Conto : A viagem - Parte 2


A VIAGEM

Muitas vezes eu notava que a Eliza o maltratava. Mas ele numa infinita humildade, não a
respondia, ciente da necessidade de ter um lugar para terminar seu tempo. Eu sempre achava um espaço na parte da tarde, para chegar até lá. Minha mãe não se importava porque dava para me controlar, da sala onde costurava.

Das historias que me contava tem uma que nunca esqueci. E hoje tenho a convicção que as pessoas neste mundo sempre deixam uma impressão de sua vida. Fazendo qualquer coisa, em qualquer profissão e talvez mesmo, contando historias.Foi contando histórias que seu Diogenes deixou sua marca.

----Nos tempos que eu era moço, ----dizia ele ---- certa vez resolvi visitar minha irmã. Ela morava muito longe. Morava no vale do Ribeira, onde as estradas eram caminhos difíceis no meio da floresta. Por elas só passavam gente a cavalo, de carroças e raramente a pé. Andar a pé por aqueles lugares era muito perigoso. Para ir até o sitio onde minha irmã morava tinha que ir de ônibus até uma pequena cidade entre as montanhas e dali seguir por nossa conta.

Não existia condução para aqueles lados agrestes. Peguei na verdade três ônibus, de cidade em cidade, até chegar a ultima. Desci em um lugar estranho, onde parecia que gente de fora não era bem vindo. Levava comigo um saco de pano, onde tinha uma calça e duas camisas, uma caixa de fósforos, um pedaço de corda e um canivete Corneta, bem afiado.

Já era tarde e o sol se punha avermelhado por trás dos montes próximos. Ali a noite chegava rápido. Teria que me informar do rumo a ser tomado para ir até o sitio de minha irmã. Indicaram-me um armazém que ficava em uma ruazinha de barro. A pequena vila tinha no máximo cinco ruas. Uma principal, cortada por mais quatro em linhas tortas e fora do esquadro.

Alguns quarteirões eram pequenos demais e outros, grandes em demasia. Parece que as ruas foram feitas conforme os caminhos antigos, contornando barrancos e grandes pedras. Cheguei a tal venda que era nada mais que uma velha casa de tijolos aparentes com uma grande porta que seria o comercio propriamente dito. Ao lado tinha vários cavalos com suas rédeas enroscadas em uma cerca de lascas de Guarantã.

Quando cheguei todo mundo calou. Devia ter umas cinco pessoas no estabelecimento. Cumprimentei com jeito e falei ao homem que estava do lado de dentro do balcão verde, desbotado com o tempo. ----Queria o favor de uma informação. Eu pretendo ir até o sitio da Gorocaia e não sei o rumo.

Disseram-me que aqui alguém poderia informar. O comerciante com cara de lenhador apontou outro sentado em um barril. Este era um velho com cara de sábio e olhar esperto. Mais simpático que os outros me disse:- --- O Senhor pega a rua principal e vai à direção norte. Quando chegar ao fim dela tem um grande Ipê. Ali começam dois caminhos. O Senhor pega o da esquerda e vai em frente. Se o Senhor for amanhã cedo, vai andar o dia todo.

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