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Começamos
a fazer um novo planejamento para outro banco, talvez até em outra
cidade. Levaríamos a cama até lá se fosse preciso. Eliza
trabalhava com dedicação no projeto. Descobrimos um enorme banco em
uma grande cidade, que prometia grande resultado. Até ali já
sabíamos que em banco pequeno não tinha ouro. E se tivesse seria
pouca coisa. Estávamos com o estudo quase completo, quando uma
noite,Eliza me acordou agarrada em meu pescoço, dizendo que tinha
ouvido um barulho. Fiquei esperto e de fato ouvi ruídos na cozinha.
Levantei-me cautelosamente, supondo que ladrão sempre anda armado.
Não queria levar um tiro de bobeira. Encostado a parede, medindo os
passos, fui devagar até a cozinha. Nada encontrei de suspeito.
Voltei para cama, supondo que fosse algum rato que entrou na casa,
considerando que ratos fazem barulhos estranhos à noite. Na próxima
noite tive um sonho estranho, daqueles que misturam ruídos reais com
os devaneios. Acabei acordando e fiquei alguns minutos tenso,
vivendo ainda o clima pesado e nebuloso. Resolvi levantar e ir até a
cozinha tomar um pouco de água. O quartinho do fundo onde era usado
para despensa e onde estava a cama, ficava no fim de um corredor,
saindo da cozinha. No meio a penumbra do alvorecer, se destacava uma
luz vinda dele, filtrada por baixo da porta. Fui ate lá pelo escuro,
com uma faca de cozinha na mão, supondo ser um ladrão da
madrugada. Abri a porta rapidamente, como fazem os policiais nos
filmes, para pegar de surpresa o gatuno.
A cama estava totalmente
visível, com um brilho azulado, parecendo propaganda de neon.
Figuras opacas a circundavam. Era gente baixa e de cabeça grande.
Imaginei que não seriam eficientes em uma briga. Quando me viram,
um deles apontou alguma coisa para o meu lado. Senti a ideia sumir.
Quando voltei da sincope, estava deitado com o rosto no chão,
respirando o piso empoeirado. Levantei devagar e quando tomei
consciência do que tinha acontecido dei pela falta da cama. Eles a
tinham levado. Em minha cabeça já esperava por isso há muito. Nada
neste mundo é de graça. E se um móvel mágico aparece em sua vida,
fique esperto que ele tem dono e um dia virão pega-lo.Então
tinha chegado à hora, justamente quando mais iríamos precisar dela.
Voltando a deitar, não consegui mais dormir, pelo stress passado. O
dia já pintava de claridade os
vãos da cortina da janela. Eliza ressonava suavemente, aludindo uma
tranquila paz. Fiquei pensando em minha vida, como acontecia nela
coisas repentinas e desagradáveis. Dai somava tudo de bom e de ruim
e ao tirar a media, descobria que tinha mais coisa boa. Isso me
tirava o mau humor. Uma delas estava ao meu lado, dormindo como um
anjo. No café da manhã, contei a ela o que aconteceu. Ficou entre
surpresa e irritada e foi até o fundo conferir. Voltou com a cara
enfarruscada, vendo o plano se desfazer, como estátua de praia no
meio da chuva. Sentou-se a minha frente com desanimo e me olhou nos
olhos. Não sabia que era tão ligada a bens materiais. A prova
estava ali olhando em sua face transtornada.
----O
que faremos agora?
----Nada...
Não vamos tentar lutar com uma coisa que parece ser superior a nos.
Nem saberíamos por onde começar.
----Realmente...
Essa nos perdemos. Mas se descobrir um meio, vou até o fim ---Disse
ela parecendo não se conformar com a realidade.
----Mas
ainda tem um capitulo para encerrar a novela... ----Disse eu,
provocando nela uma cara de surpresa.
----O
que é? Sabe o meio de se chegar até eles?De reaver a cama?
----Talvez...
Embora desconfie que eles não se importem nem um pouquinho com a
gente. Mas ainda temos o controle. Conferi há pouco.
----É
mesmo? Então ainda temos alguma chance.
----Duvido...
Se quisessem dialogar não me teriam nocauteado. Mas de uma coisa,
tenho certeza... Eles irão voltar para pegar o controle.
----Já
pensou em acioná-lo para ver o que acontece?Quem sabe traz a cama de
volta?---Disse a moça com brilho nos olhos.
----Puxa
garota, confesso que ainda não tive essa ideia. Acho que fiquei meio
zonzo depois do desmaio.
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