Os ratos de Brasília


                             Ratos de Brasília

da : http://www.folhabv.com.br/Noticia_Impressa.php?id=81291

Walber Aguiar *
 
Era noite. Hora de descansar. Momento de sair à procura de alguma coisa que alguém esqueceu num canto qualquer. Descanso para uns, trabalho para outros. Barriga cheia e estômago vazio disputavam restos de comida e de decisões a serem tomadas.

Estava escuro quando os bichinhos saíram da toca. O Juscelinus candango procurou resíduos e farelos pelo chão. Ficou escondido durante o dia pelo medo da luz, pelo pavor de ser descoberto e exposto à multidão.

 O rato candango adorava pegar o que sobrava. Mesmo sem usar gravata os roedores se alimentavam do suor alheio, daqueles que “matam um leäo” para sobreviver, que jogam as migalhas displicentemente. 

Quando as trevas se abateram sobre o concreto frio dos edifícios, eles se reuniram nos porões de suas assembléias e deliberaram sobre quem iria pegar o pedaço maior, comer a maior fatia e quem se deliciaria com o menor fragmento.

 Os mais jovens contentavam-se com os fragmentos menores, mais fáceis de pagar. Já os veteranos, em decisão diária (muitos faltam) teciam planos maiores e mais bem elaborados.

Também na cúpula das estruturas subterrâneas os ratos traçavam estratégias maquiavélicas, no caso de serem apanhados com a “boca na botija”. Quem vai sair primeiro, que vai liderar o movimento, quem vai usar de maior esperteza. 

Nada de muita luz, tudo tinha que ser perfeitamente camuflado, escuso, dissimulado. Afinal de contas, nenhum dos ratos queria ser esmagado pelo peso do clarão e da responsabilidade.

Os ratos de Brasília ficaram famosos. Famosos pela dissimulação, pelos desvios, pela corrupção, pela soberba.Uns tinham bigode, outros comiam dinheiro público. 

Eles só não podiam ir para muito longe do buraco, sob pena de serem descobertos e destruídos. Ficam ali na esplanada dos ministérios e são mestres na arte de se esconder repentinamente.

Os ratos mais velhos,  mais experientes, sempre arranjavam um roedor mais novo para ser o “rato expiatório”, aquele que se sacrificaria para que os outros pudessem sobreviver. No entanto, depois de repartido o bolo, todos se saciaram e caíram na farra. Foi pedaço de pizza pra todo lado.

Era noite. Alguns ratos permaneciam limpos enquanto outros chafurdavam-se entre o poder do lixo e o lixo do poder...
   
* Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras   wd.aguiar@gmail.com

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