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O
assunto era emocionante. Despertou em mim a ideia de ela me ajudar a
fazer um plano melhor que os meus.
----Já
pensei bastante nas possibilidades e cheguei a algumas conclusões.
Primeiro temos que descartar a possibilidade de dinheiro, em vista
que em nosso país, a moeda muda mais que as condições do tempo. Se
pegarmos uma grana de trinta anos atrás, hoje nada vale. Imagine
então de cem anos atrás. Se a gente estivesse nos States, por
exemplo , a realidade seria outra. Lá o dólar de cem anos atras,
vale praticamente o de hoje e são as mesmas notas e moedas
praticamente. Então a gente tem que pensar somente em ouro. O ouro é
eterno em seu valor e em qualquer lugar do mundo.
----Você
tem toda razão. Nosso dinheiro e bem fajutinho. A história nos
conta isso. Imagine pegar um pacote de notas de réis e mostrar agora
para o gerente do banco. Irá rir em nossa cara e nos aconselhar a
procurar um colecionador de dinheiro antigo. Por isso que é bom a
gente valorizar o passado. Ele nos ensina muita coisa. Se a gente
vivesse em um país do primeiro mundo, daí era outra conversa.
----É
verdade. Então temos que dançar conforme o ritmo.
----E
o que você acha que devemos fazer?----Perguntou ela enquanto
colocava a salada pronta na mesa.
----Temos
que fazer uma grande pesquisa. Me de uma ideia: Você acha que
podemos descobrir um banco neste local, em determinada época?
----Pode
ser... E também há a possibilidade do nunca.
----É
verdade... Mas o jeito mais prático é viajarmos em determinadas
épocas e verificarmos. Digamos assim, cada trinta anos. É um bom
tempo, em que as coisas podem mudar.
Durante
o almoço, continuamos com o assunto. Eliza estava interessadíssima.
Fizemos um plano de voltarmos ao passado, trinta anos. Conforme o
local, sairíamos para verificar nos arredores. Mas primeiramente
tínhamos que verificar somente o lugar onde estávamos. Depois, na
impossibilidade de alguma coisa, faríamos outros planos. Passamos a
estudar o assunto quase que todo dia. À noite sentávamos a mesa da
cozinha e esta se transformava em mesa de estudo, cheia de papeis,
desenhos e jornais antigos que Eliza arranjava não sei onde. Como
secretária ela era eficiente e cuidadosa.
Chegou a hora que tivemos que usar a cama. Era um domingo preguiçoso e tiramos à tarde para fazermos nossas pesquisas. Nos primeiros trinta anos atrás, aparecemos em uma casa de família, bem no meio do quarto. A cama do tempo ficou atravessada em cima de outra. Era a mesma construção dos dias atuais. Estávamos em um quarto simples com alguns moveis como guarda roupa e penteadeira, além da cama embaixo da nossa. Foi coisa de um minuto, para verificar o ambiente e sairmos dali. Elisa a principio tinha medo da cama, mas depois de algum tempo a sua ambição falou mais alto. Saía comigo em todas as empreitadas. Em outra investida, sessenta anos atrás, caímos em um terreno baldio, com capim alto. Nada havia ali que pudesse ser avaliado. Havia a possibilidade de em anos mais atrás nada ter por ali também. Mesmo assim fomos para noventa anos atrás. Agora, não só o local estava vazio como toda a área em redor. Nos cento e vinte anos então, era tudo mato. Resolvemos então voltar nos sessenta anos. Saímos do capinzal para verificar os arredores. Olhares curiosos de transeuntes nos fixavam com cara de riso. Certamente estavam pensando que eu e a moça estávamos ali no capinzal fazendo alguma sacanagem. Agimos com indiferença e perguntamos a um grupo de mocinhas que passava pelo local, onde tinha um banco.
----E
logo ali na próxima esquina. ---Respondeu uma mais desinibida. De
fato, na próxima esquina tinha um banco.
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