Literatura-45.O tálamo

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Quando estava começando a dormir, ela me tocou e disse em um tom quase inaudível:--Eles estão nas proximidades. Vamos bem com jeito para baixo da cama. Procure não se mexer. ----Devagar escorregamos para baixo da cama, sentindo o cheiro de mofo. Aquilo devia estar bem sujo. Tinha que confiar nela e em seus instintos. Certamente os alienígenas estavam por perto. Ficamos ali encostados por aproximadamente meia hora, com as ripas do estrado apertando minhas costelas. Sentia a respiração dela em meu pescoço, e o seu suave perfume feminino abrandava o odor do velho colchão. Colchão que poderia ter uma coleção de histórias, com as centenas de personagens que usufruíram de sua maciez de plástico. Com tudo aquilo acontecendo, a moça parecia bem calma. Depois do suposto perigo passado, saímos novamente e subimos na cama. Ali era bem melhor. O ar parecia mais puro e o nível da vista mais confortável. Não gosto de olhar rente ao piso. Tenho a sensação de estar no nível dos répteis... Ser um deles.--Eles passaram a uns duzentos metros daqui. ----Confirmou ela. Eu não quis discutir como ela sabia daquilo e me calei, acreditando, já que o sono estava me deixando grogue. De manhã começamos a tomar as providências. Iríamos para uma cidade no mínimo a cem quilômetros dali. Era o conselho que Ísis me dava. Aluguei um caminhão baú dos grandes e começamos o trabalho, primeiro em casa onde os moveis eram maiores. Estávamos como nômades, sem ter um lugar definido para ir ou mesmo algum imóvel em vista de ser alugado. A mudança encheu dois terços do caminhão. Pelos meus cálculos, a lojinha caberia em outro terço. O dia estava bonito e ensolarado e o calor começava a aumentar com o passar das horas. No céu de azul enfumaçado algumas aves passavam a meia altura. As vezes ficava matutando do porque de ainda elas aparecerem por alí.Muitas aves são estúpidas. Valdívia arrumava as caixas de sapatos no baú enquanto eu e Ísis carregávamos os pacotes. Já era meio da tarde, tínhamos almoçado e estávamos descansando um pouco para depois rematarmos com o serviço.

 Eu estava sentado próximo ao banheiro, quando me lembrei da arma escondida. Fui até lá e peguei-a. Coloquei-a atrás na cintura e quando saia entrava dois elementos suspeitos. Ísis já adiantou e disse:--Estamos fechados, estamos fazendo uma mudança.Os rapazes pareceram não se intimidar e um puxou uma arma, encostou na boca da moça e disse :--O dinheiro pode deixar que a gente leva .----Eu com medo de fazer um movimento brusco para pegar a pistola e o individuo atirar na moça, fiquei paralisado um segundo, esperando uma reação dela que por certo viria. Em um movimento de relâmpago, ela pegou a arma junto com a mão do sujeito, fazendo um trajeto circular. Ouviu-se ossos estalando e o corpo do homem girando com as pernas para o ar e em seguida sendo atirado na parede como se fosse um ovo, deixando uma mancha vermelha na divisória. Outro, vendo o comparsa em tal situação virou para o lado da rua para iniciar uma fuga. Eu já estava com a pistola apontando para ele. Puxei o gatilho e o enorme rapaz desmoronou com metade do corpo no lado da rua. Ísis rapidamente acudiu e o puxou para dentro. Os dois estavam mortos. Ficamos olhando um para outro e ela rapidamente me disse a saída da encrenca.-- Se chamarmos a policia, vamos ter mais problemas que soluções. Temos que sumir com os corpos. Pelas leis do país, quando não há corpo não há crime. ---- Antes que eu abrisse a boca e emitisse alguma opinião, ela já estava arrastando com a maior facilidade os corpos para dentro do banheiro. Ficariam ali até decidirmos o que fazer. Valdívia no fundo do baú, nem percebeu o ocorrido, porque foi tudo tão rápido e preciso que não chamou atenção. O tiro poderia ser confundido com uma caixa que caiu da prateleira.

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