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Ajudei-o
a levantar e vendo que ele não acreditava no que eu dizia comecei
levá-lo em direção ao ponto de embarque. Ia conversando com ele,
tentando descobrir o que houve que o deixou em estado de amnésia.
Felizmente ele não estava me conhecendo, o que tornavam as coisas
mais fáceis. Ao passar pelo local onde o cão me atacou, não o
encontrei como esperava, cheio de moscas o rodeando. Alguém removera
a carcaça. Ou sumiu do nada,assim como apareceu. Nem sangue tinha no
lugar, denunciando a morte.
----Afinal
quem é você?Eu o conheço?---Perguntou ele, caminhando lentamente
ao meu lado, enquanto passávamos em frente às casas. Senti
novamente olhares ocultos nas sombras, a nos espreitarem. Olhares que
me incomodavam. Poderia surgir outro ataque a qualquer momento. Já
tinha visto lugares perigosos e de gente esquisita, mas igual aquele
ainda não.
----Eu
sou um velho conhecido. ----Respondi com sinceridade.
----É
meu amigo?
----Nem
tanto, mas estou me esforçando. ----O cheiro suave das flores se
tornou mais presente. Procurei desviar o assunto para não
assustá-lo. Quando chegamos ao local o sol estava a pique e devia
ser mais de meio dia. Quando mandei voltar a cama, ele estranhou o
objeto familiar no meio do campo e qualquer coisa o fez ficar
afastado dela.
Tentei
convencê-lo a sentar-se no móvel. Olhando para o lado da vila
,percebi um movimento estranho vindo para o nosso lado. Era uma nuvem
negra rasteira, silenciosa e rápida. Continuei tentando fazer
Aristides subir na cama. Mais perto, dando para distinguir detalhes,
a massa negra se transformou em cães. Dezenas deles, todos iguais,
silenciosos e enormes. Mostrei a ele o perigo e quando olhou, me
atraquei com o individuo e juntos caímos na cama. Mais rápido ainda
acionei o controle. Os primeiros cães já estavam a dez metros de
distância. Se fosse atirar neles, acabaria a munição e sobraria
muitos para dar cabo da gente. Fomos em segundos para nosso tempo. Eu
já estava enjoado daquele lugar e já tinha certeza que os malditos
cães iriam estragar o plano de trazê-lo de volta, se eu não fosse
rápido. Quando me senti em casa um alivio me envolveu,
principalmente ao ver Eliza vindo ao meu encontro, com cara de
preocupada. Estava tudo bem, principalmente comigo .A maldita
consciência me deixava em paz. Eu e Eliza discutimos por alguns
momentos a forma de despacharmos Aristides. Ele esperava, sentado no
sofá da sala, tomando um chá que a moça tinha preparado. Não
conversava , mas mantinha uma calma, como se estivesse com um retardo
mental. Resolvemos que ela o levaria até determinado ponto, longe
dali, e acionaria a policia para vir pega-lo. E assim foi feito.
Segurando-o pelo braço, como se fosse uma parenta, deixou-o sentado
em um ponto de ônibus a cinco quarteirões de casa. Depois ligou
para os homens. Antes que eles chegassem, ela o aconselhou a ficar
esperando ali, que logo os familiares dele viriam buscá-lo. Tomou um
taxi de volta. A partir dali começaríamos uma nova fase de vida.
Eu
me sentia leve como uma pluma. Descobri que a felicidade está na paz
de espírito. Outro dia saiu a noticia que tinham encontrado o
executivo, sequestrado ha uma semana. Ficaram na duvida se era mesmo
sequestro ou seria apenas uma perda de memória que acometeu a
vítima. No mais estava tudo bem, e ele se recuperava no seio da
família. Começamos a analisar o que seria se a memória de
Aristides voltasse e ele se lembrasse de tudo que tinha ocorrido.
Poderia nos denunciar e dai estaríamos em maus lençóis. Resolvemos
que eu deveria me mudar. Eliza ofereceu sua casa, e eu achei um bom
plano. Rapidamente fizemos a mudança e lá foi à cama também. A
moça não olhava o móvel com bons olhos e não queria mais dormir
nele. Eu também não dormia mais no móvel. Tinha os meus receios.
Foi colocado em um pequeno quarto nos fundos. Era dali que seria o
novo ponto de partida para outros tempos.
Continuamos
nossas vidas, mas na expectativa de algum dia o homem resolver contar
a verdade. Eu, particularmente achava que isso não ocorreria pelo
medo de represálias de nossa parte.
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Certo
domingo antes do almoço, enquanto lavava alface para uma salada,
Eliza conversava comigo. Eu, sentado a mesa da cozinha olhava um
jornal sem interesse e de vez em quando, apreciava os movimentos dela
a frente da pia. Dava-me bem com ela... Isso era muito bom.
----Você
já pensou alguma vez na possibilidade de ficar rico com essa
cama?----Disse, mudando de assunto naturalmente sem alterar o
timbre. Ela tinha uma facilidade impressionante para isso.
----Já
pensei sim. Mas não tive coragem de levar avante algum plano.
----É
mesmo? E o que você planejou?----disse, pegando um limão.
----Entrar
num banco, por exemplo, dentro do cofre.
----E
haveria essa possibilidade?Perguntou interessada.
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