A cinza maldita.




Crime Ambiental - as Queimadas de Cana
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O uso do fogo na agricultura é condenado há mais de cem anos pelos manuais de conservação do solo, pelas conseqüências negativas que ele provoca na produtividade da terra. No entanto é milenar a utilização da queimada para a retirada de florestas e campos, para a implantação de pastagens e lavouras ou mesmo para a edificação de vilas e cidades, com influência direta na formação de semi-áridos e desertos.

Há muitos relatos de desastres colossais provocados pelas queimadas de vegetação, muitas delas praticadas pelos exploradores e colonizadores do velho mundo.  Em nosso país desde o inicio da colonização as queimadas foram utilizadas para a preparação de áreas para o plantio da cana-de-açúcar sendo o fogo ateado para a destruição de campos e florestas.

Gilberto Freire diz que "o canavial desvirginou todo esse mato grosso de modo mais cru pela queimada. A cultura da cana valorizou o canavial e tornou desprezível a mata". O processo é bem simples - para plantar a cana derruba-se ou queima-se a floresta. Depois para fabricar o açúcar essa floresta faz falta para manter aceso o fogo nos engenhos, ou construir infra-estruturas. A cana tem na floresta o seu maior amigo e inimigo.

O uso inconseqüente do fogo para as práticas agrícolas ou de pastagens e para a abertura de locais de habitação humana sempre foi uma realidade no Brasil desde seu descobrimento, sendo que até hoje essa prática continua vigente.

Com a crescente monocultura da cana-de-açúcar, a prática das queimadas passou a ser rotineira. Depois da queima inicial da vegetação para a implantação dos canaviais, ocorrem as queimadas no canavial, para facilitar a colheita. No estado de São Paulo até a década de 70 as usinas eram proprietárias de aproximadamente 30% da área que utilizavam para o plantio da cana-de-açúcar.

Com o advento do Pro-álcool (1975) e por causa do subsídio estatal, com juros negativos e longo prazo de carência, a cultura canavieira avançou sobre os campos de outras culturas (feijão, arroz, café, etc.). Rapidamente o domínio das terras destinadas ao plantio da cana passou para as usinas, por força de aquisição ou de arrendamento.

A prática da queimada da cana-de-açúcar foi difundida em larga escala. O controle parcial desse pecado contra a natureza somente tem ocorrido por força dos movimentos sociais que acabam forçando a criação de legislações específicas, ações do Ministério Público e decisões judiciais.
O exemplo de Cuba é bem diferente do caso brasileiro. A partir da década de 70, Cuba iniciou a mecanização das colheitas da cana-de-açúcar, abandonando devagarzinho o uso do fogo nos canaviais, eliminando totalmente essa prática nos dias atuais.

Método semelhante adotou as Filipinas, com associação de outras culturas no meio dos canaviais, sendo que a palha seca da cana é utilizada como adubo orgânico. Apesar de todo o histórico negativo, as queimadas da cana-de-açúcar continuam sendo praticadas no Brasil.  Mas são bastante combatidas por setores organizados da sociedade, especialmente pelo movimento ambientalista. Um exemplo aconteceu na região de Ribeirão Preto: a partir de l988 surgiu uma entidade denominada "Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil" que luta no combate contra as queimadas.

Nesse mesmo ano os ativistas coletaram mais de 50 mil assinaturas em um documento contra as queimadas, que foi enviado ao governador do estado. Ele chegou a proibir as queimadas e depois anulou sua decisão por pressão dos usineiros, proibindo as queimadas num raio de dois quilômetros em torno das cidades.

Em 1991 essa mesma Associação junto com outras entidades, fez um plebiscito com ampla participação da população, onde 95% votaram contra as queimadas. Todos os anos acontecem numerosas manifestações contra esse crime ambiental, passeatas e audiências públicas com setores da saúde e educação do município.

Vale lembrar que o uso do fogo na agricultura é altamente prejudicial para a terra, pois provoca a desertificação (veja o caso do nordeste brasileiro) e alterações climáticas, como conseqüência da destruição da cobertura florestal nativa e pela falta de proteção para as nascentes e mananciais, o que ocasiona grandes alterações no ciclo das chuvas.

Fora isso, as queimadas da cana-de-açúcar provocam outros impactos ambientais negativos que afetam a sustentabilidade da própria agricultura. No solo, o fogo altera as suas composições químicas, físicas e biológicas, prejudicando a troca dos nutrientes e causando a sua volatilização.

Por conseqüência delas, há um uso maior de agrotóxicos e herbicidas para o controle de pragas e de plantas invasoras, sendo que tal prática agrava ainda mais a questão ambiental, matando os microorganismos do solo e contaminando o lençol freático e os rios.

As queimadas causam a liberação de ozônio, de grandes concentrações de monóxido de carbono e dióxido de carbono, que afetam a saúde dos seres vivos, prejudicando a produtividade de diversas culturas. Elas possibilitam que raios ultravioletas atinjam em maior quantidade a Terra e causem efeitos cancerígenos.

Igualmente, os gases que ficam concentrados na atmosfera absorvem a energia térmica dos raios infravermelhos refletidos pela superfície da Terra, contribuindo com o efeito estufa que gera uma reação em cadeia negativa para o planeta.

Durante a queimada da cana-de-açúcar a temperatura do solo a 1,5 cm de profundidade chega a mais de 100º e atinge 800º centígrados a 15 cm acima da terra, afetando a atividade biológica do solo, responsável por sua fertilidade.

As queimadas eliminam os predadores naturais de algumas pragas, provocando o descontrole e exigindo assim a utilização cada vez maior de agrotóxicos. A cultura da cana-de-açúcar é responsável pelo uso de mais de 50% de todos os herbicidas utilizados na agricultura brasileira.

A eliminação da cobertura vegetal do solo através das queimadas, favorece o escorrimento superficial da água das chuvas, agravando o processo erosivo.
Os canaviais não são plantados em áreas distantes, isoladas de outras culturas ou vegetações. Na verdade, eles chegam até os limites de florestas, áreas de proteção ambiental, áreas de plantio de outras culturas, etc.

Como as queimadas são efetuadas na estiagem, não é raro que a vegetação limítrofe seja atingida, direta ou indiretamente, sofrendo danos irreparáveis ou de difícil reparação. Mesmo que as usinas paguem multas e indenizações, não há dinheiro que recupere a situação original de uma reserva florestal, com sua biodiversidade, seus nichos e seu equilíbrio, que são destruídos para sempre pelo fogo.

É grande o número de animais que morrem pelo fogo, pela elevada temperatura ou por asfixia causada pela fumaça. Além disso, há um número espantosamente maior de outros membros da fauna, como insetos, pequenos roedores e pássaros, que são completamente incinerados.

As queimadas existem apenas para reduzir os custos do setor canavieiro com a colheita da cana-de-açúcar, pois o rendimento do cortador de cana ou da colheitadeira é triplicado quando a cana é queimada.

O setor canavieiro sempre ameaça a população que reclama das queimadas, com o desemprego dos cortadores. Dizem que seriam trocados pelas colheitadeiras. Mas esse argumento é mentiroso, pois se queimadas fossem proibidas hoje, seria no mínimo triplicado o numero de trabalhadores empregados na colheita.

Eles dizem que os trabalhadores não querem cortar a cana crua, pois o rendimento do corte é baixo, existe o risco dos animais peçonhentos, cortes e outras. No entanto os trabalhadores já cortam a cana sem queimar para o plantio, basta pagar uma remuneração justa e fornecer equipamento adequado.

Eles são pagos por produtividade e têm morrido de exaustão. Essa forma de exploração desregrada não pode continuar, sendo que os trabalhadores, se assalariados, poderiam cortar a cana crua sem problemas.

As condições ambientais de trabalho do cortador na cana queimada são muito pior que na cana crua, pois a temperatura no canavial queimado, pela cor escura que apresenta, eleva a temperatura ambiente que chega a mais de 45º C! A fuligem da cana penetra na pele e pela respiração circulando na corrente sanguínea do trabalhador causando doenças.

As queimadas reduzem o custo do setor canavieiro e aumentam os lucros - mas a sociedade fica com os prejuízos causados. As pessoas ficam doentes, pois respiram as partículas finas e ultrafinas provenientes das queimadas, que penetram no sistema respiratório provocando reações alérgicas e inflamatórias.

Esses poluentes passam para a corrente sanguínea, causando complicações em diversos órgãos do organismo. Aumentam as despesas públicas com atendimento médico para o tratamento dessas moléstias, e a população normalmente tem que arcar com o custo dos medicamentos, exames, etc.

"A fumaça gerada pela queima da palha da cana-de-açúcar (...) contém substâncias potencialmente cancerígenas, dentre elas os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs), que tanto provocam intoxicações através das vias respiratórias, como pelo contato com a pele, podendo ocorrer cânceres de pulmão, de bexiga e de pele", descreve o engenheiro agrônomo Daniel Gonçalves, pesquisador da UFSCar.

A população tem ainda que pagar pela água e produtos de limpeza que são utilizados para limpar a "sujeira" causada pela fuligem.
Os usineiros levantam a bandeira de que a queimada da cana traz a criação de postos de trabalho. Dizem ser uma das maiores vantagens da expansão canavieira. A atividade é conhecida como uma das mais penosas e degradantes para os trabalhadores. 

Vejam o que afirma o pesquisador da Embrapa, José Maria Ferraz sobre isso:
"A vida útil dos escravos no Brasil era de aproximadamente 10 anos. A do cortador de cana hoje é de 15. O mesmo bóia fria que, nos anos 1970, cortava até 10 toneladas de cana por dia, hoje corta até 20... Além disso, a atividade canavieira ainda pratica o pagamento por produtividade, o que não ocorre em qualquer outro lugar".

Ribeirão Preto, um dos municípios mais ricos do interior de São Paulo, tem cerca de 20 favelas e uma das mais altas concentrações de renda do Brasil, aponta Kelly Naforte, membro do MST. É lá que o Ministério Público investigou a morte por exaustão de pelo menos 15 trabalhadores no corte de cana entre 2003 e 2005.

"O álcool é menos danoso (em termos de poluição) do que a energia fóssil e tem vantagens, sem dúvida. Mas o Brasil não é o celeiro do mundo, e a perspectiva do governo de que o país tenha 100 novas usinas é uma loucura. É preciso primeiro respeitar as legislações sócio-ambientais existentes, e investir em alternativas, como a certificação ambiental da atividade.

A mecanização do setor canavieiro, apesar de impactar sobre a oferta de mão de obra, também é uma solução para a poluição gerada pelas queimadas. Mas há que se ter claro que o etanol não é uma energia limpa", afirma o pesquisador José Maria Ferraz.

A pressão para estender a fronteira agrícola certamente vai aumentar, e muito. E o que vai acontecer nos lugares em que a cana-de-açúcar se tornar dominante? Leiam uma carta publicada tempos atrás no Painel do Leitor da Folha de S.Paulo:

"Como geólogo ambientalista, preocupa-me a intenção do Brasil de produzir cada vez mais álcool para exportação a partir da cana. Na região de Ribeirão Preto, Bebedouro e Araraquara, o que tenho visto foram muito mais coisas negativas do que positivas.

Do ponto de vista ambiental, vejo o ar poluído pela fumaça e pela fuligem das queimadas; o mau cheiro do vinhoto usado como adubo; o desaparecimento de pequenos cursos d’água, nascentes e banhados, que estão sendo secados para serem plantados; plantações de cana até nas várzeas dos rios.

Quilômetros são percorridos sem que se veja uma árvore, um pássaro, uma moradia. É uma paisagem desoladora. Do ponto de vista socioeconômico, vi que a riqueza produzida não foi socializada e que há muita miséria nas periferias das cidades onde vivem os cortadores de cana.

Vejo trabalhadores cortando cana sob um sol escaldante e imediatamente após as queimadas, quando muita fumaça ainda se levanta e a cinza ainda é quente. E li notícias sobre cortadores de cana que morrem por exaustão física. É esse o tipo de progresso que queremos para o Brasil? ANTONIO THEODOROVICZ (São Paulo, SP).

O fato de as queimadas estarem autorizadas por decretos não as torna lícitas, pois violam a Constituição e a Lei Federal nº 6.938/81, que dispõe sobre a política nacional do meio ambiente, e conceitua poluição de forma ampla (art. 3º, III). E a Constituição assegura que todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225).

Como vimos, as queimadas poluem o meio ambiente, causam dano à saúde e não é o único processo disponível para a colheita da cana ou para as demais práticas de agricultura. Elas matam animais e plantas e acaba, com o equilíbrio ecológico; invadem áreas de nascentes de rios; atingem, acidentalmente, ou até de propósito, áreas de preservação permanente e destroem florestas inteiras.

Provocam danos para a população, seja poluindo o ar que respiramos, seja causando-nos ou agravando-nos doenças respiratórias, sujando nossas casas, causando-nos corte de fornecimento de energia elétrica ou impedindo-nos a visibilidade em estradas e provocando acidentes.

E então, meu caro leitor - não acha que precisamos acordar a população rioclarense para que saia dessa passividade secular e acione os seus representantes na Câmara Municipal para que algo seja feito a respeito disso? Cidades vizinhas como Piracicaba e Limeira, e outras como Araraquara e Ribeirão Preto já estão se movimentando nesse sentido.

É mais do que tempo desse povo acordar o "leão adormecido" que figura no brasão da cidade. Fazê-lo se levantar. Dizer não para aquilo que o atinge diretamente. Saiba que governante algum tem o poder de autorizar a degradação do meio ambiente em que todos nós vivemos, nem de comprometer a qualidade de vida de todos nós. Tem é que somar esforços para combater os abusos e não pensar no próprio bolso como a maioria de nossos representantes o faz.
História, Geografia e Meio Ambiente por Augusto Jeronimo Martini



Hoje o dia amanheceu lindo em Tatuí. Um sol bonito e radiante  iluminava os telhados cheios de cinzas.Enquanto o povo  dormia esperando a segunda feira de trabalho começar,elas caiam silenciosamente, preenchendo devagar e constantemente todas as frestas e canaletas.No mundo atual, temos três forças atuantes.

O governo, os empresários e o povo.Este terceiro nem sempre leva vantagem, é desorganizado e incoerente.Aliás, é o mais explorado.Foram proibidas as queimadas de cana.Mas somente de dia.A noite pode-se botar fogo a vontade em tudo que está seco.

Governo e empresários, muitas vezes parecem sócios ou no mínimo existe um relacionamento de colaboração e amizade entre eles.Em  acordos suspeitos,um favorece outro e vice versa.O empresário doa para a campanha do candidato. Se este for eleito, dará o dinheiro de volta com juros  nas obras sem licitação.

No problema da cinza,  certamente deve haver um acordo desse tipo.Por que não proíbem de vez esse atentado a boa qualidade do ar e consequentemente a saúde pública? Restringindo o horário, nada é mudado.Entende-se que para fazer queimada, não tem hora boa ou ruim.Por outro lado do problema, a SABESP agradece o lucro, no aumento de consumo de água.

  As donas de casa são obrigadas a lavar os quintais logo de manhã.Isso é um absurdo, em época que são incentivadas a economizar água por conta da estiagem.Se aqui temos  problema, imagino então nas cidades que ficam dentro da zona canavieira como Piracicaba ou Ribeirão Preto.O povo brasileiro tem de deixar de alienação e aprender a votar certo nas eleições.

Os partidos majoritários não merecem nosso voto.Está provado que são duas quadrilhas  que disputam o poder.Leia os jornais, fique bem informado e vote bem.Enquanto isso,as cinzas continuarão caindo,se não forem eleitos gente honesta e com propósitos sérios.

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