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Embora
um pouco amofinados com a situação, Eliza me convenceu que nada
havia perdido e embora não fosse o que esperávamos, ainda tínhamos
em mãos algo valioso.
----Não
da para adquirir nada respeitável. ----Redargui. ----Talvez uma
casinha pequena em um bairro pobre.
----E
se a gente rastreasse os anos atrás, quem sabe encontraríamos o
resto? ----Perguntou ela.
----É
um negócio muito complicado... Veja bem. ----Eu disse, pegando uma
caneta e fazendo uma conta. ---São 21900 dias. O trabalho seria tão
grande que não valeria à pena. Por outro lado, as pessoas sempre
estão em movimento. Um minuto depois, pode alguém ter pegado e
deslocado os objetos do lugar, para outra parte da casa. Daí já não
encontraria de forma alguma. Por fim decidimos que o bom seria
ficarmos quietos e administrar o ouro da melhor forma possível.
Joice voltou na data combinada e nos abraçou efusivamente no re-
encontro.
Sua
mãe estava passando melhor e ela estava feliz em poder voltar para a
rotina de sua vida. Vendo a amizade das moças, deixei de lado um
pouco minhas eternas desconfianças e entrei na graça das duas.
Certo dia, estando os três confabulando na sala da Joice, ela nos
contou algo que deixou eu e Eliza, intrigados. Contou ela que sempre
morou naquele lugar. Eliza jogou disfarçadamente um olhar para o meu
lado, como se advertindo para o que viesse.
----Desde
criança?----Perguntei interessado.
----Sim...
Até os vinte anos, tinha minha mãe comigo. Depois ela teve que se
mudar para outra cidade, para atender meu irmão que lá estudava.
Acabou se envolvendo com um velho e ficando por lá.
----Sim,
eu sempre fui muito independente... Agora vou contar uma coisa...
Que somente a vocês eu conto... A minha vida deu uma guinada para
melhor, quando encontrei, em uma madrugada ao chegar de uma festa,
uma barra de ouro bem ali perto da parede do depósito. Esperei um
tempo para ver se alguém reclamava e depois reformei tudo e montei
esta loja. Antes no lugar eu tinha um salão de beleza, que não ia
para frente e nem para traz. ----Eliza não conseguia conter a
expressão estupefata e me olhava com insistência.
----Você
achou somente uma barra?----Perguntou Eliza, pegando no braço da
outra, demonstrando grande curiosidade.
----Somente
uma. ----Por quê?
----É
que falando de ouro, minha filha... Quanto mais, melhor.
----É
verdade. ---- Acudi, tentando não levar o assunto para a
desconfiança. À noite em nossas conversas de cama, tentávamos
desvendar o mistério do ouro perdido. Tinha uma teoria que, as
jóias e a primeira barra, teriam caído tempos mais remotos e a
ultima barra caída, foi ao chegarmos, que no tempo deu uma dezena de
anos.
Eliza tinha vontade de contar a amiga todo o segredo, mas eu a desanimava, dizendo que duas cabeças guardam mal um segredo e três cabeças mal guardam segredos. Poderíamos ser expostos de uma forma ruim. O bom seria deixar como estava e tocar a vida como ela se apresentava. A moça concordou.
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