Urna maluca
Fui votar na hora do almoço, na esperança de ser algo rápido e indolor.Mas logo que estava me aproximando do prédio onde acontecia a votação, notei que o volume de pessoas aumentava.Nas escadas de acesso ao prédio, tive que subir devagar e desviando de pessoas que vinham em sentido contrário.
Era um fluxo permanente de entra e sai.Os que entravam procuravam informações da localização de suas salas.Os que saiam atrapalhavam os que entravam.A sala onde eu deveria votar,ficava no andar superior, conforme um cartaz rabiscado de qualquer jeito, anunciava.
Tinha dois lances de escada.Um a esquerda e outro a direita.Lembrei que nos anos sessenta subi muitas vezes aquelas escadas com minhas jovens pernas, para ter aulas de desenho técnico.Andando devagar e esbarrando sem querer nas pessoas, tomei o rumo da direita.Ao pé da escada, começando a penosa escalada, um homem segurava uma velhinha pelo braço, puxando-a degrau por degrau para cima.
Me postei atrás, já ciente que ia demorar um pouco. Afinal para que pressa, se nada ia fazer durante o dia, a não ser esperar as dezessete horas para começar a ver o desfecho da contagem de votos.Nem podia ultrapassar a velha e seu reboque, por que embora a escada fosse larga, tinha o povo que descia por ela em pacotes descontínuos.Chegando ao piso superior, já me senti um vencedor.
Agora era localizar a sala onde votaria.Por sorte ela era a segunda a minha frente. No largo corredor as filas serpenteavam como réptil gordo e vagaroso.Muitas se misturavam e somente as pessoas que nela estavam, sabiam onde era seu começo e fim.Na minha fila tinha por volta de quinze pessoas.Entrei atrás de uma mulher morena de olhos verdes com seus trinta e cinco anos e confirmei com ela se ali era o fim.
Na porta da sala um outro cartazinho indicava o numero 71.Era ali mesmo.Logo atrás de mim entrou um senhor aparentando ser mais velho que eu.Puxei assunto para a espera não ser tediosa.Enquanto a gente conversava, percebi que nada menos que três pessoas arranjaram para cortar a fila, com a bênção do rapaz que ficava a porta controlando a entrada.O povo é malandro.
As vezes inventam males para não ficarem esperando.A velhinha da escada ja estava de volta com o seu apoio medindo passo por passo.Ja tinha votado.Quando chegou a vez da morena da frente votar o velho que estava a frente dela enroscou-se na urna eletrônica.
Comentários na surdina surgiram e risinhos de gozação se espalhou nas caras dos presentes.O velho chamou o mesário.
Este foi até certa distancia, tendo o cuidado de não se aproximar muito, como se na cabine tivesse uma cobra peçonhenta pronta a dar o bote.Deu instruções esparsas para o velho, que não se entendia com a urna.Para ele aquilo era coisa moderna do demônio.O demo estava tomando conta de tudo. Para votar , para telefonar e tirar a aposentadoria no banco.
Virou um mundo de números e teclas.Pelo menos no banco tinha uma moça disponível para ajudar.Era só digitar a senha.Agora ali, era ele e a fatídica urna.Esta parecia fazer varias caretas a ele, tentando impor um medo maior.Será que até ali o Lula influenciava?Depois de longos quinze minutos a máquina resolveu dar o esperado apito de voto encerrado.
As pessoas olharam umas nas outras, com ar de: Até que enfim.Depois disso a coisa andou rápido e logo eu estava novamente na rua voltando para casa.
Ainda na saída, avistei a moça de olhos verdes, segurando um capacete de motoqueiro ,que me perguntou sorrindo:--Deu certo?
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