em Parelheiros, na zona sul, por exemplo, começa pagando R$ 9.403 pelo metro quadrado e pode chegar a R$ 25 mil, se quiser adicionais, como ossário ou maior número de gavetas. O metro quadrado em um imóvel da vizinhança custa quatro vezes menos.

À procura de apartamento na região do Morumbi, na zona sul, onde estão três dos cemitérios mais caros da cidade, os recém-casados Andréia e Renato Malta, ambos de 26 anos, se surpreenderam mais com o valor dos jazigos do que com o dos imóveis. "É estranho imaginar que os nossos futuros vizinhos, que nem podem aproveitar a estrutura do local, pagaram mais do que nós", disse Malta.

Ali, os Cemitérios Gethsêmani e Morumby refletem a valorização imobiliária do seu entorno: o preço do metro quadrado varia de R$ 2 mil a R$ 9.300. Isso é a lógica do mercado imobiliário, na visão do urbanista Renato Cymbalista. "Os cemitérios privados são um tipo específico de produção do solo imobiliário, que responde à lei de oferta e demanda, ou seja, o preço é o que o mercado se dispõe a pagar."

No caso dos cemitérios públicos, os valores são atribuídos também ao seu prestígio, afirma o geógrafo Eduardo Rezende, da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec). "Alguns abrigam famílias célebres da cidade ou personalidades, como o Araçá, o São Paulo e do Morumby", afirma. Pagar mais por esses locais tem a ver com a busca pela diferenciação. "Mesmo depois da morte, o ser humano quer ter ou manter o status", diz.

É o que faz ser tão caro o jazigo no Cemitério da Quarta Parada, na Água Rasa, zona leste, que é público. O metro quadrado ali custa cerca de R$ 3.173, enquanto o dos imóveis vizinhos, R$ 2.672. "Podemos pensar em mudar de ramo", ironiza o corretor de imóveis Lauro Münggen.

Também na zona leste, vizinhos do Cemitério do Carmo, em Itaquera, estranharam o fato de o metro quadrado dos imóveis, em média R$ 2 mil, de acordo com a Empresa Brasileira de Patrimônio (Embraesp), custar menos do que o do cemitério, em torno de R$ 3.700. "Pagar mais para comprar um jazigo do que uma casa? Bem estranho. Nunca soube disso! E o que o cemitério tem para custar tanto?", questiona a dona de casa Eulália Figueira, de 45 anos.

A resposta, mais uma vez, inspira-se nos recursos imobiliários para a valorização: enquanto os imóveis se valem de infraestrutura, como playground, espaço gourmet e segurança, os cemitérios também se valorizam com os serviços que oferecem - capela, fraldário, ambulatório.

Hoje, quatro cemitérios na cidade oferecem jazigos gratuitos. De acordo com o Serviço Funerário da Prefeitura de São Paulo, na Vila Formosa, Vila Nova Cachoeirinha, D. Bosco e São Luís, a única taxa cobrada é de R$ 59, pelo sepultamento.

No futuro tudo isso vai acabar. Nos lugares onde existem cemitérios vão ser jardins ou condomínios.Vai chegar uma hora onde a cremação vai ser total e obrigatória, em vista da praticidade e por questões de saúde pública. Os mortos não tomarão mais espaço já que isso em nada interessa a eles mesmo.

Suas cinzas ficarão condicionadas em vidros, nas estantes dos parentes que cuidarão com carinho.Acaba-se também a grande exploração do sistema atual.Tem cidades que as prefeituras faturam horrores em cima da desgraça alheia.Paga-se taxa para qualquer movimento feito dentro da área.Um exemplo é a cidade de Campinas.


Nenhum comentário: