Estradas para os ricos


10 de maio de 2011
Transparência SP: Quatro Rodas diz que pedágios paulistas estão entre os mais caros do mundo
Paulistas pagam em média 16 reais por 100km, o mesmo valor que na França, Noruega e Portugal, e bem superior aos valores nos EUA, no Chile e na Argentina.
Do www.viomundo.com.br
do Transparência São Paulo

As revistas do grupo Abril, assim como grande parte da mídia, fogem o quanto podem da questão, mas pressionados por seus leitores, a revista Quatro Rodas teve que fazer uma matéria ampla – O preço do quilômetro –  sobre o alto preço dos pedágios, sobretudo nas rodovias paulistas. É claro que a reportagem busca despolitizar a questão, mas acaba apontando as questões principais.


As empresas concessionárias das rodovias paulistas faturam bilhões por ano e investem cada vez menos em razão do modelo de concessão aplicado, que garante taxas de lucro (retorno) astronômicas (18% ao ano) e não exigem contrapartidas em investimentos. O índice de correção dos contratos (IGP-DI) também é apontado como fator importante para o aumento abusivo dos preços dos pedágios.

A reportagem[está abaixo] só não diz que os contratos de concessão das rodovias paulistas foram renovados pelo governo do Estado em 2006, sem que estas distorções fossem corrigidas. Os grifos em negrito são nossos, do Transparência São Paulo.

O PREÇO DO QUILÔMETRO

por Maria Paola de Salvo e Sara Duarte Feijó, da revista Quatro Rodas


Na próxima vez que o gerente do banco o orientar a investir em ações da Petrobrás ou da CSN, proponha a ele uma aposta na cartela de concessao de rodovias. Em Janeiro de 2002, a CCR, maior empresa do ramo em receita, abriu seu capital na Bolsa de Valores de Sao Paulo.


 Naquela época, se alguem gastasse 450 reais na compra de um lote de 100 ações, poderia ter resgatado, em 12 de abril, 4.705 reais. Os papeis da empresa se valorizaram 945% nesses nove anos, o dobro da media de rendimento das 66 ações mais negociadas na Bovespa no mesmo período. 

Desde o inicio de suas operações na bolsa, as empresas OHL e Ecorodovias também tiveram desempenho invejável. Os papeis das administradoras dos pedágios brasileiros já são os queridinhos de analistas de corretoras do mercado financeiro. A explicação está na boa rentabilidade do setor.



Segundo levantamento feito pela Austin Rating para QUATRO RODAS com as 15 principais concessionárias brasileiras, o ramo e o quarto mais rentável do país. Perde apenas para empresas de cartão de crédito, bebidas, cigarro e mineração, mas está a frente dos setores de calçados, indústria e até dos bancos.


 A Ecorodovias, que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes, em São Paulo, ocupa o 16° lugar no ranking de rentabilidade composto por 330 empresas brasileiras e é duas vezes mais lucrativa que o Bradesco e o Banco do Brasil, que renderam, respectivamente, 20,9% e 23,3% em 2010. E ainda há muito espaço para crescer.

 Os 15.000 km de rodovias pedagiadas, 33% deles concentrados no estado de São Paulo, representam apenas 7% da malha viária brasileira. Segundo especialistas, e possível chegar a 15%.



É claro que os bons ventos da economia brasileira, que cresceu 7,5% em 2010, ajudam a explicar tamanho retorno financeiro. “Por causa desse aquecimento, as viagens e o escoamento de mercadorias aumentaram”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.


 Em 2010,1,4 bilhão de veículos passaram pelas praças das quatro maiores concessionárias do Brasil – Ecodorovias, CCR, OHL eTPI.Trata-se de um aumento médio de 28% em relação a 2009.


Mas só o aquecimento econômico não explica o apetite dos pedágios. “Quando há lucro excessivo, duas coisas podem estar ocorrendo: sobrevalorização do preço ou falta de investimentos”, diz Paulo Resende, coordenador do departamento de Infraestrutura e Logistica da Fundação Dom Cabral. A resposta está nos balancetes das quatro maiores empresas do ramo.


Responsáveis pela metade das 54 concessões no Brasil, Ecodorovias, CCR, OHL e TPI faturaram juntas 8,6 bilhões de reais em 2010. O montante arrecadado nas praças é 22% maior que em 2009. Apesar disso, no último ano, elas investiram 16% menos em melhorias nas rodovias sob sua administração.


 “Ter uma concessão é o melhor negócio do mundo”, diz o economista Carlos Campos, coordenador de Infraestrutura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O principal risco que essas empresas correm é a variação do fluxo de veículos, que só tende a aumentar no futuro.”



Em 2007, Campos analisou os contratos de concessões de rodovias estaduais e federais, firmados na década de 90, e notou que boa parte dos investimentos na infraestrutura das estradas é feita nos primeiros anos do acordo, principalmente nos seis meses iniciais.


 “As empresas são obrigadas a deixar as rodovias em boas condições antes da abertura das praças”, afirma. “Depois que o pesado já foi feito, os gastos tendem a diminuir, mas a partir dai a arrecadação e a rentabilidade só aumentam.” 

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) diz que as empresas já investiram 22,5 bilhões de reais em melhorias de 1995, inicio das concessões, até 2010. E admite que uma das características do setor é fazer a maior parte dos investimentos nos primeiros anos de contrato.



É o que acontece agora com a Ecopistas, concessionária do Sistema Ayrton Senna/Carvalho Pinto, em São Paulo, que passou a administração da Ecorodovias em 2008. Para melhorar a rodovia, a empresa teve de aplicar mais dinheiro em recuperação do pavimento e na ampliação da Marginal Tietê, que dá acesso a estrada.


 Resultado: os investimentos mais que dobraram. Já com a Autovias, conjunto de rodovias do nordeste de São Paulo, controlada pela OHL desde 1998, ocorre o inverso. O montante reaplicado na estrada no ano passado foi 24% menor que em 2009.



Outras 11 concessões, das 22 analisadas pela reportagem, tiveram alta de faturamento e queda de investimentos em melhorias. Não por acaso, nesse grupo estão as rodovias paulistas com contratos mais antigos, firmados no fim da década de 90. É o caso da Ecovias dos Imigrantes, que cobra 33 centavos por quilômetro percorrido, a maior taxa do país.


 A concessão arrecadou 635 milhões de reais no ano passado, mas aplicou 52,2 milhões de reais na estrada, 14 milhões a menos que em 2009. De acordo com a empresa, isso ocorre porque os investimentos mais pesados já foram feitos em 2002, quando a segunda pista da Imigrantes foi inaugurada.


A Autoban, que administra os 316 km do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, em São Paulo, foi a concessao que mais faturou no Brasil em 2010 – 1,3 bilhão de reais -, mas aplicou em suas bem pavimentadas rodovias

Veja mais:
http://www.dgabc.com.br/News/5818683/pedagio-e-mais-caro-que-combustivel.aspx

http://www.ofimdosilencio.com.br/a-luta-contra-o-pedagio-em-indaiatuba-continua/

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