Escola da depravação




















Globo: a maior e mais copiada emissora do Brasil, cujo sucesso repercute
não só aqui, no Brasil, como também em diversos países do mundo, é
também a maior exportadora de novelas de que se tem conhecimento
e dona de uma das grades de programação menos variadas da televisão.

Além de um firme contrato com os produtores de A Lagoa Azul, a
emissora também tem as assinaturas dos autores novelescos mais
conceituados do cenário brasileiro, que escrevem e são responsáveis
pela nada modesta audiência que as outras emissoras tanto invejam:
os melodramas divididos em diversos núcleos mais conhecidos por
novelas.

Em sua longa trajetória, a Globo só vem investindo mais e mais em suas
prestigiadas produções nacionais-internacionais, propiciando assim
episódios com meio elenco em países de primeiro mundo, muitos carros
severamente amassados e uma cota impressionante de vasos de planta
destruídos… o que enche os olhos de muito brasileiro por aí e logra
formidáveis números de IBOPE.

Cada nova empreitada da emissora é notícia em todos os programas de
fofoca da rede nacional e um dos assuntos mais quentes em filas de
mercado, perdendo apenas, é claro, para o tempo.
Mas por que tanto alarde? Sob um olhar mais crítico e menos
popularizado, é fácil perceber que as novelas da Globo são uma bela
droga. As evidências estão lá seis dias por semana pra você ver… e
algumas delas em seis tópicos aqui mesmo.

Atores têm nome, mas e talento? Podem dizer o que quiser, mas os
atores da Globo não são aquele mito, não. Afinal, pra nós brasileiros,
ator bom é aquele que chora bastante. É por isso que a Fernanda
fez tanto sucesso quando a pobrezinha da Nanda ainda era viva e
que agora a Marjorie Estiano ganha capas de revista de fofocas.

Porque elas choram muito. Francamente, qualquer ator pode fazer
isso. A capacidade de chorar não é o que separa os bons atores dos
regulares. O ator bom é aquele que consegue te convencer de que
ele realmente é aquele personagem que interpreta, não importa
de que jeito.

No entanto, toda tentativa que os nossos atores fazem de deixar
um diálogo mais natural deixa-os incrivelmente forçados. Para
cada Lívia que discute com o marido e a amante dele ao mesmo
tempo, tem o psicólogo que parece que decorou um capítulo inteiro
de um dos livros de Freud e vai dizendo tudo sem qualquer pausa
ou hesitação para os pais da sua paciente.

Para cada cena imersiva da loucura de um homem numa cadeira
de rodas tem uma Helena conversando com o filho usando o
vocabulário mais formal possível. Outro dia mesmo eu assistia
Páginas da Vida quando entrou uma cena com a avó megera que,
para variar, ganha um sermão do marido paspalho.

Quando ele diz que ela não conviveu com a filha direito, Marta
replica que teve, sim, bons momentos com a filha e narra um dia
em que juntas elas foram à uma cafeteria e deram boas risadas.
Enquanto ela conta os detalhes, Alex e Sérgio ouvem calados… Só
que ambos adotam uma expressão que eu, sinceramente, não
entendi se era de desgosto pela história da mulher ou se era de
comoção pela lembrança da Nanda! A cara que o Alex fazia parecia
de nojo, mas, como eu descobri quando terminou o diálogo da
mulher, ele queria convencer de que estava refreando o pranto.

Obviamente, não conseguiu. A Globo está infestada de rostinhos
bonitos (e outros nem tanto) que não passam disso. Como a Fantin
ganhou o papel principal de uma novela com aquela atuação
risível? E o que dizer de Thiago Fragoso em O Profeta?
Francamente!…Os roteiros formulaicos.

Para a novelinha das 5, jogue na história um par romântico que é
separado tão rápido quanto se junta, coloque pessoas mal
intencionadas impedindo o amor deles com mentiras (na qual o
casal irá invariavelmente cair), alguns personagens “adolescentes”,
professores problemáticos, crie umas gírias idiotas e pronto – eis
a nova temporada de Malhação.

Para a novela das 8, pense em dois ou três assuntos polêmicos e
os distribua pelos núcleos. A menina com leucemia, a garota com
bulimia, o rapaz homossexual ou a mulher fina cleptomaníaca.
Você já conseguiu inúmeras matérias sobre a sua novela.

Agora coloque no elenco alguns sorrisos bonitos e conhecidos,
um par de atores totalmente inexperientes, outros que de tão
experientes já estão desmotivados e/ou enferrujados, crie um
personagem que tenha motivos de sobra para chorar todo capítulo,
capriche nas maldades dos vilões e não se esqueça dos clichês –
apesar de batidos (claro) eles sempre dão certo. Lá se vão
páginas e mais páginas de revistas especializadas.

Crie um grande mistério para ser desenvolvido durante toda a
novela do tipo ‘Quem matou o grande empresário?’, ‘Quem é o
filho bastardo?’, ‘Quem armou pra cima do mocinho?’, ‘Quem
arquitetou a separação do casal feliz?’, e aí, para escrever o
último capítulo, pegue a Minhas novelas, veja quem todo mundo
acha que é o responsável e coloque a culpa no personagem que
nem foi citado.

Eis o final perfeito e imprevisível para a sua novela que vai para
sempre ser lembrada!A trilha sonora imutável.Qual é o nome da
música da Nanda mesmo? Ah, esqueça - esse não é o ponto. O
problema é que todo personagem tem uma música tema e ela
toca todo santo dia, várias vezes por bloco! Embora eu ame
música instrumental, eu simplesmente não agüento mais quando
vejo o olho de peixe morto do Luciano e aquela música de piano
toca, começando pelo mesmo trecho de sempre. Geralmente eu
tiro o som da tevê e fico esperando pular para o outro núcleo.

A Globo tem que aprender que as músicas, por mais que sejam boas,
enjoam. Quanto mais você ouve, mais você vai perdendo o interesse.
E aí chega uma hora que fica insuportável. Quantas pessoas amavam
“Tô nem aí” (é, tem gosto pra tudo) e depois de um tempo
começaram a ter convulsões ao sequer ouvir a introdução da música?

Além de evitar enjôos, a Globo podia muito bem promover novas
bandas colocando as músicas delas para tocar enquanto a mulher se
acaba de chorar ou se descabela. Mas não! Eles preferem colocar a
mesma coisa para tocar sempre que o personagem “daquela música”
aparece! As propagandas artificiais.

Os diretores brasileiros simplesmente não sabem fazer propaganda
dos seus patrocinadores sem deixar a coisa forçada. Quantas pessoas
no mundo vão chegar em casa com uma sacola da Claro, deixá-la
sobre um assento do sofá, sentar-se ao lado dela e dizer para as
paredes as vantagens que a operadora trouxe? Quantas
revendedoras da AVON dão um sorrisinho de propaganda de creme
dental para o cliente enquanto erguem um produto com as duas
mãos e articuladamente dizem o quanto ele faz bem para a pele? Tá,
não é tão forçado assim… mas não está muito longe.

Eles não sabem deixar um logotipo em segundo plano, pois acham
que se for assim a gente nem vai percebê-los lá. Mas é exatamente
o contrário. Em filmes americanos (que sabem fazer propagandas
sutis), quando você detecta o símbolo da Pepsi lá atrás, no balcão,
você aponta e diz: “Olha que legal, tão fazendo propaganda da
Pepsi!”.

Agora, quando por motivo nenhum a câmera brasileira adota uma
perspectiva que coloca a mesa na frente dos personagens, fazendo
a sacola da Renner encima dela até obstruir a cena, você diz “Será
que eles não sabem fazer propaganda? Mas que saco!”. Mas a sacola
da Renner corre o risco até de aparecer de novo…

O fator mercenariedade.
Os autores podem até ter uma idéia concreta para a novela toda –
sabem como vai começar, o que vai acontecer no desenrolar e como
as coisas vão se organizar para o grand finale -, mas aí a novela vira
um verdadeiro sucesso e a Globo concede à ela mais três meses de
exibição. Aí o autor espreme o cérebro para arranjar algo para fazer
com os personagens e aumentar a longevidade de sua trama…
e é aí que mora o perigo.

Dependendo do autor, ele pode vir com algo realmente interessante,
que muda muita coisa em todos os núcleos e dá um novo fôlego para
a novela, encaixando-se muito bem no plano original e ao mesmo
tempo deixando tudo sob controle. Mas existem os autores sem
criatividade (ou uma que desaparece sob pressão), que fazem de
um tudo com os personagens para preencher capítulos, sem se
importar muito com o resto.

É por isso que tem tanta novela que começa bem e lá pelas tantas
sofre uma decaída tão grande que fica inassistível de tão absurda
que se torna. Cobras e Lagartos, por exemplo, foi um verdadeiro
sucesso quando começou, e eu acompanhei porque realmente gostei
dela. Mas aí a novela foi ficando cada vez mais longa e tão idiota que
eu parei de assistir.

Tenho certeza absoluta que a Globo, vendo tal sucesso, deu meses
extras para a novela e o autor ficou sem idéias para continuar a
trama… a solução que ele viu foi fazer coisas como a Luxus
ridiculamente passando de mão em mão, Leona ficando louca,
Foguinho virando o vilão, o Daniel tornando-se materialista e outras
tantas frivolidades que vimos. A Globo é mercenária, e isso acaba
com o potencial de muita novela. O que é uma pena.

http://frenosfera.com/2006/12/10/por-que-as-novelas-da-globo-sao-uma-droga/
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Eu deixei de ver novela ha muito tempo, quando o Tarcisio Meira era ainda mais
canastrão que hoje.Isso foi por volta de 1971, quando da exibição de "Os irmãos
coragem". De coragem eles nada tinham e tudo ficava nas bravatas e bufos dos
canastras. Desde então passei a me considerar uma pessoa mais inteligente em
não aceitar em perder tempo com esse tipo de teatro de bobos. Novelas são as
açougueiras da arte.

Percebi logo que tudo era copiado de um só esquema e até as musicas eram
ressusitadas das antiguidades ( porque os direitos são mais baratos) e copiadas
por uma fajuta empresa sem qualidade alguma. Depois disso era vendida para
os milhares de trouxas que ficavam hipnotisados frente a telinha no horário nobre.

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